Por: Jorge Mallmann
Devoção, promessas e encenação da via crúcis: a romaria ao Botucaraí
Pessoas de diferentes cidades e com variadas motivações reeditaram a tradicional peregrinação ao morro na Sexta-Feira Santa
Uma das mais tradicionais peregrinações da Sexta-Feira Santa do estado levou mais uma vez um grande contingente de pessoas ao morro Botucaraí na sexta, 14. A programação religiosa aconteceu pela manhã e o público teve alguma dificuldade para chegar em função do grande movimento de veículos. Na parte final até o pé do morro, chegou a ocorrer um congestionamento em função do deslocamento em sentido contrário de alguns carros. Numa rápida visualização das placas, a reportagem da Folha identificou visitantes de Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, Sobradinho, Rio Pardo, Cachoeira do Sul, entre outras cidades da região. Como acontece sempre, as motivações do público são variadas. Há os que são atraídos pela simples tradição do lugar e a grande concentração popular, abrindo espaço, inclusive, para a exploração comercial. Muitos, no entanto, cumpriram uma missão de fé, através do pagamento de promessas e recolhendo um pouco da água da fonte que, para muitos, têm poderes de cura. É o caso, por exemplo, das agricultoras Ângela Pereira Brum, de 46 anos, de Rio Pardo, e Maria Ivone Wollmann, 56, de Herveiras, que vieram pagar promessas por graças alcançadas e foram encontradas pela reportagem na fila para pegar água da fonte. Já Fernando Góes, de 52 anos, mora em Joinvile/SC e por ter um irmão em Santa Cruz do Sul ouviu falar da tradiional romaria ao Botucaraí. Para ele, a tradição em torno do monge e a cultura popular trazem um caráter sagrado único para o evento.
E a ligação do monge João Maria de Agostini com o morro Botucaraí trouxe também ao local uma produtora de Florianópolis. Conforme a Folha apurou, a Plural Filmes está trabalhando em um documentário sobre a vida do monge. A equipe acompanhou de perto a encenação da Paixão e Morte de Cristo, iniciada um pouco adiante das 10h, a cargo do Grupo de Teatro Municipal Cara e Cor’agem. E, mais uma vez, o realismo das cenas do sofrimento de Jesus emocionou o público, que acompanhou com atenção toda a dramatização da chamada via crucis. Chamou também especial atenção, a qualidade do texto e a criatividade do enredo, que apresentou como narrador o grande vilão da história: o apóstolo Judas Iscariotes. Como foi mostrado, Judas foi vítima de sua ganância e ambição. Nestes tempos de corrupção desenfreada no Brasil, não deixou de ser uma interessante reflexão sobre as fraquezas humanas. Após, a encenação - bastante aplaudida pelo público - a igreja católica realizou ainda uma celebração, que incluiu a tradicional bênçãos de chás e das águas. Depois, muitas pessoas ficaram na fila para cumprir outra devoção de fé: a reverência ao Senhor Morto, feita em uma imagem posicionada em frente ao altar. Na noite de sexta, a partir das 19h30, está prevista outra apresentação da encenação, desta vez na rua coberta .(veja na edição impressa da Folha - que circula na quinta, 21 - mais detalhes de toda a movimentação no morro Botucaraí e no centro da cidade)