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Colunista 23/03/2017 10:19
Por: Wagner Azevedo

Quais são os projetos que geram vidas?

Existem determinados desafios que aparecem cotidianamente, aceitos por nós ou não, ou construídos e apropriados às nossas vidas. O enfrentamento aos desafios não é uma questão binária de aceitá-los ou não, mas sim uma dúvida do como caminhar por esses. Nessa caminhada construímos projetos. Lançamos nossas vidas a frente, a um horizonte desconhecido, somente sonhado e projetado.

A percepção da caminhada em direção ao horizonte faz-se parte importante de qualquer projeto que tenhamos. Projetos científicos encalcam as possibilidades metodológicas de seguir determinadas teorias e conceitos na falseabilidade de hipóteses ou um projeto empresarial exige recursos materiais e humanos para sua execução. Entretanto, ao acreditar-se que o projeto lança-se a um horizonte pouco definido, acredita-se que ele viverá no seu percurso, independente do seu sucesso final. Assim dizemos que o projeto precisa ser um Projeto de Vida.

Projetos de Vida assumem esta como o fim e sujeito maior. O pertencimento do projeto antes de tudo é da vida. Como encalcamos nossos projetos científicos, empresariais, políticos e/ou pessoais protagonizando a vida? Qual clareza temos da caminhada em vista à vida que o projeto envolve e à vida comum que circunda? Assim possamos refletir à nossa conjuntura: que projetos de vida existem em voga? Existe um Projeto de Vida do Estado Brasileiro? Se existe, que vidas se lança ao horizonte?

A Folha de Candelária, por exemplo, renova o seu Projeto de Vida, com 31 anos, fortalecendo-se e preocupando-se com a vida que pode ser manifestada pela informação, no papel-impresso e meios digitais. Assumo aqui esse desafio, como jovem privilegiado a compor esse projeto, do compromisso com a vida daqueles e daquelas vulneráveis pelos poderes que corroem e que projetam apenas as suas mortes.

Vidas vulneráveis são as vidas dos 30 mil jovens assassinados por ano no Brasil, segundo o Mapa da Violência de 2016, feito pelo IPEA. Quais 77% destas vidas são de negros e de negras. As estatísticas estimam a morte de um jovem negro a cada 23 minutos. A cada 23 minutos no nosso país, um projeto de morte prevalece a pelo menos um Projeto de Vida de alguém sem oportunidade de lançar-se ao horizonte.

Possamos nos indignar com os projetos de morte, porém comungar os Projetos de Vida, com a Folha, com os leitores, com as excluídas e os excluídos dos nossos projetos de Brasil.