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Opinião 11/04/2017 08:12
Por: Redação

Os novos prefeitos e o povo

É momento de ter a certeza no serviço, de trabalhar em favor do bem comum, de se dedicar pelo povo durante o prazo determinado que se iniciou agora, em 2017

Por Prof. MSc. Eng. Daniel Brinckmann Teixeira
Brasileiro, Gaúcho e Candelariense
Daniel-Teixeira@Uergs.edu.br 


“Me chamam de boca braba
Esta gente está enganada
Eu tenho é boca de homem
E tenho opinião formada
Sei qual é a boca que explora
Sei qual é a boca explorada
E é melhor ser boca braba
Do que não ter boca pra nada”
(“As razões do Boca Braba”, por João de Almeida Neto)


Passado o dia 02 de outubro de 2016 e definidas as eleições para prefeitos e vereadores nos municípios brasileiros, é hora de colocar em prática os compromissos assumidos. É momento de ter a certeza no serviço, de trabalhar em favor do bem comum, de se dedicar pelo povo durante o prazo determinado que se iniciou agora em 2017, se estendendo até 2020. Após o ano de 1988, o brasileiro retomou o direito de eleger seus políticos, que, após se candidatarem ao voto do povo em eleições diretas, recebem o poder de exercerem um mandato. Com o advento da Constituição, colocamos fim à ditadura e reouvemos nossa democracia. Enfim livres para exercer a cidadania e manifestar nossas opiniões. Enfim livres para demonstrar o nosso poder através do voto democrático (e suas nuances). Além disso, enfim livres, também, para concordar, discordar e opinar, auxiliando a escrever as páginas da história desse país, dessa nação à qual chamamos Brasil.
Isso fica bastante evidente lendo as palavras do jornalista Marco Antônio Mallmann, redigidas nesse mesmo ano de 1988 (ano de redemocratização no Brasil), em sua obra “O mundo em transformação” (organizado pela escritora candelariense Marli Marlene Hintz). A conjuntura do ano era ditada pela Assembleia Constituinte, aprovando a construção do documento que nos trouxe as eleições diretas, e porventura traria todo o progresso que se espera de uma nação democraticamente organizada. Aqui, o jornalista Marco se utilizava das palavras publicadas na Folha de Candelária para fazer valer o seu direito de cidadão e profissional do jornalismo. Em alguns textos, com a linguagem um pouco mais ácida, confrontava e exigia responsabilidade de nossos políticos durante suas administrações, ao mesmo tempo em que alertava para a parcela de contribuição necessária por parte da população. Acredito que, quando o Marco deixou este plano, deixou também um vazio no jornalismo, em virtude do precioso espaço que ocupava na Folha. Eu era muito novo, não me lembro dele pessoalmente, mas seguido me pego devaneando, a imaginar o contexto diário que o impulsionava a escrever essas crônicas. São crônicas como essa que transcrevo a seguir, que se intitula “Os novos prefeitos e o povo”, localizada na página 129 de seu livro, no capítulo “A Política e seus reflexos”. Foi escrita em 24 de novembro de 1988.


“Imagino, até com certa curiosidade, o que se passa na cabeça de cada um dos prefeitos eleitos no último 15 de novembro. Todos eles terão dias muito cheios nos próximos quatro anos. Se não bastassem as responsabilidades de organizar e formar uma equipe de trabalho, de colocar uma grande máquina administrativa em funcionamento, de dar atenção aos mais diferenciados setores, de saber ouvir e de saber propor, existe um compromisso maior que tudo e que traduz todas essas atribuições: a responsabilidade com o povo, que confiou em sua capacidade de trabalho.


Imagino, ainda, que, misturadas a uma vontade muito grande de trazer progresso, paz, harmonia e desenvolvimento à gente de sua terra, os novos prefeitos tragam, no seu íntimo, algumas rugas de preocupação.


Afinal, administrar um município, seja qual for, não é tarefa fácil. É por isso que imagino que os novos prefeitos, todos, sem exceção, esperem contar com a ajuda e colaboração de todos os cidadãos de seus municípios.
 

Também aqui, passadas as eleições e com elas a paixão pela disputa, é hora de reunir os espíritos em torno de um ideal que é o de todos: o bem comum, o futuro de Candelária. É hora de visar não ao interesse pessoal, o favor, o privilégio, mas o todo, o coletivo. É hora de pensar em nós como povo, ao invés de meros indivíduos.
 

Por isso, devemos exigir do Prefeito, sim. Devemos esperar as soluções para os nossos problemas, sim. Devemos criticar quando entendemos que algo está errado, sim. Mas devemos, sobretudo, participar dos destinos do município, dando a nossa parcela de contribuição. Tenhamos votado ou não no candidato vencedor, ele não é mais agora um candidato: é o prefeito e, como tal, deve receber, pelo menos, um voto de confiança.
 

As eleições municipais estabeleceram, de fato, uma nova realidade política no país. O Brasil, é, agora, um grande e colorido leque de siglas e partidos, que dão nova perspectiva às eleições presidenciais do próximo ano. Com quase quatro anos no poder, o Governo Sarney apenas provou que o novo já nasceu velho. Por isso, imagino que sejam poucos os corações brasileiros que não batam pelo futuro, esperando uma eleição direta que possa redimir o Brasil como nação.” 

Imagino a decepção do Marco com essa tal democracia de hoje. Quase três décadas após esse texto, e alguns presidentes eleitos (e depostos depois), o Brasil ainda busca a redenção como nação que vive em livre estado democrático de direito. Que lucidez a desse jornalista e que atuais continuam as suas palavras! Esperamos pela redenção ainda, Marco, e quem sabe a partir de 2017 o novo deixe de nascer velho, fazendo valer o dito cujo e afamado bem comum do coletivo.

Aguardamos ainda, bastante apreensivos, respostas e posicionamentos dos poderes executivo e legislativo, quanto a questão do rio Pardo. Como muito bem posto pelo jornalista Marco, lá no longínquo ano de 1988, precisamos esperar as soluções daqueles problemas/situações que entendemos (e confirmamos!) estarem erradas no município, participando das possíveis resoluções. Como um voto de confiança soberano, acreditamos no trabalho sério que pode ser feito em torno do rio Pardo, pela atual administração municipal.

Qualquer investimento (em obras diretas de recuperação e, de forma mais do que especial, na educação escolar) que vislumbre a melhoria da qualidade ambiental em favor do rio é muito bem-vindo. O retorno é garantido, além, é claro, da excelente relação custo-benefício que apresenta: preservamos o recurso natural garantindo água para as gerações futuras (nosso filhos, netos e descendentes remotos). De quebra, ainda, podemos partir para a mineração das rochas abundantes em outros pontos do município, bem distante do nosso precioso rio, pois a tecnologia necessária para viabilizar isso já existe faz um bom tempo. Esse tipo de extração mineral custa mais dinheiro do que tirar cascalho direto do leito do rio. Entretanto, sem sombra de dúvida, seu custo é muito menor do que aquele necessário a uma eventual recuperação ambiental, indispensável em um futuro não muito distante.

Iniciando essa labuta, senhor prefeito, e sendo acompanhado dos estimados vereadores, lhes agradeceremos por todo o sempre pelo extraordinário feito realizado. Do contrário, o lugar lá em cima não lhes é garantido e, por hora, lhes fica imputado esse estigma como legado: um rio deteriorado ativamente pelas administrações municipais, com ênfase a partir da década de 1990, acentuando-se bastante nos anos 2000 e degringolando para a atrocidade absurda total nas gestões 2013-2017. Estamos aí para isso, jornalista Marco, estamos aí para isso...

OBS: A Campanha da Fraternidade da CNBB deste ano (a exemplo do ano passado) coloca em voga as questões ambientais tendo como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e, como lema, “Cultivar e guardar a criação”. Excelente momento para uma parceria que possa de fato praticar a conservação, estimulando ações que reduzam nossas influências danosas sobre o equilíbrio do ambiente. Que a campanha tenha vida longa e não se encerre em 2018! Que possamos envolver escolas, administração municipal, empresários, instituições públicas legalmente constituídas, igrejas e seus fiéis, cidadãos de Candelária, em torno desse ideal comum.