Logo Folha de Candelária
Geral 27/06/2025 09:36
Por: Isabel Bohrer Porto

Orgulho LGBTQIA+

“Mais do que resistir, só quero viver em paz”, diz jovem trans

  • Foto: Isabel Bohrer | Folha
  • Foto: Isabel Bohrer | Folha
  • Foto: arquivo pessoal | Amanda

Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, a história de Amanda Quevedo Nitz, de 21 anos, ganha voz em Candelária. Moradora do interior do município, Amanda compartilha sua vivência como mulher trans, os desafios enfrentados ao longo da transição e o desejo de representar quem ainda busca se reconhecer em um cenário onde a diversidade de gênero e sexualidade ainda é cercada de tabus, especialmente em cidades do interior.

Desde cedo, Amanda sentia que algo não se encaixava. Aos 12 anos, surgiu a primeira dúvida sobre sua identidade ao perceber atração por meninos, mas não havia referências ou espaços seguros para compreender o que sentia. “Sempre senti que precisava viver com verdade”, relembra.

Aos 14, contou aos pais que fazia parte da comunidade LGBTQIA+. Com maturidade, enfrentou a resistência inicial com firmeza e paciência. Aos 15, teve seu primeiro contato com a vivência trans ao assistir a vídeos da youtuber Mandy Candy. Foi um despertar. Dois anos depois, já compreendia quem era, mas ainda não conseguia se assumir totalmente.

Somente aos 18 anos, após conquistar sua independência com o primeiro emprego, Amanda deu início à transição hormonal. Começou de forma solitária, sem acompanhamento médico, atitude que hoje não recomenda. “Eu fiz isso sozinha no começo, mas entendi o risco. Não aconselho ninguém a fazer sem orientação. É perigoso”, alertou.

A partir daí, Amanda procurou ajuda pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e encontrou acolhimento em Candelária. Foi encaminhada ao Ambulatório Trans de Santa Maria, onde atualmente recebe acompanhamento médico e psicológico.

Um dos marcos mais significativos em sua trajetória foi a inclusão do nome social nos documentos. “Foi mais fácil do que eu imaginava. Fui até o Sine de Candelária e me atenderam super bem. Parece um detalhe, mas representa tudo para nós”, conta Amanda.

Hoje, acima de tudo, o que Amanda mais sonha é ter uma vida comum, com casa, filhos e uma família. “Mais do que resistir, eu só quero viver em paz. Eu ainda quero essas coisas na vida. Eu sinto que eu mereço”, afirma. Refletindo sobre a sua trajetória, vê que sua luta pode servir de inspiração. “Quando eu era criança, não tinha ninguém como eu por perto. Mas agora, talvez alguém me veja e perceba que também pode ser feliz”, conclui.