Por: Isabel Bohrer Porto
Orgulho LGBTQIA+
“Mais do que resistir, só quero viver em paz”, diz jovem trans
Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, a
história de Amanda Quevedo Nitz, de 21 anos, ganha voz em Candelária. Moradora
do interior do município, Amanda compartilha sua vivência como mulher trans, os
desafios enfrentados ao longo da transição e o desejo de representar quem ainda
busca se reconhecer em um cenário onde a diversidade de gênero e sexualidade
ainda é cercada de tabus, especialmente em cidades do interior.
Desde cedo, Amanda sentia que algo não se encaixava. Aos 12
anos, surgiu a primeira dúvida sobre sua identidade ao perceber atração por
meninos, mas não havia referências ou espaços seguros para compreender o que
sentia. “Sempre senti que precisava viver com verdade”, relembra.
Aos 14, contou aos pais que fazia parte da comunidade
LGBTQIA+. Com maturidade, enfrentou a resistência inicial com firmeza e
paciência. Aos 15, teve seu primeiro contato com a vivência trans ao assistir a
vídeos da youtuber Mandy Candy. Foi um despertar. Dois anos depois, já
compreendia quem era, mas ainda não conseguia se assumir totalmente.
Somente aos 18 anos, após conquistar sua independência com o
primeiro emprego, Amanda deu início à transição hormonal. Começou de forma
solitária, sem acompanhamento médico, atitude que hoje não recomenda. “Eu fiz isso
sozinha no começo, mas entendi o risco. Não aconselho ninguém a fazer sem
orientação. É perigoso”, alertou.
A partir daí, Amanda procurou ajuda pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) e encontrou acolhimento em Candelária. Foi encaminhada ao
Ambulatório Trans de Santa Maria, onde atualmente recebe acompanhamento médico
e psicológico.
Um dos marcos mais significativos em sua trajetória foi a
inclusão do nome social nos documentos. “Foi mais fácil do que eu imaginava.
Fui até o Sine de Candelária e me atenderam super bem. Parece um detalhe, mas
representa tudo para nós”, conta Amanda.
Hoje, acima de tudo, o que Amanda mais sonha é ter uma vida
comum, com casa, filhos e uma família. “Mais do que resistir, eu só quero viver
em paz. Eu ainda quero essas coisas na vida. Eu sinto que eu mereço”, afirma.
Refletindo sobre a sua trajetória, vê que sua luta pode servir de inspiração.
“Quando eu era criança, não tinha ninguém como eu por perto. Mas agora, talvez
alguém me veja e perceba que também pode ser feliz”, conclui.