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25/08/2009 16:56
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Causas e efeitos do inverno (ou Retiro nos alcouces)

Diz a lenda que invernos rigorosos trazem reflexos positivos; pelo menos o setor ligado à moda não tem do que se queixar. Como tenho um olhar oblíquo sobre as coisas, observei dia desses que, na contramão desta premissa, a estação fria é um período muito difícil para muitos, principalmente para as garotas de programa. Nesta época, a freguesia nas lojas de gurias escasseia porque, além do frio, está todo mundo literalmente pelado – aqui a conotação do “pelado” é sem dinheiro. O deslocamento diário me permite algumas ponderações – aqui leia-se vir para o trabalho e voltar, e não ir à zona –, senão vejamos. Sob a luz do sol, não tenho visto mais as gurias em frente às casas na beira da estrada, o que me leva a crer que esteja faltando até erva para o chimarrão. Ao breu, quando passo por ali não tenho mais visto as luzinhas coloridas, sinal de que estão economizando até na conta de energia.
Mas não são só as gurias “fixas” das lojas que tem estes problemas, aquelas que fazem ponto aqui pelo centro também se dão mal de vez em quando. Há duas semanas, mais ou menos, num dia fez calor, frio e choveu, tudo isso em questão de horas. Começou quente pela manhã e ao meio-dia estava um frio danado quando duas dessas meninas passaram por mim. Aquelas pobres moças com as pernas à mostra e trajes sumários que vieram à cidade para ganhar o seu dinheirinho suado (sic) tiritavam de frio e foram impelidas pelo vento a voltar para casa para colocar roupas mais quentes; decerto até ficaram por lá, comendo amendoim torrado na chapa do velho fogão à lenha. Aquilo me cortou o coração, e até esqueci os efeitos do minuano, que deixou nas laterais deste porongo pensante duas pedras de gelo em forma de orelhas. Que inverno nocivo este nosso!
Pensei: como laranjas são compradas pelo aspecto exterior, as meninas são avaliadas pelos consumidores clientes da mesma forma. Comiserado, avaliei: elas não irão atrair a atenção de ninguém com grossos casacos, calças de lã, gorros e outros acessórios que não deixam à mostra seus dotes físicos. Ninguém compra flores pelo ramo que as sustenta. Melhor ficar em casa e economizar o dinheiro da passagem; amendoim é bem mais em conta. Daqui a alguns dias, ao mesmo tempo em que as árvores irão cobrir-se de folhas, paulatinamente estas moças irão descobrir-se das vestes e seguir seu fadário. Certamente só os mais apaixonados olharão para as flores; outros, que preferem beber ternura e comprar carinho, ao verem as meninas quase desnudas, dirão: chegou a primavera. Na mesma linha de raciocínio, direi eu: não tem nada que diga quando começa o horário de verão?

Campeando
O rapaz aqui, há alguns anos, está em busca da poesia intitulada “Identidade”, do Jayme Caetano Braun. Não lembro de toda ela, mas a primeira estrofe diz assim:
“O destino acolherou-me
ao velho rio Uruguai,
na ânsia de todo pai,
que quer ter um filho homem,
pra que saiba honrar o nome
e amar a terra sem medo,
e sendo assim, desde cedo,
o guri, venta rasgada,
se fez amigo da indiada,
e amante do chinaredo”.
Se algum dos amigos tiver e quiser compartilhar, pode mandar para o e-mail aí de cima. Vale um Ki-Suco de groselha e um chiclé Tremendão. E só pra constar, não tem nada a ver com o assunto das chinas de que tratei antes.

Da série “trocadilhos”
As músicas do Maurício são ruins de Mattar. Captaram?