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25/08/2009 16:56
Por:

Por falar em car?ter

O bom administrador deve dar muita atenção ao caráter do escolhido para ocupar um cargo de confiança. O cargo é da confiança do administrador e não se deve confiar no sujeito de má índole. Mais hoje, mais amanhã, quando menos se espera, o mau-caráter mostra as unhas.
O escorpião é o símbolo vivo do mau-caratismo. Leia a história que eu vou contar.
O escorpião necessitava cruzar o riacho, mas não sabia nadar. Olhava nostálgico para a outra margem e não vislumbrava solução. Deslizou sorrateiro pela beira do riacho até encontrar uma Rã que coaxava serena à sombra de um sarandi.
- Dona rã, - falou o escorpião, todo reverente, postura padrão dos traidores - a senhora pode me dar uma carona até a outra margem? Quero visitar meus parentes que moram lá no outro lado, mas não sei nadar.
A rã olhou desconfiada para o escorpião e respondeu: - Poder, eu posso, mas não devo me arriscar. Conheço suas características, já me falaram a seu respeito, o senhor é perigoso. Eu tenho medo. O senhor pode me ferroar. O seu ferrão é venenoso e, se me picar, eu morro envenenada.
O escorpião não se deu por vencido: - Não, dona rã, eu não vou lhe ferroar, juro que não. Raciocina comigo, dona rã: se eu lhe ferroasse a senhora morreria envenenada e eu morreria afogado. Se eu lhe matasse envenenada estaria cometendo suicídio, e eu não quero morrer. Não quero. Só quero visitar meus parentes e não sei nadar. Por favor, me dá uma carona.
A rã ficou com pena. O coitado só queria visitar os parentes. O bom senso lhe aconselhava não correr riscos, mas o coração...
- Está bem, - disse a rã - o senhor sobe no meu dorso e eu vou lhe transportar até a outra margem.
Assim foi feito. No meio do caminho, o escorpião, que mantinha a cauda arqueada para cima, empertigou-se todo, segurou a pele da rã com as pinças dianteiras e cravou o ferrão venenoso no lombo dela. Ainda deu tempo, antes de morrer envenenada, de a rã perguntar: - Por que o senhor me picou? O senhor não tem bom senso? Agora eu vou morrer envenenada e o senhor vai morrer afogado. Que loucura!
Ela não ouviu a resposta, não deu tempo, a morte veio antes. Mas o escorpião, antes de submergir afogado, debatendo-se nos estertores, ainda respondeu: - Eu lhe ferroei por uma questão de índole. Não consegui me controlar. A senhora não deveria ter confiado em mim. Todo o Escorpião, por caráter, age assim, e eu sou um escorpião, eu era um escorp... glug... glug... glug...

Edemar Mainardi • Engenheiro Civil