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25/08/2009 16:56
Por:

O h?bito n?o faz o monge

Gostaria de não ter olhar clínico para deixar despercebidas certas coisas, mas o dom (ou seria um defeito?) não deixa passar nada. Passo, olho, observo e guardo; quando posso, compartilho, quando não, deixo em segredo. Cenas corriqueiras do cotidiano podem se transformar em crônica, um limão se transforma em limonada ou um pé de galinha vira uma sopa, dependendo do ponto de vista. Me chamou a atenção dia desses um grupo de crianças que caminhava acompanhado pela professora pela rua. Três meninas de mãos dadas caminhavam ao fim da fila quando a quarta se aproximou, estendendo a mão para uma delas. A mãozinha ficou balançando no ar, já que a menina para quem a alcançou fez pouco caso e virou a cara, decerto porque tinha as outras duas como mais importantes. Até então feliz por encontrar as pseudo-amigas, o semblante da menininha ganhou nuance tristonho, mas mesmo assim seguiu ao lado, com a mão no bolso, decerto esperando uma chance de ser integrada ao grupo. E se foram, e eu segui meu rumo. Evidentemente na tenra idade em que estão, estas crianças muito pouco sabem sobre relações humanas, assim como fica evidente que os preceitos que formam o caráter são moldados em casa. “Anda com a fulana, porque ela tem roupa da moda”, ou então, “anda com a beltrana, porque ela é filha do cicrano” são, infelizmente, os conceitos de hoje. As pessoas cada vez mais são julgadas pelas aparências ou pelo que têm do que pelo que realmente são. O bolso, ah, o bolso! Fiquei lembrando que talvez os pais da menininha excluída não tivessem o dinheiro necessário para vesti-la com roupas da moda e comprar amizades, ou talvez em sua casa outros valores se sobrelevem às futilidades e modismos efêmeros. Depois da cena, fiquei torcendo para que o futuro reserve à menininha tesouros bem mais importantes do que amizades por conveniência, como a inteligência e a dádiva do perdão. Estes ninguém pode comprar.