Retrato do descaso

“Enfim, a recuperação da RS 400”. O título da matéria publicada pela Folha em 11 de setembro desse ano sugeria que finalmente teria início o trabalho de recuperação da rodovia que liga Candelária a Sobradinho. A precariedade do trecho é evidenciada por uma sucessão interminável de buracos que, além de testar a resistência de veículos, coloca à prova também os nervos dos motoristas. Infelizmente, porém, a reportagem frustrou expectativas à medida que trouxe informações que acabaram não se confirmando. O Daer anunciara que uma equipe de 20 homens iria recuperar o trecho de 26 km entre Candelária e Vila União. O engenheiro Leonardo Amaral Ribeiro chegou a dizer que não seria um simples tapa-buracos. Uma nova camada de asfalto daria mas qualidade e durabilidade à pista de rolamento. O trabalho prometido se limitou a um pequeno trecho de 1,5 km na saída de Candelária (pela rua Lopes Trovão). Depois, a rodovia voltou a ser esquecida e, de lá para cá, a situação piorou ainda mais.
Nessa semana, um protesto bem humorado chamou a atenção de quem passou pelo local. Em local próximo à igreja da comunidade Bom Pastor da Vila Passa Sete, uma pequena árvore fixada sobre uma das pistas de rolamento denunciava o descaso do Estado com a realidade flagrantemente insustentável da rodovia. Placas de “Preserve a natureza” completaram o cenário montado por moradores próximos para rir da própria desgraça.
Através de e-mail enviado para a redação da Folha e para jornais de circulação regional e estadual, Catiúcia Türk dá voz à silenciosa indignação de quem convive diariamente com a rodovia em péssimas condições. “Circo! Esta é a realidade. E nós somos os personagens princiais: os palhaços”, ironiza. Ela lembra que há pessoas que precisam de seus carros inteiros para poder trabalhar. “Mas o que estamos vendo diariamente são inúmeros carros quebrados devido às péssimas condições de tráfego. De que adianta tapar os buracos se na próxima chuva está novamente a mesma coisa?”, questiona.

A palavra do Daer
Tudo indica que o Estado, através do Daer, irá mais uma vez dar uma solução paliativa para a situação. Diferente do que anunciou em setembro, o 3º Distrito Operacional do Daer, sediado em Santa Cruz do Sul e responsável pela manutenção da RS 400, não irá colocar nova camada asfáltica na rodovia. Segundo informou na terça-feira, 13, o diretor geral Gilberto Cunha, dependendo de condições climáticas favoráveis à realização dos serviços, o Daer iniciará na próxima semana operação tapa-buracos na rodovia. “A previsão é de que os trabalhos sejam concluídos em uma semana, possibilitando melhores condições de trafegabilidade no trecho de aproximadamente 26 km”, ressaltou. Ficam no ar algumas perguntas: será esta a melhor solução? Por que a demora em solucionar ou amenizar uma situação cuja gravidade salta aos olhos? Terá o Daer na região outra obra que exige atenção mais urgente do que a RS 400?