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25/08/2009 16:56
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A morte de Rog?rio Jacobi

Até seus amigos admitiam que ele tinha vocação para a polêmica. Com este perfil, Rogério da Silveira Jacobi vivia cercado por relações de conflito. No domingo, 9, um novo episódio conturbado de sua existência terminou com um desfecho trágico. Após brigar com a ex-esposa e parar na Delegacia de Polícia, ele se matou com um tiro de espingarda de caça, calibre 20, na boca. O episódio que culminou com a morte do vereador do PP, de 46 anos, deixou perplexa a comunidade.
A cronologia do suicídio iniciou ainda na noite de sábado, 8. A narração dos fatos feita a seguir é baseada em relatos repassados à reportagem e em informações policiais. No dia anterior à sua morte, Jacobi deixou transparecer a vontade de não concorrer à reeleição nas eleições do próximo ano. Hoje, não se sabe ao certo a motivação de tal decisão: a desistência era política ou tinha a ver com a atitude drástica que viria a tomar horas depois? O certo é que o vereador chegou no baile realizado no ginásio do Minuano após a meia-noite. Mais tarde chegaria no local sua ex-esposa, Jaqueline Aparecida de Oliveira Netto, de 34 anos.
DISCUSSÃO - No local eles foram vistos conversando. Por volta das 5h15min Jacobi chegou ao posto Candepotencial, onde teria discutido com pessoas que freqüentavam o local. Depois, Jaqueline chegou no mesmo local, acompanhada por amigas e lá teria tido uma discussão com o ex-marido. Algum tempo depois, ao chegar em casa, Jaqueline foi surpreendida com a presença de Jacobi, que teria passado a agredi-la ainda na rua. Uma pessoa que presenciou o fato acionou a Brigada Militar. Uma viatura chegou sem demora ao local. Segundo foi apurado pela reportagem, a porta da frente do imóvel – onde também funciona o Jornal de Candelária – estava aberta. Dentro, os policiais encontraram diversos objetos revirados no chão.
Em meio à escuridão do ambiente, uma outra cena chamou a atenção. Consta que Jacobi estaria tentando estrangular a ex-mulher. Imediatamente, os policiais interviram e o vereador teria, num primeiro momento, desfalecido. Depois, recebeu voz de prisão e foi conduzido ao hospital. Jaqueline, bastante abalada e apresentando contusões na altura da cabeça, também foi levada ao hospital. De lá, ambos foram para a Delegacia de Polícia, onde foram ouvidos pelo plantão e depois liberados.

ÚLTIMAS CERVEJAS - Já passava das 8h15min quando Jacobi deixou a DP. Na seqüência teria passado no Supermercado Wollmann, onde comprou cervejas. Teria comentado que seriam as últimas que beberia. Depois foi até sua residência, na rua Lopes Trovão, 246, de onde não saiu mais com vida. O filho Roger foi avisado de que o vereador não estava atendendo o celular. Ao chegar ao local, por volta das 12h30, ele teria encontrado o pai no quarto da casa, já sem vida e com a arma sobre o corpo.

Depoimentos controversos
No seu depoimento ao escrivão de polícia, Jaqueline contou que esteve casada durante cinco anos com o vereador Rogério Jacobi, e que no dia 3, assinaram os papéis da separação judicial. Na noite de sábado, 8, ela contou que participou de uma festa no Piscina Tênis Clube, saindo dali para ir ao baile no ginásio do Minuano, onde Jacobi também estava. Dizendo-se perseguida pelo ex-marido, ela resolveu sair do local e ir até o Posto Candepotencial, no Rincão Comprido. Em dado momento, Jacobi teria se dirigido a ela, proferindo insultos. Diante disso, ela resolveu ir para sua casa, aos fundos do Jornal de Candelária. Ao chegar, Jaqueline teria sido surpreendida por Rogério e começado as agressões físicas na parte do prédio em que funciona a recepção do jornal. Ela considerou que reagiu às agressões, que somente não tiveram conseqüências mais drásticas por causa da chegada dos policiais militares.
Já Rogério Jacobi contou outra versão, que teria encontrado Jaqueline no baile e conversado amigavelmente com ela. Ele salientou que Jaqueline teria dito que precisava conversar com ele, e teriam marcado um encontro na casa dela, lembrando que durante os 13 meses que estiveram separados ainda se encontravam eventualmente. Ao chegarem lá, eles teriam iniciado uma discussão e se agredido mutuamente. Jacobi confirmou que a briga teve início na recepção do jornal e que ficou ferido. Segundo narrou, ele teria desmaiado e acordou somente quando os policiais chegaram.

Consternação e muita emoção na despedida
Com as dependências da Câmara de Vereadores sempre lotadas, o corpo do vereador Rogério Jacobi foi velado a partir das 18h30 de domingo no plenário da casa. Às 10h da manhã de ontem, seguiram-se os pronunciamentos conduzidos pela radialista Suzana Couto da Silva, em clima de consternação. O primeiro a se pronunciar foi o deputado Luiz Carlos Heinze; depois, seguiram-se as manifestações do vereador Cristiano Pinto Becker, representando a Câmara de Vereadores, do vice-presidente do Sinfucan, Carlos Clécio Carvalho, e de Suzana Couto representando o Partido Progressista. Por solicitação da família, Carlos Nunes Rodrigues deixou uma breve mensagem espírita e convidou a todos para orarem em favor de Rogério, encerrando com a despedida dos amigos, colegas e familiares. Depois, um grande cortejo acompanhou o corpo, que foi conduzido para o sepultamento no Cemitério Municipal de Candelária. Ele deixa enlutados o filho Roger, a mãe Lecy Jurema da Silveira, os irmãos Luís Carlos, Flávio e Beatriz.
SUBSTITUIÇÃO - O falecimento de Rogério Jacobi vai gerar uma alteração na composição da Câmara. A vaga aberta será preenchida por Marco Antônio Larger, o primeiro suplente eleito pelo PP. Em razão da morte do vereador, a prefeitura decretou ponto facultativo na segunda-feira. A sessão de ontem do Legislativo foi suspensa.

Um histórico de lutas e polêmicas
Nascido no dia 10 de junho de 1961, o vereador Rogério Jacobi marcou sua atuação política por um estilo combativo, exercitado sobretudo nas manifestações da tribuna da Câmara de Vereadores. Conquistou uma representatividade política baseada na bandeira dos servidores municipais, que alçaram o também servidor à presidência do Sinfucan, tendo sido reeleito por várias vezes. Dali para a política foi apenas um passo. Concorrendo a uma vaga na Câmara em 2000 e fazendo 408 votos, ficou como primeiro suplente do atual Partido Progressista. Em 2004, assegurou a vereança contabilizando 762 votos. Atualmente, era o primeiro secretário da União dos Vereadores do Rio Grande do Sul, a Uvergs. Nos últimos anos, o vereador também esteve envolvido em algumas polêmicas. Na véspera das eleições de 2004, garantiu que sofrera um atentado que teria conotação política quando sua casa foi alvo de dois disparos de arma de fogo. Segundo a ocorrência policial, um dos tiros teria atingido a cabeceira da cama em que dormia. Depois, virou manchete nacional ao ser flagrado pela reportagem da RBS TV caminhando pela praia de Camboriú durante a realização de um curso de que participava representando a Câmara de Candelária. Em março de 2007, se envolveu em uma briga na qual foi acusado de disparo de arma de fogo contra um pintor na Avenida Pereira Rego. O pintor cobrava o serviço prestado na casa de Jacobi enquanto este se negou a pagar, sob a alegação da execução mal feita. A arma de Jacobi, um revólver calibre 38, foi apreendida pela polícia, mas Jacobi disse que não foi o autor dos disparos
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