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25/08/2009 16:56
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Parte III (e ?ltima) - A limpeza dos peixes e do corpo

 Todo o pescador é fominha e quanto mais peixes, melhor. O problema é que quanto mais se pega peixes, mais trabalho dá para limpar. São inúmeros cortes nos dedos, é aquela raspação com escama grudada no focinho da gente, peixe liso escapando para dentro do açude, sovela grudada no dedão do cara e por aí vai. Por isso que às vezes as amadas e compreensivas esposas de pescadores não conseguem entender como uma turma de barbados sai sozinha e vai para a beira do açude passar trabalho e gastar um montão de dinheiro para voltar podre de cansado, sujo e fedendo a fumaça que mais parece uma lingüiça recém-defumada. Pois saibam que todo este trabalho é diretamente proporcional à desopilação, ou seja, quanto mais a gente se judia, mais fica com a cabeça fresca, e peixe fresco é outra história, caríssimas senhoras. Evidentemente que um sambinha e uma cerveja ajudam no processo de desopilação, mas nem tudo é trago. No entanto, a limpeza dos peixes, a lavação da louça, o juntamento da tralha, aquela graxa de carne gorda em cima da mesa, a barraca em cima da bosta de vaca, nada, nada disso tem comparação com a limpeza pessoal. A maior judiação para mim, pelo menos, é chegar em casa sob efeito da ressaca e ter que fazer a faxina no corpo. Mas de tanto pescar, tenho uns macetes bem legais que vou repartir de graça com vocês, diletos leitores. (Parêntese: eu fazia um tempão que queria usar a palavra “diletos”, como fazem aqueles uns que apresentam programas de reza nas rádios (“queridos”, “amados”, “estimados”, “ermãos”, etc...)). Em primeiro lugar, há de se dizer que unha de pescador não é que nem unha de fresco, que se limpa da noite para o dia, portanto, vamos primeiro à limpeza dos cascos, que é no que viram os pés com aquele barro de açude. Para isso, pegue umas botas pretas daquelas Séte Léguas e coloque água até a metade. Depois, coloque meio copo de sabão em pó e acrescente um bom tanto de saponáceo e quiboa (isso é uma receita para cada bota). Coloque nos pés (uma em cada pé) umas meias pretas (tem que ser pretas, porque se forem brancas vão ficar pretas igual e ninguém mais vai conseguir tirar aquele encardido, isso sem falar no chingão que você vai levar da compreensiva esposa). Calce as botas, deixe o sabão agir por dois minutos e, depois, dê três voltas ao redor da casa caminhando rapidamente. Pare um pouco para descansar e repita a operação até que não esteja mais saindo espuma do cano das botas.
Para a limpeza das mãos o processo é um tanto mais elaborado. Você precisará de um quilo de farinha de trigo, três ovos, duas colheres de cachaça, uma colherinha de sal, três colheres de sopa de açúcar, duas colheres de azeite, uma colher de manteiga e um copo de leite morno. Coloque os ingredientes nesta ordem em uma bacia, deixando o leite reservado. Vá amassando devagarinho e acrescentando o leite aos poucos. A mistura estará pronta quando atingir uma consistência firme, lisa, que não gruda nas mãos. Após isso, você verá que milagrosamente suas mãos estarão limpinhas, com um pouco de massa entre as unhas e a carne. Pegue um palito de dentes e termine a faxina das unhas e pronto. As pessoas mais “ligadas” devem ter notado que isto é uma receita para massa de pastel caseiro, que você também pode fazer quando tiver vontade de comer pastel e não só quando estiver com as mãos sujas. Esta eu filei do livro de receitas da minha “véia” e dei uma adaptada, mas garanto: fica uma delícia. Bom, se surgirem novidades nas próximas incursões pesqueiras, certamente vocês saberão. Isto encerra esta série e, pasmem: já está pronta para a semana que vem a coluna Chocolate & Pimenta Especial de Natal com uma história incrível sobre o Papai Noel que não foi levar presentes para as criancinhas porque tomou um porre na casa dos alemães Alves.