Logo Folha de Candelária
Colunista 26/11/2017 14:57
Por: Ângelo Savi

Como o Brasil (e o Rio Grande do Sul) trabalha incessantemente para nos empobrecer

O estado nasceu quando o primeiro bando de humanos subjugou a outro, e ao invés de simplesmente espoliá-lo passou a obrigá-lo a trabalhar em seu proveito. Com o passar do tempo foram sendo necessárias justificativas, como a de que os dominantes eram filhos de Deus, ou reinavam por direito divino, ou eles próprios eram deuses, pois, para que uma população se submeta permanentemente a uma classe dominante, é preciso uma forte coerção psicológica que refreie o ímpeto de liberdade.

A humanidade evoluiu extraordinariamente em conquistas tecnológicas e científicas inimagináveis há bem pouco tempo. No entanto, em termos de organização da sociedade, ainda nos portamos como no começo da história. É bem verdade que nos últimos séculos a objeção de muitos pensadores (sem ordem de importância e citando apenas os primeiros que me vêm à mente: Hobbes, Marx, Kant, Thoreau, Locke, Weber...) e vários movimentos (Revolução Gloriosa, Francesa, Americana, Comunista...) deram novos contornos ao estado, que, no entanto, na sua essência, continua sendo o que sempre foi: a detenção por um grupo do monopólio da força num território. Com a democracia, ocorreu uma notável esperteza, que, hoje, se alastra em grau maior ou menor em todas elas. Consiste na concepção inerente à própria democracia de que cada vez mais direitos devem ser estendidos ao povo. Mas “direitos” não caem do céu e têm que ser pagos. Quanto mais se tem, mais se tem que pagar por eles. E, quanto mais se paga, mais o estado se transforma em uma organização que, na verdade, serve aos detentores do poder e não aos supostos beneficiários, esta abstração chamada povo. Nós somos exemplo veemente desta situação.

Em 2016 o Brasil arrecadou mais de R$ 2 trilhões em impostos. Em 2015, o governo federal divulgou que o Rio Grande do Sul mandou para a união uns R$ 32 bilhões de reais, dos quais retornaram oito bilhões; essa diferença é permanente e ocorre todos os anos. É mais do que evidente que, com esta sangria, não há como prosperar. É uma montanha de trabalho e produção jogados fora, e é manifesto que isto empobrece o Rio Grande. O mesmo acontece com outros estados, principalmente com São Paulo. É pior do que ser simplesmente pobre, porque é perder o que se construiu. Sem falar que a maior parte do dinheiro que a União nos toma é dissipada em obras inconclusas, funcionalismo inútil, salários indecentes para a aristocracia do serviço público, quando não simplesmente roubado. É uma doença cavilosa, porque o dinheiro não nos é tomado diretamente, mas através de preços que são elevados para que o comércio, indústria e serviços possam pagar impostos e sobreviver. Ou há alguma dúvida de que quem tem que pagar o imposto diretamente irá elevar o preço do que vende? Ou seja, quem paga não é o comerciante ou o fabricante, mas sim o povo que se ilude com bolsa isto, bolsa aquilo, aposentadoria fajuta, serviço médico capenga, estradas esburacadas, os famigerados “programas sociais”. Então é assim: primeiro o governo toma muito, depois devolve um pouquinho e tem muito basbaque que se ilude crendo que ganha alguma coisa do governo.

Dá para fazer um cálculo: cada brasileiro, contando até os recém-nascidos, paga algo em torno de dez mil reais por ano em média. Uma família de quatro pessoas ganharia quarenta mil reais em média a mais por ano se não fossem tantos impostos. Daria para pagar plano privado de aposentadoria e saúde e ainda sobraria.

Aqui no Rio Grande é ainda pior, pois mal conseguimos pagar o funcionalismo e nada mais, ou seja, se o dinheiro que a União nos toma é quase todo desperdiçado, e o que vai para o estado é totalmente jogado fora. Não há como não concluir que o brasileiro, e em particular o gaúcho, poderia estar em muito melhor situação se não fosse o governo. É por isto que temos urgentemente que começar a pensar grande e abandonar a crença irracional de que o governo resolve nossos problemas. O máximo que um governo faz é repassar o dinheiro que tomou anteriormente da população através de impostos.