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Rural 22/06/2023 17:59
Por: Charles Silva

Fumicultores devem enfrentar novos desafios climáticos nos próximos meses

Influência do fenômeno climático El Nino marcará o cenário da fumicultura com muita chuva e umidade até o fim do ano

O inverno começou nesta quarta, 21, no hemisfério sul e pela e primeira vez desde 2019 a estação será influenciada pelos efeitos do El Niño. O fenômeno coloca em alerta o principal setor econômico do país, o agro, comprometendo o desenvolvimento de algumas culturas pela alta incidência de chuvas e umidade.

De acordo com Carlos Loewe, coordenador de mutualidade da Associação de Fumicultores do Brasil (Afubra), o plantio do tabaco da safra 2023/2024 em Candelária atingiu a marca de 12% no início da semana, devendo chegar à 15% nos próximos dias. A estimativa era que o plantio alcançasse estes índices um pouco mais cedo. Entretanto, devido à chuva, os produtores estão apreensivos. “Quem conseguir, irá aguardar mais alguns dias, esperando uma definição do clima.”, relata.

O morador da Linha do Rio, Delmar Hauth, de 48 anos, faz parte dos agricultores que não perderam tempo e já iniciaram o plantio, cerca de 40 mil, dos 80 mil pés que irá cultivar nesta safra, já estão na lavoura. Essa foi uma novidade na propriedade dos Hauth para a safra 23/24, que seguindo uma inclinação dos produtores das áreas baixas do município, adiantam cada vez mais o início do cultivo do tabaco. “Nós sempre começamos a plantar no começo de julho, mas esse ano antecipamos um mês. Principalmente para fugir do calor forte do verão”. Questionado se estava com medo do frio prejudicar a plantação, Delmar relatou que a região não costuma sofrer com o problema. “Aqui nunca deu geada muito forte, este ano tivemos uma geada leve, mas só perto de casa nas palhadas, onde pegou deu uma judiada, mas nada que vá impactar mais adiante”, afirmou.

De acordo com Loewe, tanto o frio e a geada, como a estiagem dos últimos anos, não deverão ser o principal problema para os fumicultores nesta safra. Segundo o coordenador, diferente dos últimos três anos, quando estivemos sob o efeito do fenômeno climático La Nina, causador de longas estiagens. Agora passaremos a sofrer os efeitos do El Nino, que trará períodos mais quentes, com muita chuva. “A previsão que nós temos é que, de setembro a dezembro, haja muita chuva. Justamente na época do desenvolvimento do tabaco, principalmente na parte alta do município, que inicia o plantio em meados de agosto. Em alguma medida isso deve afetar a qualidade e o peso da planta”, explicou.

A perspectiva de mais um ano sob forte influência de fenômenos climático não assusta Hauth, que aumentará a área cultivada para a temporada. Serão 5 mil pés a mais, em relação à safra 2022/2023. Para o produtor, o pequeno aumento é uma tendência em sua região. “Tenho conversado com o pessoal e pelo que escutei, a maioria vai aumentar um pouquinho, estão otimistas para essa temporada”, expõe.

Em relação à elevação da área cultivada na região, percebida pelo agricultor, Loewe afirma que, embora exista uma tendência de acréscimo, ela não deve chegar a 5%. Segundo os relatos dos Orientadores Agrícolas, embora alguns produtores tenham optado por ampliar um pouco sua produção, este aumento está sendo suprimido por uma pequena redução na quantidade de produtores. “A mão de obra na nossa região é muita escassa. Por diversos fatores a indústria vem tirando o pessoal jovem do interior. Fazendo com que muitas propriedades parem de trabalhar na agricultura. É uma tendência que não irá nos impactar agora, mas nos preocupa a longo prazo”, descreve.

Quanto às projeções, Loewe lembra que, mesmo comprometida pela estiagem, a cultura do tabaco foi um dos principais pontos de apoio para a economia do estado nos últimos anos, quando sofreu muito com a quebra na soja e no milho. O coordenador aponta que, embora a cadeia produtiva venha sofrendo com diversos ataques de órgãos que buscam sua extinção, 90% do tabaco produzido no estado é alvo de exportação. Por isso, mesmo que seja prejudicada pelo clima, a perspectiva é que na safra 23/24, o fumo siga valorizado”, finaliza.

Para Hauth, as projeções de produção e comercialização são importantes, mas considera cedo para tirar conclusões. O produtor tenta se precaver para quaisquer dificuldades, preparando bem a terra, usando a variedade mais adequada ao solo e aplicando os defensivos corretos. “Não se pode controlar tudo. Cultivo o tabaco desde minha juventude e conheço o ofício, é muito difícil afirmar qualquer coisa agora, temos anos bons e anos ruins. Vamos ver se no fim do ano as contas vão fechar. Estamos otimistas, não dá pra afrouxar o garrão!”, brincou o agricultor.

 

Culturas de inverno também serão afetadas

O Trigo deverá ser o maior prejudicado pela incidência da umidade, ficando mais suscetível a pragas e doenças

As recentes projeções climáticas para o Rio Grande do Sul, balizadas principalmente pela presença do El Nino, indicam prejuízos para os cultivos de inverno na região. Embora o município de Candelária priorize o cultivo das pastagens de azevém, com cerca de 17.500 hectares, alguns produtores optam pelo trigo, com 1100 hectares. Além de aveia e canola, estas em área menores.

De acordo com o chefe do escritório local da Emater, Sanderlei Pereira, o trigo deve ser o principal prejudicado caso se confirmem os grandes períodos chuvosos. Pois o aumento da temperatura e da umidade pode favorecer a proliferação de insetos e fungos que atacam a planta, levando a perdas na produção. “Entretanto, mesmo que o grão perca qualidade, outro valor do trigo para nossos produtores e a palhada, grande aliada para a proteção e enriquecimento do solo que levará a soja no verão”, explica.

Por outro lado, Sanderlei avalia que a chuva poderá beneficiar as áreas de pastagens que se utilizam do azevém. “É uma dádiva ter essa planta de inverno que tolera o encharcamento do solo. Mesmo que o azevém sofra algum prejuízo no desenvolvimento, em áreas muito alagadas, ela não precisa ficar saudável até o fim de seu ciclo. Pois o que o gado deixar de consumir, será incorporado ao solo nutrindo-o”, afirma.

Por fim, Sanderlei explica que o El Nino se caracteriza pela intercalação de massas. Portanto, ainda que chova muito, podem haver períodos com grande incidência de sol. “Nem sempre o fenômeno é negativo. As vezes chove muito grande em um dia ou dois, depois abre sol. O que não interfere muito nos cultivos. Pelo contrário, culturas com a do milho podem se beneficiar destas condições”, concluiu.