Logo Folha de Candelária
25/08/2009 16:56
Por:

O lado cruel do Natal

Eis que vos trago uma boa nova de grande “alegria”! (Lc 2.10).
É exatamente com estas palavras que os anjos anunciaram o nascimento de Jesus. No entanto, a maioria das notícias posteriores ao feriado de Natal deste ano de 2007, são tristes e cruéis. Houve recordes em números de acidentes e de mortos no trânsito. Os comunicadores poderiam começar seus relatos dizendo: “Eis que vos trago uma má notícia de grande ‘tristeza`!”
Será que o anúncio do Natal se inverteu? Não quero falar apenas do trânsito. Quero também compartilhar uma reflexão que sempre volta a minha mente. Chamo-a de “lado cruel do Natal”. O que quero dizer é que, se por um lado o Natal traz alegrias extremas, por outro ele proporciona momentos de grande tristeza e melancolia. Não são poucas as pessoas que sentem um vazio esquisito no Natal. Creio que as razões são diversas, porém quero destacar aquilo que poderíamos chamar de ditadura do Natal. A ditadura que ordena que todos devem receber presentes e se sentirem feliz. Esta ordem nefasta arrasa os corações dos menos favorecidos que não recebem presentes. Para piorar a situação, inventaram que o Papai-Noel não se esquece de ninguém. É uma crueldade dizer que “seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem”. Isso é uma mentira que, como sempre, vai doer na alma dos mais frágeis, vai doer na alma dos pequenos, das crianças pobres e indefesas.
Lembro-me de certa vez ter visto um bonito Papai-Noel. Era um destes encomendados por gente que tem dinheiro. Ele foi levar presentes caros e bonitos para as famílias que pagaram. Contudo este Papai-Noel foi visto por outras crianças e na frente de todos entregou os presentes para os meninos ricos e deixou lágrimas de tristeza nos meninos pobres, cujos pais não pagaram o Papai-Noel. Eles não entenderam porque o Papai-Noel esqueceu deles. Eles não entenderam porque uns receberam presentes e outros não receberam. Eu acho isso muito, muito cruel!
O Natal também é muito cruel com os solitários! É cruel para os órfãos! Com os esquecidos em asilos. O Natal é muito cruel com a maioria dos trabalhadores do nosso país, que não possuem nem tempo de parar para fazer uma ceia, e que quando encontram tempo, estão tão cansados de trabalhar que não conseguem aproveitar nada! O Natal é cruel com a maioria dos funcionários, pois a grande maioria dos chefes os exploram com excesso de trabalho e baixo salário.
A crueldade também aparece no primeiro Natal. Nos relatos bíblicos temos a descrição de um fato terrivelmente cruel! O personagem desta crueldade foi o terrível rei Herodes, que para manter seu reinado, mandou matar crianças menores de 2 anos (Mt 2.16) - o seu objetivo era matar um menino que diziam ser o Cristo. Imaginem a dor da muitas e muitas mães que tiveram seus nenês arrancados dos seus braços! Imaginem a dor dos pais! Imaginem a crueldade daquele Natal! José e Maria tiveram que fugir para o Egito para proteger o Menino!
A crueldade continua por ordem dos “Herodes” atuais! Porém, a esperança também continua viva! Ela se fortalece ao final de cada ano. A esperança de dias melhores. Nesse momento os rostos cansados e as mãos calejadas de tanto sofrimento se erguem em fé e esperança, mas faz-se necessário lembrar que a fé e a esperança distantes do amor, não valem nada (1 Co 13).
Sorte que Deus “não esquece de ninguém” e que Cristo nasceu e morreu por todos. Assim, tenhamos a certeza que o seu amor nos acompanhará e preencherá o vazio e a dor das crueldades do dia-a-dia.