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25/08/2009 16:56
Por:

O Pol?tico Ceboleiro

A vocação é algo congênito. O ser humano já nasce orientado para uma atividade. Se segui-la, se dá bem; se afrontá-la, se dá mal.
O Irineu era um caso perdido. Quando entrei no primário, o Irineu já repetia o primeiro ano pela segunda vez. Simplesmente não aprendia o “abc”, não aprendia a somar nem ler. Era boa gente o Irineu, mas não se dava bem com as letras. Paciência.
Um dia a Leopoldina Ihan, nossa professora, mandou atrelar o cavalo à carruagem (naquele tempo se dizia aranha) e tocou, ela mesma, para a casa do pai do Irineu, uns quatro ou cinco quilômetros distante da escola. E lá, botou na mesa:
- Não dá mais,- disse ela- é tempo perdido. O Irineu não tem vocação para o estudo. Convém aproveitá-lo em outra atividade, onde ele possa se dar bem. O senhor é um homem de posses, ele pode ser feliz aqui. Cada um na sua. Ele é sadio e forte, mas não tem vocação para o estudo. Eu lhe aconselho a instruí-lo para as atividades rurais.
Embarcou na aranha e, antes de atiçar o cavalo, voltou-se para o pai do Irineu e disse:
- Cada um na sua.
Outro dia, recordando a juventude com um parente, eu lhe perguntei:
- E o Irineu? O que é feito daquele idiota?
Da resposta fiquei sabendo que o Irineu de idiota não tem nada, que se deu bem na vida, tem família, é grande produtor rural.
Disse-me mais o meu parente:
- O Irineu planta parreira, colhe uva e faz vinho. Mas que vinho! Tu precisa ver. O Irineu cria vacas, tira leite e faz queijo. Mas que queijo, tu precisa ver!
A professora Leopoldina, por sábia, jamais orientaria o Alexandre Pato a vir para Candelária construir mansões maravilhosas. Seria um fracasso. Da mesma forma, a professora Leopoldina dificilmente orientaria o Dr. Marcos Radünz a jogar no Milan, da Itália. Seria vaiado pela torcida. Cada um na sua.
Se ainda fosse viva e se morasse por aqui, provavelmente a professora Leopoldina mandaria atrelar seu cavalo à aranha e faria uma visita a determinado político local. E o aconselharia:
- Larga a política, Fulano, o senhor não entende da arte e vai se dar mal. Larga a política e vá plantar cebola. Cada um na sua. O senhor não tem vocação para a política.
Um ano depois, se o conselho da professora Leopoldina fosse seguido, é bem provável que se ouviria ali no Restaurante Babilônia o seguinte diálogo:
- E o Fulano? Ainda está na política?
- Nada! Largou a política e foi plantar cebola. Vai indo muito bem. Ele planta cebola e faz conserva. Mas que conserva! Tu precisa ver.
Tá certo. Cada um na sua, já dizia a professora Leopoldina Ihan. É preferível um ceboleiro político e vencedor a um político ceboleiro e fracassado.

Edemar Mainardi - Engenheiro Civil