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25/08/2009 16:56
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Fama e glria

Meudeusdocél, minha gente. Depois do lançamento do dicionário eu fiquei mais conhecido que feijão preto. Aliás, eu já era bastante conhecido (principalmente entre os familiares e amigos mais próximos), só que uma grande parcela da população mundial não ligava o nome ao sujeito. Dia desses um conhecido que não sabia quem eu era chegou e disse: Ma é tu? E eu respondi: Mai sô! E ele: Ma não sabia que tu escrevia! E eu: Mai nem eu! Pois não é que na semana passada, o Ismar, meu colega aí da coluna “Paralelas”, da página 4, me enviou um e-mail retratando uma história análoga. Observem: “Luís. Nas quartas eu jogo futebol com uma turma de amigos no ginásio. Depois do jogo o assunto chegou num texto que eu havia escrito. Um dos colegas disse que não sabia que eu escrevia - pois me conhecia apenas por pastor. Ele sugeriu que fosse colocado a foto ao lado. Para mim, o mais importante é o texto em si, mas repasso a sugestão para que seja apreciada”.
Pois não é que o Ismar pensa igualzinho a mim? Eu nunca dei muita bola pra esta coisa de fotinho e na verdade eu morro de medo disso por um motivo já explicado na semana retrasada (a história dos gatos e dos cachorros fazendo cocô no jornal, lembram?). Mas já que o pessoal pediu, a partir desta semana vamos usar fotinhos nas colunas. Na verdade, já tô louquinho para escutar o pessoal murmurando nas quebradas por aí: “Ei, tá vendo aquele cara? Pois é, é o cara do dicionário do ônibus, o Luís da Folha”. Vai ser a glória eu saindo todo pimpão pelas ruas com meu cabelo peitudo todo estufado! Só tenho receio de não saber lidar com a fama, ficar “me achando” e começar a ressaltar por aqui minhas infinitas qualidades pessoais.
E para começar bem, ou melhor, para terminar bem a semana e inaugurar esta nova era de coluna com fotinho e que deverá mudar minha vida, vem aí a segunda e última parte da coletânea das palavras e termos mais utilizados nos ônibus. Sim, última porque ninguém ligou ou mandou e-mail para colaborar e eu não sou palhaço pra ficar queimando fosfato sozinho. Por falar nisso, alguém aí já viu o Ismar jogando bola? Apenas uma página nos separa e eu não sabia disso. Precisamos nos falar mais seguidamente, meu caro, afinal, estamos tão próximos!
BAREJO – Artefato para pescar, com linha comprida. Apelido: Varejo. “Mió que pescar de carniço, só de barejo”.
CARRÃO – Levar um fora na hora de tirar alguém para dançar. Apelido: carão. “Bá, jung, levei um carrão da curia no paile”.
CUÊIO – A mulher do coelho. Sem observações, afinal, todo mundo conhece o “cuêio” da Páscoa.
DISTRAIR – Divertir, recrear, livrar de preocupação, de idéia fixa; entreter. Apelido: extrair. “Ai, ai, ai, ontem fui no dentista e ele me distraiu dois dente”.
FIGO – O fruto comestível da figueira. Apelido: fígado. “Cumádi, a coisa tá feia lá em casa! Meu véio enche “os corno” de trago e depois se queixa que tá ruim do figo”.
FURUNGO – Lesão inflamatória dura. Apelido: furúnculo. “Bá, jung, não dá nem pra sentá tireito no panco do ônibus! Canhei um furungo no punda”.
PACAJI – Bromélia com infrutescência comestível. Apelido: abacaxi. “Chega lá em casa pra tomar uma gajaça com pacaji”.
PANDA – Mamífero carnívoro parecido com os espécimes dos ursídeos. Apelido: banda. “Quando será que o Rogério vai trazer de novo a panda Prilhassom?”.
PICÃO – Chute potente, dado, com o bico da chuteira. Apelido: bicão. “Rapais, o Nêni vai dá um paita chocador de pola, ele tem um picão que deusulivre”.
PÓIA – Peça de material flutuante (cortiça, isopor, etc.) adaptada às redes de pesca para que não afundem. Apelidos: bóia, comida. “Mas muié, não tem outra póia pra fazê em veis de mandioca”.
PUDÉGA – Bar onde se vende cachaça (também conhecida por gajaça) no balcão. Apelido: budega. (ver exemplo na palavra sapão).
PUTIÁ – Palmeira cultivada, de drupas subglobosas e endocarpo comestível. Apelido: butiá. “Chega lá em casa pra tomar uma gajaça com putiá”.
PUXÃO – Puxar com força. Apelido: bujão. “Onti, bem na hora da póia, faltou cás lá em casa e o Nêni teve que broxá os poi pra puscar um puxão de cás no pudega”.
SAPÃO – Sapo grande. Apelido: sabão. “Nêni, vai lá no pudéga e compra dois pão de sapão pra muta lavá as cueca do fata”.
TETO – Doença infecciosa. Apelido: tétano. “Meu guri pisou numa táuba com prego enferrujado e ganhou této nos pé”.
XAPUTIGABA – O fruto da jabuticabeira. Apelido: jabuticaba. “Chega lá em casa pra tomar uma gajaça com xaputigaba”.