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25/08/2009 16:56
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Pobre classe mdia

Agoniza a classe média brasileira. Na aflição da morte ainda busca alguma possibilidade para ser atendida por um convênio particular, pois teme que o SUS lhe dê a extrema unção antecipadamente.
Quando o atual partido político que dirige o país assumiu o poder, a bandeira maior era o programa Fome Zero que foi abortado em poucas semanas. Sentindo que o barco navegava em mar com tempestade, a cúpula dirigente agarrou-se ao projeto do governo antecessor que havia criado a Bolsa Escola, uma forma de manter na escola milhares de crianças vagantes em biscates para auxiliar a sobrevivência familiar.
De Bolsa Escola o programa tomou corpo e se transformou na Bolsa Família, absorvendo outras bolsas tantas destinadas aos que nasceram e cresceram desafortunados das mínimas condições de vida. O programa cresceu e milhares de brasileiros sentiram-se privilegiados.
O novo cenário deu êxtase ao governo e à elite nacional. Mais consumo, mais lucro nos bancos e o início do sepultamento da miserabilidade provocada lá atrás pela abolição da escravatura, que jogou no “olho da rua” milhares de brasileiros que até então só sabiam obedecer e utilizar a força física. Foi nesse longínquo 1888 que iniciou a favelização brasileira. Da escravidão do tronco nasceu a escravidão da subserviência.
No Brasil a classe média cresceu sob a bandeira da União Democrática Nacional - UDN, derrubando Getúlio, elegendo JK e Jânio Quadros e se pondo contra Jango até sua derrubada. Apoiou freneticamente o movimento revolucionário de 64 porque estava impregnada dos efeitos da guerra fria, exorcizando os comunistas e assemelhados. Nos estertores do regime militar deu-lhe as costas e conduziu Fernando Collor ao poder e, posteriormente, o sociólogo Fernando Henrique. Rejeitava Luis Inácio, que vinha das camadas populares. Isto até o dia em que um intelectual da comunicação e do marketing o vestiu como classe média. De imediato fascinou-se pelo novo modelo. Agora paga juro de mora por essa atração que lhe foi fatal. Perdeu poder de mando e financeiro e jaz no leito, moribunda.
A classe média é quem paga os impostos, mas deles pouco usufrui necessitando buscar na iniciativa privada uma melhor saúde, escola, segurança e transporte. O que está posto nessas áreas não atende suas necessidades, mas acolhe as dos que se encontram na base da pirâmide social.
No Brasil poucos defendem a classe média, tampouco seus valores e sua postura política, porque ela não é de direita nem de esquerda. É um centro liberal de onde emanam créditos na autonomia, na responsabilidade pessoal e social, na poupança e nos valores familiares.
A classe média brasileira perdeu sua mobilidade e hoje é quem paga a maior parte dos impostos, além de arcar cada vez mais com os serviços que teoricamente o ente Estado deveria fornecer. É sobretaxada e excluída das prioridades desse mesmo Estado sendo a camada mais sensível aos escândalos de corrupção tão freqüentes nos últimos tempos e com particular intensidade no atual governo.
A apatia e insatisfação desse extrato não auxiliam no crescimento econômico do país e sem ele a sociedade faz um expressivo retrocesso. Empurrada cada vez mais para fora do sistema de proteção social a classe média já não é mais o fiel da estrutura e a continuar a prática política que está posta, brevemente será apenas uma lenda.
• Sandra Silva - sandrasilva33@yahoo.com.br