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Olhando para o prprio umbigo
Li surpreso o artigo do respeitável Deputado Alexandre Postal (“Justiça para quem?”) em Zero Hora de 15/04. No limite, o que quer o Deputado Postal e a grande maioria da sociedade é trancafiar na cadeia os corruptos e os ladrões. A diferença entre o que pensa e diz o Deputado Postal e o que a sociedade pensa e já começa a dizer é de onde está a origem do impedimento. O Deputado Postal pensa e diz que o Judiciário interfere no direito do Legislativo de esclarecer as falcatruas que abalam os cofres públicos, concedendo “mordaça constitucional” aos já indiciados pela Polícia Federal no caso Detran. Nós, a sociedade, que assistimos perplexos a mudez e o deboche dos indiciados aos questionamentos da CPI, tudo ao vivo e em cores, pensamos diferente. Nós achamos, e já começamos a dizer, que a origem desse empecilho é justamente o Legislativo. Esse malfadado “direito de me manter em silêncio” nasceu no Parlamento e não no Tribunal. O Deputado faz a lei, não o Juiz.
Nossas leis, tanto na “Carta Cidadã” quanto nas regulamentações posteriores a 1988, concedem direitos de primeiro mundo e impõem deveres de terceiro. Nosso legislador prefere ser bonzinho a ser racional, prefere ser generoso a ser justo e acaba criando um urubu onde programara um beija-flor. Há exemplos variados onde a criatura engole o criador. Esse é um.
É próprio do ser humano, repleto de virtudes, mas também eivado de defeitos - justo por ser humano -, encontrar culpados quando se defronta com barreiras difíceis de ultrapassar. E essa busca de responsáveis não se dá por incompetência ou má-fé. É apenas uma característica do ser humano. Fica mais fácil achar que a culpa é do vizinho, que o erro está do lado de lá da cerca, no concorrente ou no outro Poder. Isso pulveriza a responsabilidade e alivia a alma, mas não soluciona o fator adverso. A solução começa, quase sempre, quando se mira o próprio umbigo.
Engenheiro Edemar Mainardi
Vice-Presidente AFARGS