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25/08/2009 16:56
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Diversidade saudvel

Há oito anos, com o objetivo de diversificar a base alimentar de suas famílias, resgatar, conservar e manter o controle das legítimas sementes crioulas, a Ceacan – Central das Associações de Candelária – deu início a um tímido projeto denominado troca-troca de sementes. Com o decorrer do tempo, a prefeitura de Candelária, a Emater e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Candelária se engajaram à luta e, hoje, em sua oitava edição, o encontro pode ser considerado responsável direto pela mudança que a pequena propriedade rural vem experimentando no que diz respeito à diversificação. O prefeito Lauro Mainardi participou da abertura, destacando a importância da produção rural para a economia local e regional. Também valorizou o alimento como elemento essencial para a qualidade de vida da população. Ao finalizar, o chefe do executivo elogiou o encontro, afirmando que eventos como esse contarão sempre com o seu apoio e da prefeitura.
Durante todo o dia de ontem, 21 grupos de agricultores de todas as regiões do município foram ao salão paroquial da comunidade católica levar uma mostra do potencial das sementes que cultivam e guardam a gerações. São sementes que foram deixadas de lado pela maioria dos agricultores com a chegada de variedades híbridas e que, infelizmente, acabou se constituindo no atual modelo de agricultura. Por sorte, ou por inteligência, o projeto de resgate e conservação de sementes desenvolvido pela Ceacan e seus parceiros veio com o propósito de resgatar esta discussão, a de que a agricultura familiar nunca deveria ter abandonado o plantio e a manutenção das espécies.
Ao encontro deste interesse, a Emater oportunizou uma parceria firmada com a Embrapa Clima Temperado, com sede na cidade de Pelotas. Lá, anualmente, são recebidas sementes crioulas não só de Candelária, mas de todo o estado e que, pouco a pouco, estão novamente se inserindo nas pequenas propriedades e germinando novas perspectivas de alimentação e renda. O engenheiro agrônomo Gilberto Beviláqua tem sido um elo para a difusão das sementes crioulas no estado; ele já esteve por outras oportunidades em Candelária e ontem foi o principal palestrante do encontro.
Em entrevista à reportagem da Folha, Beviláqua destacou a importância fundamental que as sementes têm na discussão de segurança alimentar e biodiversidade da agricultura familiar, além de elogiar o processo que vem sendo sido conduzido pelos agricultores de Candelária. “As variedades crioulas são de extrema importância genética e cultural”, salientou o agrônomo. “A partir destas espécies é possível melhorar geneticamente as sementes e agregar valor nutricional e químico aos alimentos, além de observar aspectos como tamanho, adaptação a determinado clima e prevenção a doenças”, salientou. Beviláqua enfatizou que da rotatividade destas sementes depende sua evolução em relação aos agentes externos. “De nada adianta guardarmos as sementes por 20 anos em câmaras frias se no futuro o solo, o clima e as doenças serão diferentes”, observou. Segundo o agrônomo, a Embrapa dispõe hoje de pelo menos 300 espécies de feijão e 250 de milho, além de centenas de outras sementes catalogadas.

Gosto de mofo não!
Vali Hirsch, presidente do Clube de Mães Unidas da Serra, foi uma entre as tantas expositoras no troca-troca de sementes de ontem. No estande do grupo de Vila União – que participa desde o início do troca-troca –, eram mais de 60 espécies de sementes multicoloridas e multiformes. Bastante orgulhosa com a diversificação obtida nas propriedades rurais da região serrana de Candelária, observou que o sabor dos produtos orgânicos dão um verdadeiro “baile” nos demais. “Muitos produtos que são bonitos no mercado nos surpreendem com o gosto de mofo”, salientou. “Os nossos, além de nutritivos e saudáveis, são muito mais gostosos”, gabou-se, e com muita razão.