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25/08/2009 16:56
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Vidas cegas

Lembro-me, nos tempos da minha infância, de ouvir dizer que um velhinho havia morrido de frio! Aquilo me impressionou! Coisa horrível! Morrer congelado! Quando ia para o colégio, havia uma esquina em que o vento frio batia com força. Depois de saber da morte do vovô, sempre dobrava aquela esquina com receio de também morrer!
No final de maio deste ano, em dias que estavam igualmente frios, o Supremo Tribunal Federal autorizou a pesquisa com Células Tronco Embrionárias. Para realizar essas pesquisas, faz-se necessário matar o embrião. O argumento que prevaleceu é que seria honroso conceder um fim digno àqueles embriões que estão congelados e inutilizados em um tanque de nitrogênio.
A história da humanidade registra a existência de sociedades de uma “frieza” arrepiante! Aqui não falo de “frio externo”, mas do “frio” que vem de dentro, do frio do coração. Algumas sociedades jogavam fora os nenês fraquinhos ou deficientes. Houve sociedades que matavam os idosos, por considerá-los inúteis! Agora, os descartáveis são os fetos pelo aborto ainda ilegal e os embriões por pesquisas legalizadas.
A pesquisa com os embriões pode trazer muitos benefícios. No entanto, a pergunta que devemos fazer é se os fins justificam os meios. A finalidade da pesquisa parece ser honrosa e digna. Mas será que a destruição dos embriões não aniquila esta honra e dignidade? Afinal, trata-se de vida humana! Assim como existe a fase da infância, da juventude ou da velhice, existe a fase embrionária. Resumindo, depois da fecundação, são vidas de igual valor, em diferentes fases, mas igualmente tocadas pelo dom vital do Criador.
Quanto às pesquisas com Células-Tronco Embrionárias, eu preciso ser sincero! Tenho que concordar com alguns argumentos que dizem que será honroso e digno para o embrião salvar outras vidas, ao invés de simplesmente ir para o lixo. Tenho que concordar em alguns sentidos com a semelhança desse assunto com a doação de órgãos, uma vez que necessita da assinatura dos pais para que o embrião seja manipulado. Mas o que inquieta e alerta o meu coração é a origem dos embriões congelados. Afinal, por que estes pequeninos foram colocados nestes tanques frios?
A origem dos embriões congelados é a fertilização in vitro. Penso que a pesquisa com células tronco é apenas um novo passo de um erro ético que inicia na fertilização in vitro, pois nesse processo vários óvulos fecundados são descartados e poucos são utilizados. O que resta é congelado!
Imaginem um casal que quer ter um filho, mas, ao realizar o pré-natal, descobre que a mulher está grávida de gêmeos. E agora? O que o casal faz? Eles queriam um filho e não dois! O que fazer? Ora, simples, é só congelar um dos bebês! Sei que não é uma comparação perfeita, mas, guardadas as proporções, é o que se faz com os embriões que sobraram.
Quando criança, preocupei-me com o frio que vinha de fora. Agora, como adulto, noto que o grande perigo é o frio que vem do pecaminoso coração humano! O frio que faz com que os fins justifiquem os meios. Meu desejo é que o amor de Deus, com a chama do Espírito Santo, aqueça, esclareça e ilumine os nossos corações e mentes, a fim de que nossas decisões, nossos planos e pesquisas, respeitem e favoreçam a vida por completo, na certeza de que ela pertence à Deus.

Pastor Ismar Pinz