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Rural 25/03/2022 09:58
Por: Odete Jochims

Safra de arroz : apesar da estiagem, produtividade ainda é considerada satisfatória

Perdas ficaram concentradas em áreas dependentes da irrigação de rios e arroios; custo de produção, entretanto, segue preocupando produtores

  • Família Seckler: “enquanto Deus der saúde para mim e para minha família, vou continuar na lavoura de arroz”

A colheita do arroz irrigado, iniciada por volta do dia 15 de fevereiro, segue avançando na região. Em Candelária, a estimativa é que cerca de 40% da área cultivada no município já tenha sido colhida. A preocupação com o período de estiagem de dezembro a fevereiro se justificou, mas o saldo da estiagem se mostrou bastante distinto, a depender do local analisado. As informações da Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) dão conta de que as perdas contabilizadas nos municípios gaúchos, por exemplo, variam de 1% (perda mínima) a 30% (perda máxima).

De acordo com Marcos Streck, engenheiro agrônomo e assistente técnico da Agrican, em Candelária as perdas ficaram concentradas nas localidades dependentes de rios e arroios para a irrigação. “Em certos locais, houve interrupção do manancial hídrico de dezembro até o final de janeiro. Somente as lavouras irrigadas com açudes tiveram ciclos de desenvolvimento favoráveis”, explica. Nestas circunstâncias, a falta de água para irrigação e as altas temperaturas prejudicaram a cultura tanto no seu desenvolvimento vegetativo, quanto no florescimento. “Existem perdas significativas em função destes fatores, pois, nestes casos, se verificou uma alta incidência de grãos falhados nas panículas” conclui.

Entre os arrozeiros, uma das principais pautas desta safra continua sendo o alto custo de produção. O preço do saco de arroz se encontra virtualmente estagnado, ainda que a tendência seja de alta (até o fechamento desta edição, os indicadores do CEPEA/IRGA-RS estabeleciam o valor da saca de arroz em R$ 76,83). Os preços dos insumos e dos combustíveis, no entanto, só aumentam. “A expectativa é de alta no preço do produto, pois com os atuais preços praticados, não está sendo possível cobrir os custos de produção”, avalia Streck.

Outra variável a ser observada é a Guerra na Ucrânia. Se o conflito se prolongar, há um temor que ocorra uma escalada ainda maior no preço dos insumos – ou, no pior cenário, um caso de desabastecimento. Marcos explica que a cultura do arroz é altamente dependente de nitrogenados, os quais o Brasil importa, quase em sua totalidade, da Rússia. No entanto, o engenheiro agrônomo faz questão de enfatizar que as dificuldades enfrentadas pelos produtores vêm de muito antes. “Todo processo produtivo se baseia na leia de oferta e procura, mas os custos de produção estão aviltando bastante o setor desde antes do conflito da Europa”, finaliza.

 

“Sou arrozeiro persistente que gosta do que faz”

Fladimir Seckler é um produtor de arroz de Cerro Branco com uma área plantada de aproximadamente 20 hectares. Seckler está inserido no grupo de proprietários pouco afetados pela estiagem. Segundo conta o agricultor, a barragem localizada no Alto Cerro Branco amenizou muito a situação. “Por enquanto, a colheita, iniciada no dia 11 de março, vai estar muito parecida com a do ano passado”, conta. A produtividade de Fladimir ficará em torno de 7 a 7,5 mil kg de arroz por hectare, o que, de acordo com Marcos Streck e equipe da Agrican, está dentro da média registrada em Candelária.

Fladimir, sua esposa, Claudia, e seu filho, André, são a terceira geração de uma família de arrozeiros. Assim como seus pares, os Secklers se mostram muito consternados com o aumento dos preços na produção do arroz. Fladimir diz que esta é “a safra mais cara, em termos de custo de produção, dos últimos anos”. A simpática família, no entanto, destaca o sentimento de gratidão pela colheita. “Temos que ficar contentes, pois plantamos e estamos podendo colher o que Deus nos deu. Muitos plantaram, gastaram bastante no processo, e não colheram. Isso que é triste”, reflete.

Depois de conversarmos, o agricultor refletiu e quis compartilhar seu pensamento. "Apesar de toda a dificuldade que o homem do campo enfrenta, tanto com o clima seco, enchentes, a falta de apoio dos governantes, entre outros, muitas vezes vendendo o seu produto abaixo do custo de produção, eu sou um arrozeiro persistente que, acima de tudo, gosta dedo que faz”, enfatiza. Seckler prossegue: “enquanto Deus der saúde para mim e para minha família, vou continuar na lavoura de arroz, pois é só o que sei fazer”. ( Por : Arthur Lersch Mallmann)