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25/08/2009 16:56
Por:

Nepotismo indireto

O Senado brasileiro votou projeto criando cargos comissionados com salários para assessores técnicos que beiram os 10 mil reais. Bem disse o presidente da instituição que não era momento para essa estapafúrdia porque não há necessidade de mais funcionários para atender à demanda de serviço dos senadores, mesmo que o Senado tenha caixa suficiente por ter gasto apenas metade de seu orçamento. Isso demonstra cabalmente que a leitura que nossos políticos fazem é da gastança.
O chamado dinheiro público, aquilo que o tesouro federal, estadual e municipal arrecada não é dos executivos e legisladores do momento. O dinheiro é do povo brasileiro, fruto da honestidade de cada cidadão quando paga seus impostos, taxas e contribuições e tudo o mais que vem embutido em qualquer bugiganga que se compra.
Os políticos perderam totalmente o respeito com os cidadãos. Usam e abusam das prerrogativas de seus cargos esquecendo as necessidades da sociedade brasileira que ainda pena em larga escala por várias áreas. Faltam hospitais para salvar a vida dos mais pobres e presídios para trancafiar os delinqüentes que matam nossos filhos. O Senado realmente contribuiria com a pátria se tomasse essas “sobras” financeiras e encontrasse um meio de colocá-las em uma rubrica para levar mais recursos materiais e humanos às regiões onde o grito de dor por falta de atendimento decente dilacera a vida de muitos brasileiros.
Será que importa aos políticos a dor da miséria? Eles não conhecem isso além do que vêem pela televisão (se é que olham para essas coisas tão comezinhas), todavia, ao tempo das eleições, lá estão eles, estendendo as mãos cuidadas para as massas de pele judiada.
Os cargos comissionados (CCs) quase sempre são apadrinhamentos e estão presentes aqui, ali e lá. Que alguém conteste e prove se assim não for.
O fato começa a acontecer no período eleitoral. Os que apoiaram o candidato vencedor têm grande chance de conseguir um cargo, uma “boquinha” pública como dizem de forma safada e indecente. Salvo exceções, as pessoas aderem às candidaturas na esperança ou expectativa de chegarem ao espetáculo da vitória e, então, encontrarem o filão de um emprego por quatro anos. Chegam a ser nojentas certas atitudes que se tem de assistir.
A diminuição de cargos comissionados nem passa pela cabeça dos políticos, pois é um filão gratuito de cabos eleitorais para os próximos pleitos.
Basta se observar com um pouco mais de acuidade para ver claramente que as freqüentes falcatruas na administração pública têm como causa quase que invariável a indicação de afilhados políticos para cargos que exigem formação técnica e competência gerencial.
Se a sociedade brasileira tivesse juízo cívico se engalfinharia no processo eleitoral pressionando os candidatos a mostrarem seu entendimento sobre a questão. Porque não basta quedar-se por uma sigla ou um candidato: é preciso que a sigla e o candidato demonstrem conhecimento sobre a dimensão da responsabilidade do que vai assumir e indicar com objetividade como irá enfrentar os desafios. Do contrário estar-se-á muito perto de um fracasso administrativo com males muitas vezes que levam décadas para serem corrigidos, isso quando o são.

Sandra Silva
E-mail: sandra.silva@brturbo.com.br