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25/08/2009 16:56
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Muito aqum do que podemos

Cada uma das conquistas olímpicas brasileiras deve ser recebida com grande orgulho cívico. Entretanto, concluída a competição de Pequim, precisamos interpretar nosso desempenho global com realismo e responsabilidade. E o fato é que claramente não fomos bem. Ora, um país com as dimensões e as potencialidades do Brasil não pode satisfazer-se com o 23º lugar no quadro geral de medalhas, atrás de nações como Etiópia, Bielorrússia e Ucrânia, essa última – 11ª colocada – com uma área territorial semelhante ao Estado de Minas Gerais e uma população que não chega a 50 milhões de habitantes.
Dos que ficaram acima na tabela, nosso país é superior a muitos no que diz respeito à densidade populacional – tem mais de 186 milhões de habitantes, um dos maiores do mundo – e à extensão territorial – representa quase metade de toda a América do Sul. Temos ainda um clima propício para a prática de diversas modalidades, diferente do que acontece em muitas partes do Planeta. Mais: nosso povo é vocacionado para o esporte, uma vez que a constituição cultural brasileira tem íntima ligação com as atividades físicas de caráter competitivo.
Para reverter esse quadro, há muitos flancos a serem atacados. A Educação Física, por exemplo, precisa ser mais valorizada no currículo escolar. Todavia, não apenas como mera atividade lúdica, mas também como um laboratório de formação e de seleção de novos atletas. O Brasil só vai alcançar melhores resultados nas Olimpíadas quando der às práticas esportivas, seja na escola ou nos clubes, um tratamento mais criterioso e exigente. O esporte continuará sendo lazer para quem desejá-lo desse modo, mas poderá ser sinônimo de inclusão e de sentido existencial para quem a ele decidir dedicar-se profissionalmente. E essa é uma porta que precisa estar aberta sempre.
Houve, nos últimos anos, algumas evoluções. As medalhas que obtivemos, entretanto, decorreram muito mais de um grande esforço individual dos próprios competidores e das entidades que os apoiaram. A trajetória dos vitoriosos quase sempre repete um mesmo roteiro de esforço pessoal, por um lado, e de pouco apoio, por outro. Até por isso eles são, verdadeiramente, heróis olímpicos! Por isso, há muito por fazer. Investir no esporte significa economizar, logo ali adiante, em saúde e em proteção social. A emoção que todos sentimos com as conquistas brasileiras são legítimas e justificadas, mas a Olimpíada de Pequim teve um caráter pedagógico para o Brasil: mostrou que podemos muito mais e que por isso muito tem que ser feito para nos transformarmos numa potência olímpica.

Germano Rigotto
Ex-governador do Rio Grande do Sul e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social