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25/08/2009 16:56
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Campanha limpa

Uma eleição municipal é a que normalmente desperta maior interesse por parte dos eleitores, considerando-se a maior proximidade que estabelece com os candidatos. Decide-se neste pleito a representação política diretamente relacionada ao dia-a-dia das pessoas. Os rumos de uma coletividade dependem dos resultados dessa eleição, como também estão em jogo inúmeros interesses individuais. E são as motivações pessoais que acabam, muitas vezes, prejudicando e deturpando o processo eleitoral, que justifica-se pelo debate de idéias e propostas em favor das melhores soluções para um município e sua gente. Inserido neste contexto, um jornal, cuja matéria-prima é a informação, acaba sofrendo as conseqüências dessa realidade atípica, em que a emoção, não raras vezes, se sobrepõe à razão.
Antes de uma narração a respeito dos fatos, faz-se necessária uma justificativa. Em suas coberturas anteriores das eleições municipais, a própria empresa responsável pela Folha realizava as pesquisas de intenções de voto publicadas. Isso mudou a partir desse pleito. O jornal optou por contratar um instituto de pesquisa, considerando as crescentes exigências de natureza técnica e profissional para a realização desse tipo de trabalho, que incluem a contratação de um bacharel em estatística. Além disso, a decisão levou em conta o interesse em garantir a máxima isenção ao levantamento, tendo em vista a conhecida relação familiar da direção do jornal com um dos secretários do governo municipal. Registre-se, ainda, que a publicação da pesquisa não teve outro interesse senão a de oferecer aos leitores informações sobre as preferências dos eleitores num determinado momento da campanha. Para tanto, a empresa contratada cumpriu todos os requisitos exigidos pela legislação.
Infelizmente, a coligação Respeito, Humildade e Trabalho ignorou essas circunstâncias e tentou de diferentes formas desqualificar a pesquisa, a empresa que a realizou e o jornal que a contratou. Inicialmente, tentou, via justiça, impugnar sua divulgação. Após negar a liminar requerida, a justiça eleitoral rejeitou a impugnação, reiterando a legalidade do levantamento. Mostrando inconformidade com a decisão, a coligação tentou publicar apedido na mesma edição em que seria divulgada a pesquisa, no qual traçou um comparativo com pesquisa veiculada através de apedido pela Folha e o jornal Gazeta do Sul na véspera da eleição de 2004. Além de ter sido contratada por um dos candidatos, a dita pesquisa mostrava um resultado sobre quem os eleitores achavam que venceria a eleição. Diferente, portanto, da veiculada nesta semana, que, além de ser contratada pelo jornal e não por um candidato, apresentava índices de intenção de voto. O interesse em estabelecer uma interpretação equivocada da pesquisa a ser divulgada ficou bastante explícito através de uma frase, em tom de aviso, colocada no final do pretendido apedido, do qual também constava uma reprodução de parte da capa da edição da Folha de 1º de outubro de 2004: “Desta vez, não se deixe enganar”. Diante de tal constatação, e do evidente prejuízo que causaria à própria imagem do jornal, a direção da Folha não aceitou publicar o apedido.
Mas a inconformidade da coligação Respeito, Humildade e Trabalho com um procedimento legal, devidamente autorizado pela justiça eleitoral, não parou por aí. Enquanto o jornal com o resultado da pesquisa começava a circular, paralelamente começou a ser distribuído um panfleto, cujo conteúdo era muito semelhante ao apedido levado à Folha e não publicado pelas razões já expostas. A ilegalidade do panfleto assinado pela referida coligação foi reconhecida pela justiça eleitoral, que, no final da tarde de terça-feira, expediu mandado determinando o recolhimento do material. A quase totalidade dos 10.000 impressos, no entanto, não foi apreendida, do que se conclui que o que não foi distribuído ainda está em poder da coligação. A simples panfletagem irregular assumiu, no entanto, conotação criminosa com um fato ocorrido na Linha do Rio e que motivou um registro na Delegacia de Polícia local. Um assinante da Folha, identificado na ocorrência, viu o tripulante de um carro apropriar-se do seu jornal, deixando no lugar um exemplar dos referidos panfletos.
Veja-se que, na terça-feira, a justiça eleitoral mandou recolher os panfletos. Mesmo assim, no programa eleitoral transmitido pelas rádios locais no dia seguinte, o candidato a vice-prefeito da coligação Respeito, Humildade e Trabalho, André Rohde, questionou a legitimidade da pesquisa, valendo-se dos mesmos argumentos usados no panfleto declarado como irregular e na malograda tentativa de impugnar a pesquisa. No mesmo programa, o citado candidato defendeu uma campanha limpa. Pelo que é possível constatar, o conceito de “campanha limpa” pode ser uma questão de ponto de vista. Mas não pode nunca desrespeitar as determinações judiciais. Ao fazer tais esclarecimentos, a Folha, através de seus responsáveis, não quer de forma alguma interferir no processo eleitoral e na livre escolha dos eleitores. Ao apresentá-los, o jornal busca apenas exercer o direito de apresentar a sua versão dos fatos. E o faz em respeito à sua trajetória de mais de vinte e dois anos, na qual sempre buscou servir à comunidade e informar ao invés de enganar seus leitores.