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A efervescncia do basquete candelariense
Um esporte que aos poucos começa a renascer em Candelária. Praticado no mundo inteiro, o basquete começa a se formalizar de vez na Terra do Botucaraí. Nesta reportagem especial, você vai conhecer a origem do basquete local, os personagens que ajudaram a construir a modalidade ao longo dos anos, a disputa dos primeiros campeonatos na cidade e as perspectivas de crescimento para o futuro.
A modalidade surgiu em 1891 nos Estados Unidos. Seu criador foi James Naismith, professor de Educação Física canadense que trabalhava na Associação Cristã de Moços de Springfield, estado de Massachusetts (EUA). No Brasil, o país foi um dos primeiros a conhecer a novidade. Augusto Shaw, um norte-americano nascido na cidade de Clayville, região de Nova York, completou seus estudos na Universidade de Yale, onde em 1892 graduou-se como bacharel em artes. Na universidade, Shaw tomou contato pela primeira vez com o basquete. Dois anos depois, o norte-americano recebeu um convite para trabalhar no tradicional Colégio Mackenzie, em São Paulo. Na bagagem, o professor trouxe uma bola de basquete, que foi logo aceita pelas mulheres e teve alguma resistência dos homens do educandário.
Após muita persistência do professor com a ala masculina, foi formada a equipe do Mackenzie, o primeiro time de basquete do país. No Rio Grande do Sul, a modalidade surgiu, segundo os historiadores, em 1914, por Frank Long, que atuava na Associação Cristã de Moços de Porto Alegre. A modalidade difundiu-se rapidamente em 1923, onde acabou sendo criada a Liga Porto Alegrense de basquete. Em 1952, surgiu a Federação Gaúcha de Basquete, que juntamente com a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) e a Fiba (Federação Internacional de Basquete), são os órgãos regulamentadores da modalidade.
ORIGEM EM CANDELÁRIA – Na Terra do Botucaraí, o basquete surgiu na década de 40. Segundo os relatos de Milton Spengler e Hugo Gewehr, o escrivão da Exatoria Federal de sobrenome Amorim foi o incentivador do esporte na cidade. Também gostavam de praticar a modalidade, o médico conhecido como Dr. Pascoal, o delegado de polícia Darci Berbigier e o contador Bruno Schwvanch. Segundo Spengler, devido à sociedade do clube não possuir muitos recursos na época, estas pessoas e mais alguns praticantes de outras modalidades se mobilizaram para construir a quadra de esportes do Clube. Com os seus próprios recursos e angariando doações de materiais na cidade, concretizaram o objetivo. Com a quadra concluída, os praticantes de basquete instalaram as primeiras tabelas que se tem registro no município. Como haviam poucos praticantes (a maioria não era natural do município), o basquete acabou perdendo espaço, passando a ser praticado com mais freqüência os jogos de vôlei e tênis no local. Spengler conta que as tabelas eram de madeira de pinho e tinham os aros grandes com redes. Já a bola era de couro, tinha uma proporção grande e era pesada. “Devido às regras e a maneira de se jogar, poucas pessoas praticavam o basquete na época. Eu até jogava de brincadeira, mas nunca fui um adepto da modalidade”, contou.
Gosto pelo basquete
Como o vôlei, o tênis e alguns anos depois, o futebol de salão, o basquete perdeu espaço na cidade. Apesar da modalidade não ser mais praticada no município, alguns candelarienses pegaram gosto pelo esporte e passaram a praticar o basquete em outras cidades. Um destes candelarienses que amavam o esporte na sua juventude é o farmacêutico Valmor Kaercher. Hoje com 68 anos, Kaercher se recorda dos tempos em que era aluno interno do Colégio Sinodal, em São Leopoldo, e jogava na equipe juvenil do educandário. “Na época, eu estudava pela manhã e treinava à tarde todos os dias. Nos dedicávamos e jogávamos por amor ao esporte”, recorda-se. Ala-esquerda, Valmor conta que após foi convidado a jogar na equipe profissional do Iguaçu, de São Leopoldo, disputando o estadual adulto com a equipe leopoldense, que na época era treinada por Ruy Carlos Ostermann, hoje comentarista esportivo na Rádio Gaúcha. A equipe jogou uma das etapas em Rio Grande, não se classificando para a fase seguinte. O farmacêutico conta que na época, o basquete não possuía a linha de três pontos, valendo apenas os arremessos de dois pontos e os lances livres. “Se jogava com dois pivôs, um armador centralizado e dois alas mais a frente. Sempre quando os pivôs pegavam o rebote, eles lançavam a bola com um passe chamado de gancho para um dos alas marcarem os pontos no contra-ataque. As partidas eram jogadas na base da velocidade”. Em Candelária, Kaercher conta que o basquete nunca decolou por falta de praticantes e de incentivo. “Naquela época, a maioria do pessoal gostava do futebol de salão”. Sobre o crescimento da modalidade nos últimos anos na terra do Botucaraí, o ex-jogador é só elogios. “Fico feliz de ver que aos poucos, o basquete está se firmando por aqui”, finaliza.
Um aprendizado inesquecível
Noêmia Regina Castoldi Kochemborger foi uma das grandes jogadoras de basquete na sua época. Hoje com 46 anos, a professora de educação física formada pela antiga Fisc (atual Unisc), de Santa Cruz do Sul, conta a sua trajetória na modalidade. Natural de Encantado, Noêmia iniciou no esporte com 15 anos de idade na equipe da escola Monsenhor Scalabrini em sua cidade natal. As suas atuações em jogos intercolegiais lhe renderam um convite para atuar na equipe feminina juvenil do CMD de Estrela, que disputava o estadual da categoria. A equipe de Estrela acabou sagrando-se campeã estadual na categoria e Noêmia, com 16 anos, foi convocada pela primeira vez para a seleção gaúcha juvenil e após para a seleção gaúcha adulta. “Com a seleção gaúcha, disputávamos o brasileiro de seleções e sempre conquistávamos o vice-campeonato, perdendo a maioria das finais para São Paulo, que tinha as estrelas Paula, Hortência e Marta”, recorda. Noêmia jogava na função de pivô na equipe do Estrela e em 1984 recebeu a sua maior consagração. A convocação pelo técnico de pivôs da seleção brasileira, Brito Cunha, para treinar com os demais pivôs das seleções adulta masculina e feminina, que na época se preparavam para a disputa do pré-olimpico que classificava para as olimpíadas de Los Angeles. “Foi o auge da minha carreira. Era a única gaúcha na seleção e realizei o sonho de treinar com grandes estrelas do basquete brasileiro”, conta.
Devido a forte carga de treinos diários, Noêmia teve um indigesto companheiro: as lesões musculares. As constantes lesões acabaram interrompendo o sonho da gaúcha em disputar o Pré-olimpico feminino, que naquele ano se realizou em Cuba. “Na seleção, os treinos eram forçados, com uma carga de 7 horas diárias. Não estava acostumada a esta rotina, pois no Estrela treinávamos apenas duas vezes por semana”, conta. Noêmia treinou por dois meses com a seleção feminina em São Paulo. Após, retornou ao sul, onde profissionalmente defendeu a Sogipa. No final de 84, Noêmia casou-se com o professor Flávio Kochemborger e veio residir em Candelária, onde passou a ser professora de educação física na extinta escola Rio Branco e no Concórdia – atual Ulbra/Concórdia, onde trabalha atualmente. Com a sua experiência, até hoje, Noêmia procura ensinar a prática do basquete aos seus alunos. “É gratificante poder compartilhar e dividir com os meus alunos as experiências que o basquete me proporcionou na minha juventude. É um aprendizado que jamais vou esquecer”, concluiu.