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25/08/2009 16:56
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Muito alm do que a escola ensina

Quando o candelariense Juarez Schunke resolveu participar de um intercâmbio para ganhar experiência em uma fazenda na Alemanha, já sabia que levaria na bagagem não só suas roupas e alguns pertences. O fardo maior certamente foi a saudade da esposa, dos dois filhos, do pai e da mãe. Mas com a obstinação que norteia os corajosos, partiu para Fürth, uma cidade de 90 mil habitantes ao Sul da Alemanha, em agosto de 2007. Além dele, outros 50 jovens do sul do Brasil também cortaram o Atlântico em busca de novos conhecimentos.
A abnegação pelo trabalho talvez seja o diferencial dos países desenvolvidos. As fazendas alemãs são gerenciadas como empresas, onde tudo se aproveita e tudo visa lucro. Na fazenda em Fürth em que o candelariense trabalhou, planta-se batatinha, trigo e aspargos, cria-se gado para corte e de leite e porcos. Os dejetos são transformados em biogás e outra parte utilizada para a adubação da lavoura, que chega a produzir mais do que o dobro do que no Brasil em uma mesma área. Grande parte da produção é destinada a abastecer um mini-mercado na propriedade que tem freguesia cativa, principalmente para comprar lingüiças e outros embutidos. Outro diferencial para os agricultores alemãos é o subsídio do governo para compra de máquinas e difusão de tecnologia renovável. Além de Juarez, outros dois poloneses trabalhavam na fazenda, de propriedade de um casal com dois filhos. “Seguidamente víamos o ‘patrão’ fechado em seu escritório e fazendo a contabilidade”, explica. “Se algo não dá lucro, não insistem em investir”, aprendeu. A cobrança é com o trabalho, a pontualidade e o compromisso, pois têm de aproveitar o período de verão, porque no inverno, com temperaturas que beiram os 20º negativos, a terra se torna infértil e a paisagem é tomada por fortes neves e geadas. Nas férias dos patrões, Juarez gerenciou a fazenda por três semanas, e se disse surpreso com a coragem do casal em deixar nas mãos de um estranho tamanha responsabilidade. (SEGUE)

 

Muito trabalho, mas o lazer também tem vez

Como um trabalhador comum, o estagiário também pode gozar de seu período de férias, quebrando o paradigma de que os alemães nunca descansam. No período de folga, foram incontáveis viagens de trem para conhecer países vizinhos, como a Suíça e a Áustria, onde conheceu uma estação de esqui, isso sem falar pelas voltas no centro de Nuremberg, cidade situada ao norte do estado da Baviera com aproximadamente 500 mil habitantes. A cidade é riquíssima em história e, apesar da sua destruição durante a Segunda Guerra Mundial, teve a maioria das construções medievais reconstruídas a partir de planos originais existentes desde a Idade Média. Até hoje o centro histórico é rodeado pela antiga muralha com uma extensão de 4 km. Mas certamente o que mais marcou a viagem de Juarez foi conhecer os majestosos castelos. Entre eles estava um construído pelo excêntrico rei Ludwig II (1845-1886). Segundo informações de guias turísticos, o rei gostava de fugir da realidade, e por isso construiu uma fortaleza onde podia viver num mundo de fantasias. Construído por um arquiteto de teatros, o “Castelo da Cinderela”, como ficou conhecido, tem dezenas de ambientes e cômodos de diferentes estilos, todos ricamente decorados, com destaque para a “Sala do Trono”, com o móvel principal coberto de ouro.
CHURRASCO – Uma novidade revelada por Juarez foi sobre alguns hábitos alimentares na Alemanha. Com uma churrasqueira feita por ele próprio ele apresentou ao pessoal da fazenda o churrasco à moda gaúcha. Segundo ele, a aceitação foi tamanha que o tradicional grelhado deve gradativamente perder espaço para o nosso famoso modo de assar carne.

O mundo sob outro olhar

Juarez voltou da Alemanha no meio do mês de setembro com outra visão do mundo. Ele pretende pôr em prática na Linha do Rio um pouco do que aprendeu durante o estágio, mas com “os pés no chão”, sabe de antemão que a realidade do agricultor brasileiro não é a mesma de lá. Por outro lado, acredita que possa fazer algumas adaptações principalmente no gerenciamento da propriedade onde trabalha com os pais. Ele sabe que em uma propriedade rural têm de ser observados os mesmos fundamentos de uma empresa de sucesso. Com o breve relato de sua viagem, ele espera que outros jovens filhos de agricultores possam se inspirar e participar dos intecâmbios e , além de angariar conhecimentos, fazer uma viagem pela história, porque certamente existem coisas que não se aprendem na escola. “Por que não vivê-las”, indaga.

Sobre o intercâmbio

A idéia de oportunizar o intercâmbio aos jovens candelarienses foi do vice-prefeito Ênio Hübner. Ele havia anunciado a notícia através do rádio e na Folha de Candelária e foi através do vice que Juarez despertou o interesse em ir para a Alemanha. Hübner já havia estagiado em administração pública em Berlim na época da Cortina de Ferro e relatou que a experiência foi indizível, tanto em aprendizado como em conhecimento cultural. No ano passado, apenas cinco jovens manifestaram o interesse em participar, dois foram aprovados e somente Juarez partiu.
No Rio Grande do Sul, são duas as agências responsáveis pelos programas de estágio a filhos de agricultores na Alemanha. A Deula, com sede em Ijuí, e a Afebrae, de Nova Petrópolis. Inicialmente, é necessário realizar um cadastro em uma das agências.
Todos os anos no mês de janeiro são feitas as provas de seleção para os candidatos que se inscreveram , sendo a prova constituída de parte prática (manejo de máquinas e trato com gado leiteiro) e teoria (conhecimentos gerais e língua alemã). Os candidatos aprovados são chamados para assinar um contrato de trabalho e providenciar a documentação necessária, sendo o embarque previsto para o mês de agosto do ano seguinte. Nos países de estágio, além do convívio com outros brasileiros, os jovens contam com o apoio de associações e entidades que os assistem, promovendo seu encontro periódico, dirimindo suas dúvidas e resolvendo os problemas que eventualmente enfrentam. São direitos do estagiário alimentação e moradia junto ao local de estágio, ajuda de custo mensal, seguro de saúde, férias anuais e participação em cursos, seminários e ensino teórico.

Informações
Deula – Deutsche Lehranstalt für Agrartechnik.

Rua Albino Brendler, 864
98.700-000 - Ijuí - RS
Fone : (55) 3332-9950 e (55)3332-2929
Fax: (55) 3332-9525
http://www.brasilalemanha.com.br/deula/inscricoes.htm

Afebrae – Agência de Fomento a Estágios de Brasileiros no Exterior
Av. 15 de Novembro, 1540, 3º andar - Sala 304
95150-000 - Nova Petrópolis - RS - Brasil
E-mail: afebrae@brturbo.com.br
- Fone/Fax: (54) 3281-1465
http://www.afebrae.com.br/