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Daredevil Journalist - Parte 1
Entrevista com o ladrão de calcinhas de Cerro Branco.
Uma das vantagens do jornalismo é poder preservar suas fontes, e utilizando-se desta premista, este que vos fala escreve passa hoje a publicar entrevistas exclusivas sobre fatos impressionantes e mirabolantes que acontecem em Candelária e região. E o primeiro entrevistado da série “Daredavil Journalist” (jornalista valente) é o ladrão de calcinhas de Cerro Branco. Ele nos revela os motivos que o levaram a surrupiar as peças íntimas dos varais e até mesmo de dentro dos tanques, fato que gerou um certo desconforto à população do município – coisa que não é de admirar, porque eu também fico desconfortável quando não uso cuecas. Vá entender as razões, mas o homem solicitou que a entrevista fosse na localidade de Linha Negra e a equipe de reportagem deveria ser composta por, no máximo, uma pessoa. Pois chegando ao local com todo o aparato – um bloco e uma caneta –, encontrei o homem com o rosto escondido por uma meia-calça, o que me levou a acreditar que ele também roube meias-calças. De costas, aparecia o fundilho do sujeito, quando também pude notar a marca na pele indicando que ele usou uma calcinha tipo asa-delta quando teve a última sessão de bronzeamento, possivelmente no Balneário Tia Zina. Pouco acima do cós das calças, aparecia a renda da calcinha vermelha que usava no momento da entrevista, o que por si só já matou a charada: ele pegava as calcinhas para usá-las e não para presentear, como foi cogitado pela imprensa.
Fui incisivo na primeira pergunta: – Por que usar calcinhas ao invés de cuecas, como todo homem?
– Porque gosto de variar. Calcinhas existem de todas as cores e de todos os modelos. Samba-canção e zorba já eram, te lembra daquelas cor-de-laranja e verde pistache que tinham um buraco para passar o bilau? Um horror, né? Ademais, os elásticos que sustentam as calcinhas são bem mais fortes do que os das cuecas. Detesto cuecas com elásticos desgastados, elas começam a se enfiar no ....
– Óia os modos – intervi. – Eu não posso botar estas coisas no jornal. Vamos à próxima pergunta: – Por que tu rouba calcinhas usadas em vez de comprar calcinhas novas?
– Porque as calcinhas usadas já vêm com as etiquetas cortadas pelas donas. Tem umas etiquetas que são maiores do que as próprias calcinhas, e estas coisas dão uma irritação no meu rego, tipo uma “cósca”* (*tradução: cócegas).
– Mais uma pergunta: o senhor tem bunda de esponja?
– Por que?
– Por que pelo que eu saiba, o senhor não escolhe o tamanho das calcinhas antes de levar, pega qualquer uma.
– Ha-ha-ha-ha-ha (isto são os risos dele). Não é isto, funciona que nem roubar milho passando do ponto, entre uma e outra espiga, algumas ainda dão pra aproveitar.
– Me diz uma coisa: quando o senhor rouba milho, aproveita também o sabugo?
– Vai te catar.
E assim o homem sumiu mato adentro e, por este motivo, ficamos devendo o restante das informações, prometendo para a próxima entrevista mais empenho e a elaboração prévia das perguntas, o que certamente irá evitar problemas desta ordem. Até mais, e lembrem-se, mulheres: sequem as calcinhas no varal do fogão para evitar a ação do ladrão.