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25/08/2009 16:56
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Impresses gachas da enchente catarinense

A chuva ainda não parou em Santa Catarina e a previsão é de que a precipitação cesse somente no dia 4 de dezembro. O volume expressivo observado desde setembro e que se intensificou durante as últimas semanas levou destruição e tristeza para o estado vizinho, onde mais onde mais de 97 pessoas haviam morrido até a noite de quarta-feira. Pelo menos 19 pessoas continuavam desaparecidas em razão da maior tragédia climática registrada no estado que afetou cerca de 1,5 milhão de pessoas. 78 mil encontram-se desalojadas ou desabrigadas.
Entre o universo de pessoas que residem no estado vizinho e que convivem diretamente com o drama da população catarinense, está o casal candelariense Carlos e Luciana Dummer e o filho Carlinhos.
Moradores do bairro Vila Nova, em Blumenau, no vale do Itajaí, eles não tiveram a residência em que moram atingida pela enchente, apesar de ficarem um dia ilhados e outros sem água, luz e telefone. O trabalho praticamente parou na marmoraria que o casal possui no bairro Itoupavazinha e somente um supermercado está funcionando na cidade. As lojas estão todas fechadas e os colégios não funcionam em toda Blumenau. “A chuva ainda não parou e a previsão é de que continue até o dia 4”, disse Luciana.
Ela acompanhou o drama de vizinhos em frente à sua residência. “A água subiu tão ligeiro que tiveram que pedir socorro e saíram pela janela do banheiro”, lembra. “Era triste ver a forma com que eles pediam ajuda”, complementa. Para se ter idéia da intensidade das chuvas, em apenas dois dias o volume de água foi equivalente a cinco meses. Somente em Blumenau foram contabilizadas até quarta feira 30 mortes.  Da sacada do apartamento, Luciana fez um registro fotográfico de dois carros de vizinhos sumindo à medida que o volume da água do rio Itajaí aumentava.
Entre os fatos marcantes presenciados por Luciana estiveram o desabamento de mansões na parte nobre da cidade. “As pessoas tentam salvar o que podem, mas a água levou móveis, roupas, eletro, tudo, deixando apenas destruição, barro e muita tristeza”, ressalta. Hoje, a apresentadora da Rede Globo Ana Maria Braga estará no município para levar doações. Apesar da tragédia, Luciana resigna-se. “Apesar de tudo, estamos bem e com saúde”, finaliza.

A visão jornalística de uma catástrofe
Vivenciar uma catástrofe como a que ocorre em Santa Catarina fica marcado para o resto da vida. A jornalista candelariense Paola Loewe, do Jornal de Santa Catarina, de Blumenau, além de sentir na pele os horrores provocados pela chuva, tem como missão fazer a cobertura dessa que foi considerada pelo presidente Lula a maior calamidade ambiental enfrentada pelo Brasil. Paola, que está fazendo reportagem sobre o assunto desde domingo, disse que a situação é grave e compara o caso com o que ocorreu em Nova Orleans, nos EUA, depois da passagem do furacão Katrina em 2005. “Acredito que a situação aqui seja bem pior”, destacou.
Ela conta que nos primeiros dias não conseguiu nem ir para casa, precisou dormir no jornal, onde outros seus colegas se abrigaram. Segundo Paola, a catástrofe atinge todas as camadas socias. “Ninguém escapou, há casas no centro da cidade que estão destruídas. Mas o pior não foi a enchente e sim os desmoronamentos. Existem casos de famílias inteiras soterradas. Vi muitos resgates de corpos. Tem gente que tem 30 anos de jornalismo e não viu o que eu vi essa semana em Blumenau”, destacou.
Ela conta que ainda não existe um plano de reestruturação das cidades. “A prioridade agora é salvar e resgatar quem está em perigo. Depois eles vão pensar em como reestruturar tudo. Como está chovendo, o risco continua e locais ainda não atingidos podem desmoronar”, explicou. Na mesma cidade moram outros dois irmãos de Paola, Mariele Loewe, que está grávida, e Demetrius de Oliveira, ambos com suas famílias. A entrevista com Mariele precisou ser interrompida, pois naquele momento ela recebeu um chamado urgente do jornal onde trabalha para fazer novas reportagens.

Em Brusque, o mesmo cenário
Na cidade de Brusque, que também fica no Vale do Itajaí, o fornecimento de água foi normalizado na quarta-feira, o serviço de telefonia está normalizando aos poucos, luz teve quedas durante a última sexta-feira, sábado e domingo. A Compenhia de Eletrificação de Santa Catarina estava fazendo a manutenção conforme conseguia avançar aos lugares mais afetados. A informação é de Carla Rutsatz, outra candelariense que mora com o marido Huandiner Rehbein em Santa Catariana desde 2005. Carla não soube precisar quantos mortos ou desabrigados existiam na cidade, uma vez que a defesa civil e bombeiros ainda faziam buscas nos bairros mais pobres e que sofreram mais com os alagamentos. Ela explicou que houve muita destruição nos morros, onde existem muitas casas próximas. Residente em um apartamento no bairro Guarani, o casal não sofreu com os alagamentos, mas o bairro todo ficou inundado.

Voluntário viu clima de guerra
O bombeiro voluntário Juvenil Benhard, de 32 anos, (foto ao lado) esteve quarta-feira em Santa Catarina ajudando as vítimas da catástrofe. Ele fez parte de um grupo formado por bombeiros de Venâncio Aires e Igrejinha, que levaram três toneladas de alimentos para Blumenau. Lá, Benhard ajudou a distribuir os alimentos e participou de buscas.  Ele disse ter ficado impressionado com o que viu. “Eu vi um cenário de guerra, nunca imagina ver uma coisa dessas. O desespero das pessoas, sem água e comida é muito triste”, comentou.

Sicredi disponibiliza conta para doações
O Sistema de Crédito Cooperativo – Sicredi – disponibilizou uma conta corrente para quem quiser fazer doações à população afetada pelas chuvas em Santa Catarina. O valor arrecadado será repassado para a Defesa Civil do Estado. Para fazer a doação é só ir até o ponto de atendimento do Sicredi mais próximo e depositar na conta corrente 16.200-0, unidade de atendimento (agência) 2602. Associados ao Sicredi também podem fazer a  doação pela internet, na página www.sicredi.com.br.

S.O.S Santa Catarina
O Corpo de Bombeiros Voluntários de Candelária também está engajado em uma campanha de arrecadação de mantimentos para os afetados na tragedia que abalou o estado de Santa Catarina. Interessados em fazer doações, podem comparecer na sede da corporação até o sábado, 29, às 10h, levando mantimentos.