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Geral 21/08/2020 15:57
Por: Redação

Memória: primeira ponte sobre o rio Pardo caiu em 1953

Enchente em outubro daquele ano derrubou a ponte ainda em construção na qual até o cantor Teixeirinha trabalhou

  • A ponte derrubada pela força da cheia do rio em outubro de 1953
  • Trabalho no interior ajudou o cantor gaúcho a conhecer os anseios populares
  • Lori Beskow: testemunha da queda da ponte

Um repórter é um contador de histórias. Esse papel ganha especial relevância quando sua pauta aborda episódios do passado pouco documentados, a exemplo da primeira ponte construída sobre o rio Pardo em Candelária, nos primeiros anos da década de 1950. Contar essa história remeteu a outras, como uma corrida de carros prejudicada pela queda da ponte e até a inesperada participação do famoso cantor gaúcho Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha. Essa reportagem surgiu a partir de uma foto publicada na seção "Do Fundo do Baú", que mostrou a imagem de uma ponte caída. A informação recebida era de que se tratava da primeira ponte construída sobre o rio Pardo, em Candelária, no mesmo local da travessia da atual RSC-287. Diante das poucas informações obtidas a respeito do fato, ao ser veiculada a imagem na citada seção "Do Fundo do Baú", questionou-se se algum leitor saberia informar o ano em que ano a ponte caiu e quando a atual foi concluída.
O advogado Egon Felipe Heuser respondeu à primeira indagação, informando que a ponte havia caído no ano de 1954. A respeito do fato, lembrou que a ponte fazia parte do percurso de uma corrida de carros na época e que, em função da queda da ponte, a passagem se deu pela barca de Candelária. Essa história - com uma correção sobre o ano - foi confirmada pela coluna Memória, veiculada em 2016 pelo jornal Gazeta do Sul, assinada pelo jornalista José Augusto Borowsky, que faz referência ao 1º Circuito do Fumo, corrida automobilística realizada em 15 de novembro de 1953, reunindo os principais pilotos gaúchos da época. A prova, coordenada pelo Automóvel Clube/RS, homenageou os 60 anos da Sociedade Ginástica de Santa Cruz. O percurso, de 180 km, incluiu os municípios de Santa Cruz do Sul, Rio Pardo, Cachoeira do Sul (via Pinheiro) e Candelária. "Como a ponte sobre o Rio Pardo, em Candelária, havia caído na enchente de 1º de outubro, uma barca realizava a travessia dos carros. Fiscais descontavam o tempo perdido". A descrição para a solução encontrada pela coordenação da corrida trouxe também a informação correta e devidamente documentada a respeito da queda da ponte, inclusive com relação à data do fato.
Sem outros registros conhecidos sobre o acontecimento, a reportagem foi atrás de relatos de pessoas. E, assim, conseguiu-se um depoimento de uma testemunha ocular da queda da ponte e encontrou quem fotografou a estrutura erguida sobre o rio ainda em construção e logo após ser destruída pela enchente de outubro de 1953. Lori Beskow, hoje com 85 anos, conta que naquela época dividia seu tempo como aprendiz da Carpintaria e Marcenaria Roos e Priebe e como ajudante do Hotel dos Viajantes. Tinha 18 anos na ocasião, lembrando que, a convite de amigos, foi até o rio ver a ponte, que ainda não conhecia. No local, ao lado das demais pessoas próximas, disse ter ouvido estalos de ferro se rompendo. Um dos pilares de sustentação cedeu e a ponte ficou inicialmente levemente arqueada para cima. Em seguida, conforme registra seu Lori, o inspetor de fumo Alfonso Steindorf ainda conseguiu atravessar a ponte com seu jipe. "Assim que ele passou, ela desabou", acrescentou. Na ocasião, o Hotel dos Viajantes - cujos proprietários eram Olga e Ewaldo Prass - hospedava vários trabalhadores da construção da ponte. Um deles era um jovem que à noite tocava violão e ensaiava suas primeiras canções antes de se consagrar como Teixeirinha, até hoje reconhecido como o maior ídolo da música gaúcha.

Estrutura tinha 91 metros de comprimento
O aposentado Edson Richter documentou a construção da primeira ponte sobre o rio Pardo através de várias fotografias, produzidas por uma câmera fotográfica com filme preto e branco. Em duas dessas fotografias verifica-se uma inscrição a caneta segundo a qual a ponte tinha 91 metros de comprimento e oito metros de largura. Nessas fotos da ponte em construção - datadas de junho de 1952 -, seu Edson destacou uma em especial na qual identificou sua falecida esposa Olinda segurando pela mão a então pequena filha Aida. Assim como fotografou a ponte em construção, Edson Richter também produziu imagens da ponte recém-caída pela força da cheia do rio. Ele conta que, depois dessa primeira queda, a estrutura reconstruída da ponte foi levada por outras duas cheias do rio Pardo. Seu Edson não recorda ao certo o ano em que a atual ponte foi inaugurada, acreditando ter sido por volta de 1955.

Teixeirinha: operário do Daer
Em uma rápida pesquisa sobre a biografia de Teixeirinha, verifica-se que antes de se consagrar como músico sua vida teve muitas idas e vindas. Um de seus primeiros empregos formais foi como operário do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), para onde foi levado por seu irmão Osvaldo. No período em que trabalhou como operário de máquinas pesadas do Daer, Teixeirinha trabalhou de fato na ponte sobre o rio Pardo em Candelária. Nesta época, segundo os relatos biográficos de sua vida, iniciou suas andanças pelo interior, fazendo sua fama em bailes, desafios de trova e programas radiofônicos. Essas experiências foram fundamentais para moldar a personalidade do sujeito batalhador e conhecedor dos anseios populares, que inspiraram algumas de suas canções.