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25/08/2009 16:56
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As riquezas do nosso futebol

O Gaúcho da Palmeira
1957. Em 4 de outubro daquele ano, os olhares do mundo se voltaram à antiga União Soviética, que lançava uma esfera de aproximadamente 50 centímetros ao espaço. O Sputnik foi o primeiro satélite artificial da Terra e não tinha nenhuma função, a não ser transmitir um sinal de rádio, um “beep”, que podia ser sintonizado por qualquer rádio-amador.
Alheios  a notícias  desta natureza, e bem longe da tecnologia que despontava, em meados daquele ano, um grupo de amigos se reunia aos finais de tarde na localidade de Linha Palmeira para dar atenção a outra esfera: uma bola de futebol. A modalidade começava a se expandir pelo interior do município e com o objetivo de enfrentar equipes de outras localidades, os irmãos Alduíno, Sílvio, Pio e Epaminondas Pinto Porto, resolveram fundar o Esporte Clube Gaúcho, de Linha Palmeira.
José Carlos Braga, o Zezinho, na época residia na localidade e jogava como centroavante da equipe. É ele quem conta sobre o primeiro jogo da agremiação, que tinha como cores o azul, preto e branco. “Foi contra o Botucaraí, na Vila Botucaraí. Realizamos aquele amistoso e fomos derrotados por 7x0”, recorda-se. No final de semana seguinte, Zezinho conta que a equipe propôs a revanche, que foi disputada no campo do Gaúcho, situado na  propriedade de Erwino Diehl. “Reforçamos a equipe com três jogadores de Cachoeira e derrotamos eles por 3x1”. Nos anos 50 e 60, não existia Campeonato Municipal. Zezinho salientou que a agremiação disputava amistosos e torneios de futebol de campo aos finais de semana, vindo a conquistar aproximadamente 30 taças, oriundas dos torneios. Um dos mais marcantes, vencido pelo Gaúcho, foi  organizado pelo time do Sarrazani, do Faxinal dos Porto, que contou com a participação de aproximadamente 27 equipes e foi disputado em um domingo. “Naquele torneio vencemos 10 partidas nos pênaltis e fomos campeões”. O destaque do torneio foi o meia-esquerda do Gaúcho, José Carlos Porto, que em 30 chutes, acertou 29 cobranças de pênaltis.

CLÁSSICOS – Os grandes rivais do Gaúcho sempre foram  o Botucaraí e o Independente, do Bom Retiro. O cabeleireiro Darci Paz, ex-lateral esquerdo do tricolor da Palmeira, conta que os duelos mais acirrados eram com a equipe do Bom Retiro. “Existia uma rivalidade muito forte entre os dois times e os jogos eram  bem equilibrados”, conta. Em 1972, a equipe de Linha Palmeira disputou o seu único Campeonato Municipal, sendo desclassificada na última rodada pela agremiação do Bom Retiro, após um empate em  2x2 na Linha Palmeira. Naquele ano, o Independente fez a final do certame com o Tabacos, do Passa Sete, que sagrou-se campeão ao derrotar  a equipe  do Bom Retiro na decisão por 3x1, em partida única disputada no Estádio Darcy Martin. A agremiação de Linha Palmeira acabou sendo desativada em 1973.  “Naquela época se jogava futebol com amor. Sinto saudades daquele time pela amizade e o companheirismo que tínhamos”, disse Darci. Fizeram parte do Gaúcho, os seguintes membros e atletas: Alduino Pinto Porto (1º presidente), Silvio Pinto Porto, Pio Pinto Porto, Epaminondas Pinto Porto, Elemar Porto, René Porto, Celso Roque Porto, Joaquim Porto, José Carlos Porto, José Carlos Braga (Zezinho), Omar Braga, Osmar Braga, Gricéri Porto Silva, Alberto Dorneles, Darci Paz, Diuverci Dorneles, Arlindo Jung, Enio Jung, Armindo Silzes, Ere Ellwanger, Lori Ellwanger, Ládio Landskrow, Danilo Rebhein, Ortunho da Silva, Otomar Wollmann, Livino Wollmann, Bercino Seberino, Alcides Seberino, Betinho Garske, Paulo Ritzel, Luis Ritzel, Danilo Landskrow, entre outros. Armando Deza foi o primeiro técnico da equipe.

O Flor da Serra, de Picada Karnopp
1963 foi marcado por eventos reconhecidos nacional e internacionalmente. Naquele ano ocorreu o primeiro vôo do Boeing 727, Maurício de Sousa criou a personagem Mônica, a Rede Tupi realizou a primeira transmissão em cores do Brasil, o cardeal Giovanni Battista Montini foi eleito Papa, tomando o nome de Papa Paulo VI, Ieda Maria Vargas foi eleita Miss Universo e o presidene americano John F. Kennedy foi assassinado durante uma visita a Dallas, no Texas. Pela pacata terra candelariense, foi fundado no dia 13 de janeiro de 1963, na localidade de Picada Karnopp, a Sociedade Esportiva Flor da Serra, com o objetivo de unir os laços de amizade através da prática do futebol, mas que acabou entrando na história do futebol no município.
Segundo o ex-lateral esquerdo da equipe, hoje proprietário da revenda Gündel Veículos, Reinaldo Gündel, nos primeiros anos, o campo do Flor da Serra ficava localizado na propriedade de seu pai, Fredolino Gündel, na localidade de Picada Karnopp. “Seu Naldo”, como é conhecido, conta que nos primeiros jogos da equipe, a maioria dos jogadores se deslocava a cavalo para as partidas. “Algum tempo depois, o Arnildo Otto (já falecido), comprou um caminhão e passou a transportar a nossa equipe”. O Flor da Serra era muito conhecido por jogar  vários amistosos e torneios. “Uma vez disputamos um torneio de futebol na Linha do Salso, no campo de propriedade do Bubi Rutsatz com duas equipes. Vencemos tradicionais equipes da época como o Tabacos e o São Bento, ambos do Passa Sete, e fizemos a final do torneio”, recorda. Outro fato marcante foi um amistoso que a equipe verde e branca de Picada Karnopp disputou contra o Olarias, na Linha do Rio. “Vencemos aquele amistoso por 6x0, com o João Moraes marcando quatro gols. Na semana seguinte, o Olarias convidou o João para fazer parte do plantel deles”. Seu Naldo relata ainda que grande parte dos jogadores da equipe disputavam campeonatos com o time do São Miguel, do Pitingal,  o qual existe até hoje. Em meados dos anos 70, a equipe mudou o campo para a entrada do Arroio Lindo, onde hoje está localizado o Ginásio de Esportes da Vila União. A equipe existiu até o início dos anos 80, quando acabou se dizimando. “Os que gostavam de futebol na região acabaram vindo para a cidade e os mais novos não continuaram com a equipe”, disse. Participaram do Flor da Serra os seguintes membros: Delano Wagner, Cirilo Wagner, Miro Rutsatz (Melado), Otomar Rutsatz, Erno Goelzer, Egon Frömming, Zenildo Quoos, Cidimar Krieck (Pastor Krieck), João Morais, Reinaldo Gündel, Romildo Gündel, Heitor Klaus, Sandor Cristmann, Arthur Rohde (já falecido, pai do secretário de Obras, Ênio Rohde), Adão Moraes, Quinco de Morais, Balduíno “Baldo” de Moura, José dos Santos, entre outros. Ataliba de Morais foi o primeiro técnico e Ari Ensllin o primeiro presidente da agremiação.
Na foto maior, a S. E. Flor da Serra: Delano Wagner, Sandor Christmann, Adão Moraes, Élio Carneiro, Oscar Moraes e Balduíno de Moura. Agachados: João Moraes, Eliseu Ferreira, Egon Frömming, Zenildo Quoos e Reinaldo Gündel.