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25/08/2009 16:56
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As riquezas do nosso futebol - captulo II

O São João, de Linha Ana
Dia 24 de junho, dia de São João. Segundo a Bíblia, a data comemora a data de nascimento de João Batista, considerado pelo povo como o “santo festeiro”. Reza a lenda que neste dia, os fogos de artifício soltados são para acordar São João. A tradição acrescenta que ele adormece no seu dia, pois, se ficasse acordado vendo as fogueiras que são acesas em sua homenagem, não resistiria e desceria à terra. Em Candelária, no dia 24 de junho de 1967, era fundado oficialmente na localidade de Linha Ana, na região da serra, a equipe da Sociedade Esportiva São João.
O agricultor aposentado Lírio Anton, hoje com 71 anos, conta que a equipe surgiu dois anos antes da fundação oficial, em meados de 1965, quando ele, os irmãos Elias e Mauricio Anton e os amigos Claudino Rech, Eliseu Rech, Celestino Melz e Lino Melz resolveram se reunir e formar a equipe. Sobre o nome do time, Lírio conta que São João foi escolhido como uma forma de homenagear o santo.  “Na época já existia o São Bento na Linha do Rio e, em homenagem ao dia de São João, resolvemos colocar este nome no time”, diz.  Nos primeiros anos, a equipe disputava somente amistosos pela região. O campo da equipe ficava situado na propriedade de Waldemar Klafke, em Linha Ana. Seu Lírio se recorda de um torneio amistoso vencido pela equipe em 1966, na localidade de Alto Castelhano, no Vale do Sol, quando o São João derrotou a equipe do Fontoura Gonçalves, de Alto Castelhano, por 2x1, recebendo da equipe derrotada uma taça. “Jogávamos apenas amistosos como uma forma de integração com as outras comunidades”, conta. A equipe também enfrentou equipes como São Bento, Olarias, Palmeiras, da Linha Alta, Formosa (Vale do Sol), entre outros times.

PADRES - Lírio, que era ponta-direita, destaca a participação de Zeno Rech e Genemar Melz, que na época estudavam para serem padres. “Quando os padres estavam, era difícil nós perdermos os amistosos. Ambos eram fortes e jogavam muito”, conta. Outro jogador que se destacava era o centroavante Eliseu Rech. “Este era goleador, sabia fazer gols”. Outro ponto positivo destacado por Lírio foi a ativa participação da torcida nas partidas amistosas. “Na época tinha muitas meninas e elas sempre acompanhavam os jogos aqui e nas outras localidades”.

BANDEIRA - As cores do time eram azul e branco. No dia 24 de junho de 1967, uma solenidade no antigo Salão Anton, marcou a fundação oficial da equipe. Na oportunidade, a bandeira da equipe, doada pelo deputado estadual Norberto Schmidt, foi batizada e o time recebeu um uniforme, nas cores do Grêmio, doado por Silvérius Kirst, na época, também deputado. A agremiação seguiu disputando amistosos, mas o time de futebol acabou terminando em 1969. A partir de 67 também começou a funcionar a sociedade, que existiu até 1973 no Salão Anton. A equipe do São João não chegou a disputar campeonatos municipais. Após a extinção desta equipe, a comunidade de Linha Ana não teve mais times de futebol. “Os jovens daqui começaram a ir embora cedo e ninguém mais se interessou. É uma pena, pois era um lazer que envolvia diversas famílias aqui na comunidade”, diz Lírio. Fizeram parte da equipe os seguintes jogadores: Lírio Anton, Elias Anton, Mauricio Anton, Theomero Konrad, Armindo Konrad, Eliseu Rech, Álvaro Klafke, Celestino Melz, Augustino Morsch, Romeu Zenam, Albino Ferreira, Zeno Rech, Genemar Melz, entre outros. Álvaro Klafke era o técnico e Lírio Anton foi o primeiro presidente.
Na foto que ilustra a matéria, uma das formações do São João: Lino Melz, Theomero Konrad, Eliseu Rech, Armindo Konrad, Alvaro Klafke e Elias Anton. Agachados: Lirio Anton, Celestino Melz, Augustino Morsch, Mauricio Anton e Romeu Zenam

O São Bento, do Passa Sete
Meados da década de 40. A segunda guerra mundial assustava a população mundial, principalmente em 1945 após as explosões das bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, ambas no Japão, matando milhares de pessoas. Nesta década também foi criado o primeiro computador, assim como o primeiro helicóptero e o primeiro transístor. Foram também estabelecidos a ONU, a OTAN, o FMI e o Banco Mundial e também teve início o Plano Marshall, de recuperação econômica da europa pós-guerra.
Em meados de 1947, em meio à turbulência do pós-guerra, surgia na localidade de Linha do Rio, a equipe de futebol do Esporte Clube São Bento. O aposentado Utalcino Brixner, um apaixonado por futebol, foi o fundador da equipe que surgiu em sua propriedade. Segundo “Seu Cino”, como é chamado pelos amigos, o time surgiu devido a união de vários jogadores da região que se reuniam para jogar futebol aos finais de tarde na localidade. Nos primeiros 20 anos, a equipe disputava amistosos e torneios. Nesta época, o time, comandado por “Seu Cino” possuia os seguintes jogadores: Loreno Scherer, Almiro Rutsatz, Liro Goelzer, Bruno Goelzer, Ari Beise, Ero Faber, Arnaldo Beise, Artêmio Brixner, Eldo Faber, Orlando Scherer, René Wegner e Nelson Beise. Como destaque, o treinador lembra do zagueiro Almiro Rutsatz, mais conhecido por Melado. “O Melado era um zagueiro completo, sabia jogar. Não existia na época um zagueiro assim no Brasil”, conta. Outro destaque mencionado por Cino era o centroavante Eldo Faber. “O Eldo era um dos melhores centroavantes que teve na época. Ele era técnico e sabia usar a malandragem para fazer gols”.

CLÁSSICO – Em 1967, o campo do São Bento passou para a propriedade de Lauro Canísio, na localidade de Passa Sete. O time seguiu realizando amistosos, mas sem o comando de “Seu Cino”, que acabou se afastando da equipe. Em 1974, o São Bento disputou o seu único Campeonato Municipal e contou com a volta do fundador para treinar novamente a equipe. Cino salientou que aquele certame foi disputado em pontos corridos, onde os dois melhores times disputaram a final. Na decisão, o São Bento enfrentou o Tabacos, do Passa Sete, no clássico da localidade, em duas partidas disputadas no Estádio Darcy Martin. No primeiro jogo, as duas equipes empataram em 1x1. Seu Cino lembra que neste jogo, o árbitro anulou um gol legal da sua equipe e terminou a partida antes do previsto por falta de luz natural. “Contesto até hoje o gol que o árbitro anulou. Certamente poderiamos ter jogado com a vantagem do empate no segundo jogo”, recorda-se. Na derradeira partida, as duas equipes voltaram a empatar em 1x1, decidindo o certame nos pênaltis. Nas cobranças, o Tabacos conquistou o bi-campeonato municipal ao vencer o rival por 4x1.

PELÉ E GARRICHA - A equipe preta e branca do Passa Sete, vice-campeã municipal em 74, foi composta com os seguintes jogadores: Roni Krug, Ivo Schmachtenberg, Darzon Backes, Selvino Karnopp e Niro Nicareta; Chiquinho, Ery Mattana, Coquinho e Pelé; Beno Borba e Onélio Moura (Garrincha). Entre os destaques da equipe estavam o ponteiro Garrincha e o meia Pelé. “Era fatal. O Garrincha cruzava para o Pelé, que era ligeiro, se livrava da marcação e marcava os gols. Era um meia forte que não tinha medo de tomar pancada dos zagueiros”, conta.  O São Bento continuou jogando amistosos até meados de 1977, quando interrompeu sua trajetória. Após o São Bento, “Seu Cino” voltou a fazer futebol alguns anos depois em sua pripriedade, quando fundou o Atlético, de Linha do Rio. A equipe disputou jogos amistosos na primeira sede do São Bento durante dois anos, vindo a terminar no início dos anos 80.