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25/08/2009 16:56
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O chimpanz boca-aberta

Verão estendido é um terror. A gente deita com calor, logo está com frio, volta o calor na madrugada e acorda com o corpo todo duro. Claro que no meu caso tem a colaboração do colchão, que comemora em agosto bodas de prata. Densidade 26 e 25 anos de idade, um recorde. Pois dia desses (noite dessas, no caso), sonhei que tinha acordado na copa de uma árvore, cercado de folhas, de araras e macacos de diversas espécies. Além de estar em um habitat totalmente estranho, algo errado se passava com meu corpo. Quando fui coçar a cabeça, algo não deu certo. Notei que meus braços tinham crescido meio metro, meus dedos estavam mais compridos e até próximo das unhas tinha pelos a fazer inveja ao Toni Ramos (ou ao Fofão). Com as pernas, a mesma coisa. Quando finalmente consegui sincronizar o movimento para coçar a cabeça, outra surpresa, minhas orelhas pareciam ser bem maiores do que o normal, tipo um Fusca de porta aberta, tão ligados? Ao me levantar sobre o galho, não conseguia ficar ereto, parecia que minha coluna recebeu uma ordem para não se espichar. Mas o mais terrível foi notar que eu tinha ganhado um... apêndice. Sim, amigos, eu tinha ganhado uma cauda de mais ou menos um metro e meio, peluda, que teimava em tomar a forma de cabo de guarda-chuva. Perplexo e prejudicado cerebralmente por causa do tamanho do crânio, não conseguia entender o que tinha acontecido comigo. Só conseguia pensar em sexo e em frutas (não gays, frutas de verdade). Muitas vezes me sentia renegado, porque não admitia participar da brincadeira preferida do bando: fazer cocô na mão e atirar nos outros. Brincadeira mais porca, esta, pensava eu. Tudo em mim era igual a um chimpanzé, menos a face e os olhos, que me diferenciavam dos outros, o que me faziam ser muito procurado pelas macacas da tribo.
Já estava me acostumando com a vida silvícola quando, num belo dia, um homem todo vestido de branco, acompanhado de mais uns quatro ou cinco, aproximou-se da nossa árvore e começou a nos observar com um binóculo. Ouvi quando ele disse a outro: – "Não tem nem um bugio morto ali em cima". Quase que perdi as estribeiras. Um monte de macaco em cima da árvore e um burro embaixo. Se fosse para achar um bugio morto tinha que olhar pro chão, e não pra cima, mas tudo bem. Seguiram eles num papinho descontraído comendo galinha com farofa embaixo da árvore quando um falou em febre amarela. – "Pois é, acho que nesta região não tem febre amarela, não tem nem um bugio morto".
Num lampejo, lembrei que um dia antes da minha transformação eu tinha tomado a vacina contra a febre amarela. E daí que a coisa começou a embatucar de vez. Ora, se a vacina contra a febre amarela é feito à base de ovo (do embrião das penosas, bem entendido), por que então não tinha me transformado em uma galinha (num galo, no caso)? Como é época de roubar comer milho verde, e tenho roubado comido muito milho verde ultimamente, a vacina deve ter sofrido algum tipo de modificação, o que acabou potencializando seu efeito e, consequentemente, me transformou em um símio. Agora, cá com meus botões, ser um macaco que só pensa em sexo e em comer frutas é muito melhor do que botar ovo ou acordar de madrugada para cantar em cima de um pau.
Enquanto eu divagava, a macacada continuava na guerrinha de bosta quando, de repente, um errou o alvo e acertou no meio da fuça do tal de homem de branco. Eu, boca-aberta, não consegui conter o riso – uma onomatopéia tipo u-u-u-u-á-á-á-á-á-á – e fiquei olhando pra ele com uma cara que só, meio que me condenando. E adivinhem... – “Foi ele, aquele secão narigudo de olho azul! Pega a arma e dá um tiro de tranquilizante no safado!”, disse o da roupa alva.
Senti uma fincada no lado esquerdo da costela e já começou a me dar um calorão. Tentei fugir com o rabo enroscado num galho da árvore, mas não alcancei o cipó e despenquei lá de cima. De repente comecei a escutar uma voz feminina: – "Que bonito, né? Estas cachaças com butiá ainda vão te matar. Beber um pouquinho até vai, mas chegar ao ponto de passar a noite inteira falando de macaco e guerrinha de bosta, cair da cama e ainda arrancar o lençol já é demais", disse-me a plácida esposa, que foi mais longe: – "E vê se nesta semana vai tomar a vacina contra a febre amarela. Tu viaja todo dia e pode ter algum mosquito infectado dentro dos ônibus".
Caramba, que chegue logo o clima de outono e, falando sério, vamos nos vacinar. Nunca se sabe...

Conversas de MSN
Alan Wagner diz: Temos comemoração do centenário do colorado no sábado, ao lado da Gráfica ALS, ao meio-dia. Cada um leva um pedaço de carne. Churrasco comunitário.
Luis Roberto diz: Beleza! Eu entro com o Furadan!
Alan Wagner diz: He, he, he. Vê a possibilidade de fazer uma chamadinha naquela tua coluna que só sai bobagem.
Luis Roberto diz: Tá, xácomigo!
(Feito. Mas eu é que não vou).