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25/08/2009 16:56
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Riquezas do nosso futebol - Captulo IX

Anos 70. Época da crise do petróleo que levou os Estados Unidos à recessão enquanto a economia de países como o Japão começava a crescer. Neste período também surgia o movimento da defesa do meio-ambiente. Muitos a consideram  a “era do individualismo”, pois foi quando eclodiram os movimentos musicais do Rock and Roll, das discotecas e também do experimentalismo na música erudita.  No futebol, a seleção brasileira conquistava em o tri-campeonato mundial na Copa do Mundo disputada no México, após vencer a Itália por 4x1. A conquista da seleção incentivou um grupo de amigos que morava na localidade de Linha Facão a formar, na época, a equipe de futebol  do Canarinho.
Segundo o aposentado Leonildo Knies,  ele, juntamente com os amigos Erwino Pagel, Lauro Pagel, Bertoldo Behling,  Enio Schoreder, Ernani Behling, Armindo Zuze, Rudi Kohl, Verno Gelsdorf entre outros, decidiu formar um time de futebol em Linha Facão. O campo da equipe ficava na propriedade de Erwino Pagel. Knies conta que nos primeiros anos, a equipe disputava apenas amistosos contra times da região e da cidade, não chegando a competir nos primeiros municipais  da época. “Me lembro que enfrentavamos o Olarias, Canarinho da Rebentona, Brasil, Vitória e Faxinal, entre outros times que já existiam e eram tradicionais",  conta.  Sobre o nome do time, ele diz  que surgiu devido ao apelido de Canarinho que foi dado à seleção brasileira depois  de conquistar  o título mundial de 70. A primeira fase da agremiação existiu até meados de 1976, quando o time parou com os amistosos em função da situação financeira da época.

DIRETORIA – Em 15 de março de 1984, o time  foi reativado, ocasião em que foi  eleita, em reunião no Clube Sul, a primeira diretoria do Esporte Clube Canarinho, com Leonildo Knies como presidente. O agricultor  Rudi Kohl era o vice-presidente da agremiação na  primeira gestão e guarda até hoje em sua casa os registros oficiais da equipe. Após ser reativada, a agremiação amarela, verde e azul disputou seu primeiro campeonato municipal com  a seguinte formação: Rui Hintz, Erno Pagel, Elálio Schneider (Lalinho), René Schoreder, Ivo Rodrigues, Luiz Carlos Anchoff, Jorge Henrique Larger (Pingo), Glênio Larger, Marco Kohl, Rui Kohl, Enor Pagel, entre outros. Carlos Larger foi o primeiro treinador do time, que não se classificou para as finais.
Nos anos seguintes, a agremiação da Linha Facão voltou a disputar o certame, chegando nas semifinais em 88, onde foi eliminada pelo Botucaraí. Também chegou perto de disputar a final de 89, quando perdeu o título do segundo turno para o Minuano após decisão no tapetão favorável à agremiação da Vila Fátima. Em  91, teve início o cercamento do campo na propriedade de Rudi Kohl. Knies conta que o time conseguiu adquirir o material através de uma verba disponibilizada pelo deputado federal Paulo Micarone, da renda de uma sessão de cinema do antigo cine Coliseu (atual Supermercado Único) e do auxílio do então secretário de Educação, Itamar Vezentini, que era torcedor da equipe. A prefeitura, comandada na época por Elcy Simões de Oliveira, também ajudou, disponibilizando a mão- de-obra para a construção dos postes.
O cercamento foi concluído em 1992 e inaugurado em jogo festivo contra uma equipe de Canoas.   

Os títulos e as finais na década de 90
Mudou a década e o Canarinho passou a figurar entre os grandes times  no cenário futebolístico de Candelária.  A equipe de Linha Facão chegou ao ápice com o título municipal conquistado em 1991, após vencer duas decisões históricas nos pênaltis contra o Minuano nas semifinais e contra o Unidos da Vila Ewaldo Prass na final.  O comerciante Marco Kohl, hoje com 41 anos, lembra das duas partidas. Na semifinal o Canarinho havia perdido o primeiro jogo para o Minuano por 4x0 e precisava vencer para levar a decisão para a prorrogação. “Eles tinham o Rogério Cabeça, de Santa Cruz, que jogava muita bola e fazia a diferença. O Ênio Flores (treinador do Canarinho) colocou o Dilamar Rusch no segundo jogo apenas para marcá-lo. O Dilamar marcou e jogou demais, anulando o Rogério na partida”, relembra Kohl, que marcou dois gols na vitória do Canarinho por 4x1 na segunda partida. Vilson anotou  os outros dois gols. Na prorrogação, empate em 0x0  e nos pênaltis vitória do Canarinho por 3x2.

FINAL – Na outra semifinal, a equipe do Unidos, do bairro Ewaldo Prass, derrotou o Canarinho, da Rebentona, nas duas partidas. Por ser uma base da famosa equipe do São Jorge, o time era o grande favorito ao título. No primeiro jogo da final, vitória do Unidos por 4x1. “Pelo que nós já havíamos feito na semifinal, acreditávamos na conquista do título”, conta Kohl. No segundo jogo, com mais de duas mil pessoas no Estádio Darcy Martin, o Canarinho contava com o desfalque do zagueiro Rene Kohl, que estava suspenso. A equipe da Linha Facão venceu no tempo normal por 2x1, gols de Marco Kohl (2). Na prorrogação, ambas empataram em 1x1, gol de Clóvis para o Canarinho e Gilmar Pavin, para o Unidos. Nos pênaltis brilhou a estrela do goleiro Chico Preto, que garantiu o primeiro e único título municipal ao Canarinho com a vitória por 4x3 sobre o Unidos. “Sem dúvidas foi um dos títulos mais marcantes, pela raça daquela equipe. Foram partidas inesquecíveis ”, finaliza Kohl. O time campeão em 91 era formado por Chico Preto, Roni Gewehr, Gerson Tesche, Rene Kohl e Enor Pagel. Alex, Poio e Hermes. Marco Kohl, Clóvis e Vilson. Jogaram ainda Leomar Karnopp, Arselmo Wolf, Dário Hübner, Milton Menezes, Paulo Sanmartin e Dilamar Rusch. Ténico Ênio Flores. 

SETE JOGADORES – Nos  anos  de 91 e 92, o Canarinho foi finalista dos dois primeiros Campeonatos Intermunicipais entre Candelária e Cerro Branco, perdendo  as finais para o Estrela, de Linha Pfeifer. Em 93, a equipe do Facão conquistou o torneio-início do Intermunicipal, disputado no campo do Estrela. Neste mesmo ano, a agremiação da Linha Facão disputou as semifinais do municipal de campo, novamente com o Minuano. Rudi Kohl lembra de uma briga generalizada entre as duas equipes, onde a arbitragem expulsou três atletas de cada time. Como faltava mais de 20 minutos para o término, a arbitragem decidiu encerrar o jogo por falta de segurança. No meio da semana, o CMD decidiu realizar os 20 minutos restantes no domingo seguinte, apenas com os jogadores inscritos no confronto. “Foi o jogo que mais público teve aqui devido ao fato das duas equipes possuírem sete jogadores e pelo clássico que era Canarinho x Minuano”, conta. O Minuano venceu por 1x0, gol de Luiz Skolaude, se classificando para a final. Em 94, o Canarinho conquistou a Copa Antártica derrotando  o Ouro Preto, do Pinheiro. Com a paralisação do municipal de campo em 94, a equipe da Linha Facão  parou com o futebol, não retornando nos certames realizados a partir de 98. Em 2004, a diretoria decidiu encerrar as atividades, passando os seus bens para a Igreja Evangélica Luterana Cristo, de Linha Facão. Todos os troféus conquistados pela equipe estão no pavilhão da comunidade. Apenas o campo ainda pertence a Rudi Kohl e é  utilizado pela equipe adulta do Atlético nos municipais de 2006 e 2007.
Sobre o futuro, Rudi Kohl e Leonildo Knies não planejam reativar a equipe. Ambos possuem a opinião de que a situação financeira atual e a falta de jovens na localidade inviabilizam a volta da agremiação. “Na época, tínhamos 70% da base formada por jogadores da casa. Atualmente, se fazer futebol está caro e os jovens daqui tem outras atividades”, diz Rudi. “Na época havia amor a camisa, ao time. Tínhamos uma torcida fervorosa na localidade que vibrava com a equipe. Hoje, infelizmente o dinheiro tomou conta do nosso futebol”, finaliza Knies.

O time de 1991
O time campeão municipal em 1991: Leonildo Knies, Rudi Kohl, Leomar Karnopp, Enor Pagel, Francisco Cunha (Chico Preto), Gerson Tesche, Dário Hübner, Roni Gewehr, Alberto Spengler (Poio), Arselmo Wolf, Erno Pagel e Enio Flores. Agachados: Vilson Quoss (Porquinho), Milton Menezes, Marco Kohl, Clóvis Morsch, Paulo Sanmartin, Alex, Hermes da Rosa e Dilamar Rusch