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25/08/2009 16:56
Por:

Questo de mrito

Se alguém pretende rir com alguma coisa, recomendo que vá à seção de piadas. A coisa tá osca ultimamente e diante de certas coisas que andam acontecendo, preciso desabafar. O assunto que abordo hoje olho particularmente com olhos enviesados: a política. Claro que poderia ficar “na minha” e não entrar nessa seara tão perigosa, mas faço porque me considero, sobretudo, um cidadão. Antes de começar, quero dizer que todas as regras têm exceção e que não pretendo ser mau exemplo para ninguém, principalmente aos jovens. É que não aguento mais o velho discurso empoeirado de alguns dizendo que os jovens deveriam se politizar, acreditar mais na política. Daí eu pergunto: de que jeito? Já fui jovem também e no decorrer do tempo vi muitos candidatos que, ao se elegerem, se corromperam. Os exemplos são fartos e só não os cito porque a indústria do dano moral não dorme. Por incrível que pareça, estamos em um regime democrático em que somos “obrigados” a votar. E sempre somos culpados se votarmos errado. Sou contra o voto obrigatório porque me dói na alma saber que posso eleger um corrupto e ser culpado por causa disso. Nos últimos dias, frente aos escândalos da agência de viagens que virou a Câmara dos Deputados e outras mazelas que destemidos repórteres trouxeram à tona, sobrou para a imprensa, que foi acusada de tentar denegrir nossas instituições. Será mesmo possível solapar algo que já está mais por baixo do que porão de minhoca? A sociologia trata instituição como uma estrutura decorrente de necessidades sociais básicas, com caráter de relativa permanência, e identificável pelo valor de seus códigos de conduta, alguns deles expressos em leis. Mas leis de quem e para quem? Se a polícia pega um traficantezinho vendendo maconha, ele vai para a cadeia. São duras as penas para os pequenos. Mas e para os grandes?
Também em grande escala ocupam os noticiários as doenças mundiais: a gripe do porco, a gripe da galinha, a morte dos bugios e das pessoas pela febre amarela e, por último, o câncer da ministra, este com uma deferência toda especial, já que trata-se de uma potencial pré-candidata à presidência da república. Não sei se estou na contramão dos noticiários, mas uma coisa me chamou atenção quando Dilma convocou a coletiva. Nada menos do que um cardiologista, um oncologista e uma hematologista do hospital Sírio Libanês, uma referência no tratamento do câncer, acompanharam a distinta senhora. Feliz dela, que pode ganhar horas e horas na TV, com repiques em horários nobres, para, bem assessorada, falar de sua doença e dizer que está sendo super bem cuidada. Mas na sua condição de ministra, não deveria ela estudar a repercussão do fato ante aos milhares de brasileiros que morrem às portas dos hospitais sucateados ou nas filas de espera para cirurgias? Disto ninguém se lembra. O povo somente é importante na hora do voto. Depois, para usar uma palavra mais amena, que se ferre.
Mas nem tudo está perdido. Na contramão de tudo isso, o presidente da Câmara de Candelária, Ovídio da Silveira, inaugura nesta semana uma nova prática, a de levar ao conhecimento público os gastos em diárias e custeio de transporte para os vereadores. Há pouco, solicitar ao presidente da Câmara os valores gastos com diárias era como se fosse um insulto, e depois da publicação, críticas veementes eram dirigidas à Folha por tornar público algo que deveria ser público. O relatório, que será publicado quadrimestralmente, deveria servir de exemplo para todas as Câmaras do país, e não só para Candelária. Assim, os eleitores podem ver quanto seus representantes gastam. Mas lembrem-se que nem sempre o que mais gasta é o que mais faz. Nesta linha de raciocínio, para refutar todo e qualquer posicionamento de alguns que defendem cursos de aperfeiçoamento à profusão e, geralmente, em pontos turísticos do país, estão as sucessivas reeleições do vereador Rui Porto, que até hoje não gastou um centavo sequer em diárias e nem por isso deixa de ser um vereador atuante, atualizado e bem votado. Lembrem-se que, há bem pouco, vereadores bem colocados na ponta de cima da tabela das diárias não conseguiram se reeleger. E aí cabe uma pergunta: o dinheiro gasto pelo erário compensou o investimento? Não quero desacreditar nenhuma instituição, mas me sinto no direito de criticar quando as coisas estão erradas e, sobretudo, no dever de dar méritos a quem realmente merece. Por isso, senhores políticos de todas as esferas, façam por merecer.