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25/08/2009 16:56
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Riquezas do nosso futebol - captulo XII

Anos 80, uma década marcada pelo fim da ditadura militar e início da democracia na política brasileira. Década que marcou a popularização dos primeiros computadores pessoais e a descoberta da Aids. No esporte, foi um período marcado pela realização das polêmicas olimpíadas de Moscou, na antiga União Soviética, em 1980, e na cidade de Los Angeles, Estados Unidos, em 1984, que ficaram marcadas pela ingerência política no esporte em conseqüência da Guerra Fria. No futebol, Flamengo, em 81, e Grêmio, em 83, se consagram campeões mundiais. No automobilismo, Nelson Piquet e Airton Senna passam a alegrar as manhãs de domingo, conquistando vitórias e títulos mundiais na Fórmula Um. Aliado a toda essa efervescência, na localidade de Capão do Valo, interior de Candelária, duas novas equipes surgem no cenário esportivo, deixando muitas histórias em poucos anos de existência.
O agricultor João Carlos Fonte, hoje com 50 anos, foi um dos fundadores do Esporte Clube Cruzeiro, de Capão do Valo. Segundo Carlinhos, como é conhecido na comunidade, a equipe surgiu em 1984, após o término da equipe do Esporte Clube União, do Capão do Valo, fundado no início dos anos 80. Em 83 disputou as semifinais do municipal de campo, sendo eliminado pelo Olarias. No segundinho, a agremiação do campo foi campeã do certame municipal daquele ano. “Após aquela eliminação nos titulares, a maioria dos jogadores do União se desligou do time devido a discordâncias daquela partida contra o Olarias, pois tínhamos tudo para vencer e chegar a final contra o Pinheiro”, relembra. Após o término do União, no ano seguinte, Carlinhos, João Camargo e José Danilo Ottoni fundaram o Esporte Clube Cruzeiro. Ele conta que as cores do time foram definidas em azul e branco e o nome escolhido por votação entre os integrantes da equipe. O primeiro campo do Cruzeiro ficava na propriedade de Darci Gheno e, tempo depois, passou para a propriedade de Almerindo Ortiz, ao lado da capela Cristo Redentor, em Capão do Valo. O primeiro time foi formado com os seguintes jogadores: José Danilo Ottoni (Juca), José Cláudio Fonte, João Carlos Fonte, Alcemar Barbosa e Odanir Fagundes. Darci Gheno, Vitor Fagundes, Rudimar Moraes e Jurandir. Arcelino Camargo e João Camargo, que também era o treinador e organizador da equipe. “O João Camargo era quem fazia tudo. Ele era tão apaixonado pelo futebol que deixava os seus afazeres para buscar jogadores e organizar o time”, diz Carlinhos. Nos primeiros jogos, a equipe disputava torneios de futebol onze em Cachoeira do Sul, que ainda eram realizados naquela época.

MUNICIPAL – Mais tarde, revela Carlinhos, o Cruzeiro entrou no Campeonato Municipal de Futebol de 84. O ex- jogador afirma que para aquele certame, a organização liberou entre quatro e cinco jogadores de outros municípios. Com a liberação, a equipe do Capão do Valo ganhou reforço. O Cruzeiro enfrentou times como Minuano, Ouro Verde, Pinheiro, São Jorge, Botucaraí, entre outros naquele campeonato. “Me lembro de um jogo contra o Minuano aqui em nosso campo. O Telmo da Silva (já falecido) era o árbitro. Após um escanteio, o Jurandir acertou uma cabeçada no canto. A bola passou por fora da trave, mas entrando na rede pelo lado de fora e o Telmo acabou validando o gol. Apesar da pressão do Minuano, ele não voltou atrás e vencemos aquele jogo por 1x0”,  recorda. O time do Cruzeiro para a disputa daquele municipal foi formado com Amarildo, José Cláudio, Alcemar, Beto e Budica. Darci, Carvão, Jurandir e Lauri Glashorester. Carlos Fonte e João Camargo. O alvi-azul do Capão do Valo acabou eliminado novamente nas semifinais para o São Jorge em partida disputada no Estádio Darcy Martin.  “Aquele jogo com o São Jorge ficou marcado por uma briga generalizada entre os jogadores e torcedores das duas equipes. A partida não terminou e como o empate favorecia eles, o São Jorge foi para a final”, relata Carlinhos. Após a disputa daquele campeonato, o Cruzeiro foi desativado porque as pessoas que organizavam o time foram embora e porque o proprietário do campo, ao lado da capela da comunidade, não querer mais ceder o local para a prática esportiva. Alguns anos depois, os membros do Cruzeiro que ficaram na comunidade fundaram o Esporte Clube Boa Vista, que representou o futebol no Capão do Valo até meados da década de 90. Com a desativação do Boa Vista, o time que existe atualmente na localidade é o Grêmio Esportivo Capão do Valo, que em 2007 participou do campeonato municipal, sendo eliminado na 1ª fase.

FUTURO - Sobre o futuro do futebol no interior, Carlinhos acha que falta renovação. “Aqui no Capão do Valo, por exemplo, infelizmente a gurizada não está interessada no futebol. Eles preferem outras atividades e não se interessam pela modalidade”, diz. O ex-jogador, que também defendeu equipes como Pinheiro, Botucaraí e Canarinho, de Linha Facão, ressalta a sua preocupação com a entrada de dinheiro no futebol amador. “Joguei em vários times pela região e nunca recebi dinheiro na minha época. Hoje vejo que se a gurizada não recebe, eles não vão defender os times nos campeonatos. Infelizmente se foi a época de se jogar por amor à camisa. Hoje no amador se joga por amor ao dinheiro”, diz.


O time
O time do Cruzeiro em 1984 era formado por Juca Ottoni, Darci Gheno, Alcemar Barbosa, João Camargo, José Cláudio Fonte e Odanir Fagundes; agachados: Rudimar Moraes, Jurandir, João Carlos Fonte, Arcelino Camargo e Vitor Fagundes