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25/08/2009 16:56
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Cuco ou no cuco? Eis a questo

Se for mesmo verdade que da discussão nasce a luz, há que se discutir. Fico angustiado. Leio os periódicos, ouço as rádios, acompanho as representações populares e não me deparo com nenhum debate robusto. Apesar de toda a unanimidade ser burra, a concórdia é geral, quase unânime. Esse ambiente “água-morna” é pacato demais pro meu gosto.
O que pleiteio não é a agressão verbal que estimula desavença, e nem a afronta pessoal que incita disputa encarniçada. Baixaria não soma, só divide. O que reclamo é a falta do contraditório, a ausência do ponto de vista distinto e discordante. Reclamo a falta da polêmica que ilumina, da contradita que conduz à reflexão e gera alternativas. Contraditar é preciso.
As teses jamais são definitivas. Sempre cabe uma antítese para contestá-las, destacando, na prática, a velha e sempre boa dialética de Hegel. E daí, das posições antagônicas defendidas, nasce a síntese, luz do novo entendimento, do novo conceito. São os passos da evolução.
Já que ninguém contesta, eu protesto. E protesto a falta de contestação, questiono esta atitude dócil de resignação dos que têm o dever de protestar e se calam. E, no silêncio, desligam a luminária, apagam a luz e mergulham na penumbra. Essa penumbra indolente que acomoda, dá sono e faz sumir a necessária sensibilidade emocional.
Se optarmos pelo ambiente “água-morna”, vamos parar no tempo e perder o trem da história. Tem uma parcela de candelarienses, professores, escritores, políticos, e pensadores, entre os quais estou incluso por adoção e vontade, que não pode conformar-se com as coisas assim como elas são. E ante as alternativas possíveis, questionar: por que não?
A História mostra que os indivíduos tolerantes, os que fizeram concessões por apatia, ficaram no anonimato e assistiram, da platéia obscura e massificada, ao desfile dos protagonistas dinâmicos. Presenciaram, da galera, a marcha triunfante dos que se debateram por um mundo melhor. E mostra também, a sábia História, que nos três séculos entre 1400 e 1600 a Itália trepidava banhada por traições, assassinatos, guerras internas e discussões as mais intransigentes. Ao mesmo tempo, logo ao norte, a Suíça convivia amor fraterno. Os suíços, aquecidos pelo acolhedor fogo da lareira, comiam chocolate e se relacionavam em paz e harmonia. Só que, naquele período conturbado, a Itália produziu Maquiavel, Galileu, Michelangelo, Leonardo da Vinci... e  constituiu-se no berço do Renascimento. Os italianos foram os porta-estandartes da evolução cultural, mesmo que envoltos pelo caldo da controvérsia. Enquanto isso os suíços, agraciados pela auto-imposta convivência pacífica, o que produziram? O relógio cuco e a conta secreta.
Trocando em miúdos: para fazer relógio cuco dispensa-se o debate, mas, para crescer e desenvolver, debater é preciso. Que venha o debate!

Edemar Mainardi – Engenheiro Civil