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25/08/2009 16:56
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Uma pequena mas grande histria de amor

Fugindo um pouco do estilo, quero aproveitar a aproximação do Dia dos Namorados para contar uma história de amor.
Tudo iniciou no século passado, nos idos de 1999, quando um certo repórter de um jornal foi cobrir um evento em um balneário de uma cidade do interior. Era o mês de março e acontecia por lá um concurso que não acontece mais, chamava-se Musa da Lua, uma destas coisas legais que acabam se perdendo pelo tempo, como tantas outras. De uma excursão de um município vizinho veio uma moça de olhos azuis que já estava na alça de mira do rapaz desde que ela havia aparecido pela primeira vez na redação do jornal. Ela sempre tinha pressa e ele sentia uma atração por ela; tanto que deixava o computador abandonado ou alguém esperando ao telefone  para correr para a recepção para fitá-la mais um pouco, nem que fosse pelas costas. Mas ela não sabia disso, ou se sabia, ficava se fazendo de boba. Deixava algum documento e sumia do mapa, era assim.
Naquela noite de março, todas as estrelas se combinaram e fizeram uma conspiração com o objetivo de aproximar os dois. Sim, as estrelas estão lá com outros propósitos maiores do que apenas iluminar o céu. Foi quando de repente a máquina fotográfica que ela carregava para registrar a participação da representante de sua cidade no concurso não abria de jeito nenhum; e ela não conseguia tirar o filme para colocar um novo. Docilmente se dirigiu a ele, pois sabia que tinha experiência com aquele tipo de equipamento.
– Será que tu podia trocar o filme pra mim? A máquina trancou e....
– Claro – interrompeu ele –, com um sorriso interior pra lá de feliz para ficar no campo da redundância. E emendou: – E o que eu ganho em troca?
– Duas cervejas – respondeu ela.
– Combinado!
Passados alguns instantes ela voltou com as cervejas, e ele, não satisfeito, roubou um beijo. O tempo passou rápido e em maio já estavam noivos, porque um (feliz) acidente os fez esquecer os métodos contraceptivos. A barriguinha dela começou a crescer, deixando-a a cada dia com a silhueta mais arredondada e mais linda que ele já tinha visto. Lá pelo mês de junho era hora de comunicar a família que aquela barriga não tinha nada a ver com a gastronomia e seus excessos. Como ela tinha medo de dar a notícia, sobrou para ele falar ao pai dela. Duas doses de uísque lhe deram uma coragem danada e lá se foi ele para o quarto falar com o sogro:
– Sabia que o senhor vai ser vovô?
Bem assim, curto e grosso, ele disse. O futuro vô deu um pulo da cama e levantou para comunicar feliz da vida o acontecimento ao resto da família. Dali em diante os dois combinaram que sempre que ficassem grávidos iriam dar a notícia em primeira mão para para ele. Em agosto de 1999, mais precisamente no dia 28, mês considerado de mau-agouro para muitos, eles se uniram perante Deus em uma pequena igreja na também pequena Novo Cabrais. Ele, ela e o bebê ainda na barriga dançaram felizes a valsa dos noivos, e se a alegria dos noivos é que faz uma grande festa, aquela foi a maior de todas. Em dezembro daquele ano, no dia 30, nasceu uma linda menininha loira de olhos azuis, que foi batizada de Júlia Roberta. Não em homenagem à atriz, mas porque o casal achou o nome bonito, simples assim. Nasceu de quatro meses, com 3.650 gramas – de agosto a dezembro são mesmo quatro meses, façam a conta. Primeira filha, primeira neta, primeira bisneta, primeira sobrinha... primeira tudo.
De lá para cá se passaram 10 anos. No dia 28 de agosto, eles vão comemorar suas bodas de estanho. Como todos os casais, já discutiram por bobagens, já fizeram beicinho, já se irritaram porque ela acha certo se atrasar e ele acha certo chegar antes. A vida atribulada do dia-a-dia – escola da filha, trabalho dos dois, mercados, lojas, etc., etc., etc., – não permite que estejam sempre perto um do outro. Mas eles têm algo muito valioso hoje em dia e que se sobrepõe a todas as agruras impostas vez por outra pela vida: o amor. E este, infinitamente é maior do que tudo, até do que o próprio tempo.
Eu sempre tive para mim que o amor não se expressa com palavras. Acho que gestos, atitudes, histórias de cumplicidade como esta – que dariam centenas e centenas de colunas deste tamanho – são o suficiente. Mas se tu não acha assim, me rendo e digo: Cris, eu te amo! Feliz dia dos namorados!