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25/08/2009 16:56
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Pode acontecer com voc

Algo estava para acontecer. Nos fins de semana quando o Múnior vinha do quartel para casa era um verdadeiro estresse. Muitas vezes nós chegávamos em casa e alguns amigos já estavam esperando por ele, sem a gente mesmo saber se ele viria. As pessoas que conviviam conosco sabiam da nossa preocupação com ele. Muitas vezes pedimos para a Brigada recolher a moto, e muitas vezes também pegamos o carro e saíamos para ver onde ele estava, com quem estava e como estava. Ele reclamava que os amigos zoavam dele porque nós estávamos “marcando em cima”.
No dia do acidente o Múnior saiu de casa por volta das 9h da manhã acompanhado por um de seus amigos e só voltamos a vê-lo acidentado entre a vida e a morte no hospital. Não temos vergonha de dizer que nosso filho estava com um comportamento estranho e brigávamos muito por causa das suas atitudes e da sua turma. Já tínhamos alertado alguns amigos que não emprestassem o carro nem a moto (costumavam emprestar uns aos outros) porque se acontecesse alguma coisa nós não seríamos responsáveis, pois o Múnior não possui habilitação.
Depois de tudo o que aconteceu tivemos a certeza de que infelizmente a coisa era mais grave do que pensávamos. Múnior sempre foi um guri bom e muito amado por nós, nunca tinha dado nenhum problema e ultimamente estava sendo muito visado aqui na cidade e algumas pessoas nos alertaram para cuidarmos mais dele, não deixando que ele se destruísse. Muitas vezes ele pegava a moto escondida e na sexta-feira que antecedeu o acidente conversamos bastante e pedimos, inclusive, que repensasse sua vida porque ele tinha o corpo perfeito e não gostaríamos de vê-lo machucado ou que ele machucasse outras pessoas. Assim, ele concordou em guardar a moto e nós, preocupados, murchamos os pneus da mesma.
Mesmo diante do nosso apelo, sábado o Múnior se acidentou de carro (emprestado por um amigo). Não nos arrependemos das noites que passamos acordados, que fomos atrás dele, que esperamos ele chegar e que pedimos ajuda para a Brigada Militar. Por ele nós fizemos tudo de novo e muito mais. Talvez você esteja se perguntando por que estamos relatando tudo isso? Pensamos muito se deveríamos ou não expor nossa família e concluímos que os pais não abandonam os filhos. Ficamos loucos ao ver nosso filho, todo ensangüentado, entre a vida e a morte. Esperamos que as pessoas, assim como os jovens que foram ao hospital na noite do acidente e presenciaram o nosso desespero, possam tiram algum proveito disso tudo se colocando no nosso lugar ou no lugar do nosso filho.
Sabemos que a nossa vida é um eterno aprendizado, um crescimento espiritual a mais e que, infelizmente, na dor aprendemos que este sofrimento nos faz mais fortes na fé e no amor. Percebemos que a nossa família sem o Múnior não teria sentido.
Esperamos, ainda, que ele possa filtrar melhor suas atitudes, seu comportamento e companhias, valorizando mais a família e evoluindo espiritualmente com amor e humildade, apaixonado pela sua vida que foi presenteada por Deus novamente. Tudo deu certo. Podemos afirmar que nestes 59 dias em que o Múnior ficou internado, enquanto habitamos a praça em frente ao Hospital Caridade de Santa Maria, agoniados e desesperados, que ele nasceu para uma nova vida.
O Múnior para muitos seria apenas mais um amigo, mais uma parceria de trago que deixaria de existir, mas para nós que somos pais e para os seus familiares seria uma inconsolável dor saber que não teríamos mais sua presença e jeito alegre de ser. Quem ama cuida e sabemos que não conseguimos evitar o acidente. Procuramos mostrar o quanto ele estava errando e ele dizia: “não é bem assim, não dá nada”. E deu, né, filho? Tivemos que pagar juntos uma dor inexplicável, mas acreditamos que tu vá se tornar mais cuidadoso com a tua vida. Poderia ter acontecido com qualquer outro jovem, mas por algum motivo tu foi o escolhido. Precisamos continuar a vigília agora, mais do que antes, alertando quem também tem filhos. Afinal, eles são pedaços de nós, aos quais amamos incondicionalmente. Diante de todo sofrimento que passamos, deixamos um alerta para que os pais não desistam de lutar pelos seus filhos, que não tenham medo de procurar ajuda porque precisamos formar uma corrente do bem para que os nossos jovens ampliem seus horizontes na busca de uma sociedade mais digna. Que eles possam construir um futuro melhor até mesmo para os seus filhos.
Certamente este acidente foi uma lição para nós. Sabemos que não podemos viver a sua vida nem fazer suas escolhas, sejam elas boas ou ruins, mas temos o dever de orientar e mostrar a verdade porque cada minuto da nossa vida é precioso. Deus nos devolveu a vida do nosso filho sem sequelas e com seu jeitinho alegre de ser. A vida muitas vezes nos empurra contra os espinhos. Estes arranhões machucam, mas nos mostram a sensibilidade que possuímos, pois se somos capazes de adorar a rosas com espinhos, imagine as pessoas que mais amamos. Ela pode ter defeitos, mas para nós continua tendo o perfume e a beleza das flores. Também podem murchar, mas jamais deixarão de existir.
"Filho não se esqueça do amor que temos por ti e pela mana. Vocês fazem parte do colorido do nosso jardim e precisamos uns dos outros para continuar brotando todos os dias, mais lindo do que antes, pois onde tem vida tem esperança".
A combinação de álcool, drogas e direção é um fato grave, rotineiro e preocupante na nossa cidade. Precisamos urgentemente tomar uma providência. Você tem acompanhado o seu filho? Nós acreditamos que vale a pena.

* Tunico e Betina - pai e mãe de Múnior Porto dos Santos Florindo