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25/08/2009 16:56
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Riquezas do nosso futebol - captulo XVI

Um herói guarani reconhecido por lei no Rio Grande do Sul. Nascido em 1722 na região de São Luiz Gonzaga, Sepé Tiarajú foi um índio guerreiro que se tornou líder dos indígenas guaranis na chamada guerra guaranítica. Segundo a história, tudo começou em 1750 após a assinatura do Tratado de Madri entre Portugal e Espanha, onde foram delineados os limites territoriais entre portugueses e espanhóis na América do Sul. Após a assinaura do tratado, os índios guaranis residentes na região dos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, se recusavam a deixar as suas terras e transferir-se para o outro lado do Rio Uruguai. Com apoio dos jesuítas, em 1754 teve início a Guerra Guaranítica entre os índios e as tropas luso-brasileiras e espanholas. Um dos principais líderes guaranis foi o capitão Sepé Tiaraju, que comandou milhares de nativos na luta para manter seu território na região das missões até ser assassinado na Batalha de Caiboaté, ocorrida em São Gabriel, em 7 de  fevereiro de 1756. Após sua morte, a resistência guarani chegou ao fim em maio de 1756. Diante do heroísmo de Sepé Tiarajú pelo povo guarani, a nível estadual, a Assembleia Legislativa aprovou por unanimidade no dia 18 de novembro de 2005, o projeto de lei - de autoria do deputado Frei Sérgio - que declara Sepé Tiaraju como “herói guarani missioneiro rio-grandense” e institui o dia 7 de fevereiro (data da morte do líder indígena) como o dia oficial do Estado em homenagem à memória do índio guerreiro.
Em Candelária, surgiu em 1967, na localidade do Capão Claro, a equipe de futebol Esporte Clube Tiarajú. Segundo um dos seus fundadores, Abrilino da Silveira, hoje com 64 anos, ele e os irmãos Pedro, Paulo e Sérgio Silveira, mais conhecido por Sheko, tiveram a ideia de formar um time para realizar uma atividade de lazer. Sobre o nome da agremiação, Abrilino e o capitão da equipe, Paulo Obiraci Machado, atualmente com 59 anos, contam que foi uma sugestão de Pedro, como referência ao herói guarani. O campo do time ficava na propriedade de Fermino Soares da Silveira, o Gurizinho, que era pai dos fundadores. Os primeiros jogos foram amistosos contra equipes da região. O Tiarajú jogou contra Pinheiro, Albardão, Picada Escura, Boa Esperança (Capão do Valo), Bexiga, Independência (Bom Retiro), Gaúcho (Linha Palmeira), entre outros. “Uma vez fomos jogar um amistoso no Albardão. Um trator com reboque estava nos levando e no meio do caminho alguém deixou cair um toco de cigarro em cima do saco com as camisetas. Como tinha muito vento, rapidamente começou a pegar fogo no saco. Rapidamente nós controlamos as chamas, mas acabamos perdendo algumas camisetas”, conta Obiraci. Abrilino também relata que o Tiarajú estava invicto a 18 partidas amistosas e que aquele jogo com o Albardão, quando aconteceu o incêndio, marcou a primeira derrota do time.

Mais de 30 taças no currículo
O Tiarajú era um time que tinha bastante fama na época por ser imbatível nos torneios. Segundo Paulo Obiraci Machado, era difícil a equipe não disputar as finais das competições. “Tínhamos um time muito forte e sempre ficávamos em primeiro ou em segundo nos torneios” lembra. A equipe era formada com Luzimar Larger, Abrilino Silveira, Paulo Obiraci Machado, Milton Soares e Sheko Silveira. Pedro Silveira, Paulo Silveira e Mauro Flores. Sílvio Moraes, João Fermino e Rogério. Jogaram ainda Onofre Soares, Alemão, Chupim, Sapo, entre outros. Pedro Silveira era o treinador. “ O Pedro (já falecido) era uma pessoa sensacional e nos incentivava muito nos jogos. Tínhamos um respeito muito grande por ele”, conta Paulo. O ex-capitão ainda lembra que antes dos torneios, a equipe sempre fazia uma concentração na propriedade de Gurizinho, aos sábados, para treinar o time e organizar pescarias para integrar a equipe. “Na época, nós imitávamos as concentrações da dupla Grenal e preparávamos o time para os torneios no domingo, era muito divertido”, recorda.

REGIONAL – Abrilino e Paulo falam de um torneio regional, organizado pelo Boa Esperança, do Capão do Valo, que contou com a participação de 23 equipes, vindas de Candelária, Rio Pardo e Cachoeira do Sul. O torneio foi realizado no dia 21 de dezembro de 1969 e a equipe do Tiarajú sagrou-se campeã daquela competição. “Já era escuro e na final vencemos um time de Cachoeira do Sul. Após, me lembro que ergui a taça no salão de Carlitos Freitas”, diz Paulo. Abrilino ainda relata um desafio proposto pelo Tiarajú na época. “Vencemos um torneio no Daer, em Rio Pardo. Após receber a taça, desafiamos os organizadores a realizarem uma seleção do torneio para jogar um amistoso no domingo seguinte. Eles aceitaram e no amistoso derrotamos a seleção deles por 3x1”, conta um dos fundadores. A equipe do Capão Claro não chegou a disputar campeonatos municipais. O Tiarajú existiu até meados de 1978 e acabou porque alguns membros da equipe já estavam parando com o futebol devido à idade.

ATUAL – Comparando com o futebol da época, Paulo e Abrilino compartilham da mesma opinião. “Naquele tempo era bonito de ver as famílias torcendo, com cerca de 500, 600 pessoas participando em um clima de amizade e integração. Hoje, o dinheiro tomou conta e não existe mais o mesmo sentimento de amizade”, diz Paulo. “Antigamente não se pagava juiz para apitar nos torneios de onze e os eventos reuniam entre 10 e 20 times. Hoje, se você não paga uma boa arbitragem, não tem jogo. Se foi o tempo de se jogar por amor à camisa”, resume Abrilino.