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25/08/2009 16:56
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Plo da aviao civil

1935. Com 10 anos de existência, Candelária começava a ganhar os primeiros indícios de urbanização. Nesta época, as pessoas ainda tinham como meio de transporte os animais e poucos possuíam automóveis. Porém, um outro veículo chamava a atenção dos moradores da cidade. O aposentado Edgar Ensslin, hoje com a mesma idade de Candelária – 84 anos –, conta como foi a aparição do primeiro avião que sobrevoou Candelária. “Na época eu vi pela janela um avião fazendo vôos rasantes pela cidade. Como eu gostava de aviões, sai correndo pela rua e acompanhei aquele avião, que acabou aterrissando no Rincão”, conta. Segundo “Seu Etti”, como é conhecido, este avião era de Santa Cruz do Sul e, por problemas mecânicos, acabou pousando em um campo, onde hoje fica o Presídio Estadual de Candelária, atraindo a curiosidade de vários cidadãos. Na época, ninguém sabia o que era um avião. Cerca de 12 anos depois deste fato, Etti e Edson Richter, hoje com 80 anos, foram ao Aeroclube de Rio Pardo realizar um curso para pilotos. Etti acabou não concluindo o curso, mas passou a ser um dos membros do Aeroclube de Candelária, que foi fundado em 1948. “Algumas pessoas daqui criaram um movimento e com o apoio dos membros dos aeroclubes de Rio Pardo e Santa Cruz do Sul, foi criado o de Candelária”, conta Etti.

HANGAR - A sede do aeroclube ficava na esquina da avenida Pereira Rego com a rua 7 de julho, onde os membros realizavam as reuniões. Edson Richter conta que assumiu a presidência em 1955. Neste mesmo ano, foi colocada a pedra angular para a construção do hangar na propriedade de Roberto Kochenborger, na localidade da Linha Boa Vista. Após a construção, o hangar foi inaugurado no mesmo ano com um baile. O local possuía duas pistas, uma de 450 metros, no sentido oeste/leste, e uma maior, de 900 metros, no sentido norte/sul. “Era um local bonito e bem estruturado”, conta. Em 1958, o Aeroclube de Candelária obteve o seu primeiro avião. Richter relata que na época ele era o único piloto habilitado, por ter adquirido o brevet -  a permissão para pilotar. “Aprendi a pilotar quando eu estava servindo na Força Aérea Brasileira, nos anos 40. Após, fiz o curso em Rio Pardo e obtive a carteira de piloto”, revela. O aposentado lembra com saudosismo do telegrama recebido pelo aeroclube para retirar em Porto Alegre o avião adquirido pela entidade. “Fui até Porto Alegre e, após dois dias de transtornos em razão de um temporal, consegui trazer o avião para Candelária”. O avião, era um CAP – 4  PP/ROE.

BATISMO – O aeroclube local adquiriu ainda os aviões Payper e outros dois modelos Neiva. Com as aeronaves, tiveram início as aulas teóricas e práticas para pilotagem de aviões, que nos primeiros oito meses foram ministradas por Richter. Para obter a carteira de piloto, depois das aulas os aspirantes realizavam um exame que era aplicado por um tenente da Força Aérea Brasileira – FAB. Quando aprovados, os jovens pilotos recebiam o documento. Um costume da época era bastante utilizado entre os pilotos novatos, era o chamado “banho de óleo queimado”. Segundo o ex-piloto, esse costume era um ritual de batismo na função; o óleo queimado era derramado sobre os recém-formados. Além da prática de aulas, o hangar também funcionava aos finais de semana para os chamados turnos de pista, quando eram oportunizados os passeios de avião pelos ares de Candelária.

MUDANÇA – Em meados da década de 60, Edson Richter deixou o comando da entidade, que foi assumido por Milton Loewe, na época, juiz de direito no município. O aeroclube foi desativado na localidade da Linha Boa Vista e transferido para o local situado entre a cidade e a Vila Fátima, onde ficou conhecido por “Campo da Aviação”. Compromissos pessoais acabaram afastando Richter das funções no aeroclube e, em meados da década de 70, o mesmo foi desativado por não haver mais interesse entre os demais membros. Por falta de manutenção, os quatro aviões do aeroclube foram recolhidos pela Base Aérea de Canoas. Anos depois, o hangar passou a ser utilizado por aviões agrícolas, que realizavam vôos para aplicação de insumos nas lavouras do interior. Hoje, toma forma no local o parque de eventos do município. “O aeroclube era uma atração que causava a curiosidade dos moradores da cidade aos finais de semana. Um tempo bom que deixa saudades”, finaliza o ex-piloto.