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25/08/2009 16:56
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A arqueologia e a paleontologia em destaque

Repete-se a todo momento que Candelária está completando 84 anos de independência político-administrativa. Porém, a história do município pode ser contada a partir de um tempo muito remoto, conhecido como período pré-histórico. Neste caso, não são apenas anos, mas sim milhões de anos. Neste chão foram encontrados fósseis de animais que viveram há cerca de 220 milhões de anos, tempo que se torna até difícil dimensionar para os seres humanos que, com muita sorte, completam a idade de 100 anos. Outro capítulo relevante de Candelária, sob o ponto de vista histórico, está completando 376 anos. Transcorria o ano de 1633 quando foi fundada, em área não muito distante da atual cidade, na localidade hoje conhecida como Linha Curitiba, uma redução jesuítica que abrigou milhares de índios. Passados mais 200 e alguns poucos anos, o território antes habitado por dinossauros pré-históricos e índios receberia outros personagens muito importantes na sua história: os colonizadores alemães. Os imigrantes de origem germânica e seus descendentes criaram um núcleo habitacional que receberia o significativo nome de Vila Germânia. O povoado cresceu até se transformar no município de Candelária. Essa formação histórica da Terra do Botucaraí será tema de uma exposição na Expocande, por enquanto denominada Mostra Arqueológica, Paleontológica e do Imigrante.
A exposição é uma iniciativa conjunta da Associação Cultural de Candelária Érico Verissimo (Accev) e do Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues, com apoio da Prefeitura. Ainda em fase de formatação, a mostra arqueológica será focada na Redução Jesuítica, enquanto que a paleontológica será voltada para a importância das descobertas feitas em Candelária. De acordo com o curador do museu, Carlos Rodrigues, são duas riquezas expoentes de Candelária, que ainda carecem de um reconhecimento maior da própria comunidade.
A respeito da Redução Jesus-Maria, Carlos ressalta sua importância histórica, à medida que sediou uma batalha impulsionada por uma disputa internacional entre Espanha e Portugal. Fundada em 1633 e reconhecida como a mais bem desenvolvida entre as 18 listadas na primeira fase das reduções jesuíticas, Jesus-Maria foi destruída em dezembro de 1636 pelos bandeirantes liderados por Antônio Raposo Tavares. Mesmo sendo anterior às que seriam conhecidas como Sete Povos das Missões, erguidas a partir de 1687, a redução candelariense não recebe o mesmo destaque. Isso se explica, segundo Carlos, pela riqueza maior dos vestígios deixados pelos Sete Povos, com destaque, por exemplo, para as Ruínas de São Miguel.

Área ainda pode esconder vestígios
Isso não significa que não existam vestígios da existência de Jesus Maria. O Museu do Colégio Mauá, de Santa Cruz do Sul, por exemplo, possui centenas de peças e artefatos da redução, tais como pedaços de cerâmica, espadas e armas de fogo. Já o Museu Municipal de Candelária conta com apenas três peças: uma bala, uma machada e pedaços de louça. Carlos Rodrigues chama a atenção, no entanto, para o fato de que a área que abrigou a redução ainda pode esconder vestígios importantes. “Nunca houve uma adequada escavação em Jesus-Maria”, enfatiza. O curador do Museu acredita que uma correta escavação por uma instituição de pesquisa poderia revelar os alicerces da igreja construída no local e sinais de uma cacimba. Neste sentido, relata que ainda vivem em Candelária pessoas que afirmam terem conhecido uma cacimba naquele local. A mostra pretende contar essa história através de expositores e, se possível, com uma maquete da Redução Jesus-Maria.

ORIGEM DOS MAMÍFEROS - Em relação à mostra paleontológica, Carlos explica que a idéia é mostrar porque Candelária é considerada uma referência mundial nesta área. Exemplifica, por exemplo, que cientistas estão fazendo estudos para relacionar a origem dos mamíferos a fósseis encontrados apenas em Candelária e em Faxinal do Soturno. “Queremos explorar esse e outros conhecimentos na exposição”, completou. Neste aspecto, revelou que pesquisadores da Ufrgs irão realizar, ao lado de representantes do museu local, um trabalho de campo para a coleta de fósseis destes pequenos animais. Se encontrados, acrescentou, serão apresentados na mostra da Expocande. O Guaibassaurus candelariensis, considerado um dos dinossauros mais primitivos já encontrados, também será destaque da exposição.

IMIGRANTES - Já a mostra relacionada à imigração alemã objetiva valorizar a participação de seus representantes no desenvolvimento de Candelária e na formação da própria identidade de seu povo. O presidente da Accev, Roque Armindo Rathke, ressalta que mostrar utensílios e outros artefatos usados por imigrantes e seus descendentes é uma das melhores formas de promover este resgate histórico.