Por: Odete Jochims
Os 200 anos da imigração alemã no Brasil
Hoje, 25 de julho, marca a data oficial do bicentenário da imigração alemã para o Brasil. Para celebrar essa data, a Igreja Evangélica Luterana Cristo realizou uma palestra no último sábado, 20, com o pastor Eliseu Teichmann. Na ocasião, dezenas de pessoas prestigiaram o evento que, por sua vez, também contou com a inauguração de uma placa alusiva aos 200 anos da colônia teuto-brasileira. Ela acompanhará uma placa anterior, a do centenário, que fica no mesmo local.
Nascido em Candelária, na localidade de Arroio Grande, e atualmente morador de Londrina, no Paraná, o pastor Eliseu Teichmann possui formação em Teologia e História. Em seu mestrado, estudou a imigração alemã e a estruturação do luteranismo no Brasil. “Na palestra, analisamos o processo de imigração dos alemães para o Brasil, examinando as causas na Europa Central e no Brasil que impulsionaram essa migração. Também destacamos as condições gerais enfrentadas pelos imigrantes alemães aqui, incluindo a situação nas colônias, as dificuldades e os desafios encontrados”, explica o pastor.
Em entrevista à Folha, Teichmann pôde aprofundar o tema. O historiador e teólogo prossegue, afirmando que o contexto na Europa era de avanço da industrialização e o fim das relações feudais com a terra, o que deixava uma parcela significativa da população empobrecida e sem perspectivas. Do outro lado do Atlântico, no Brasil, os grupos dirigentes tinham o interesse de povoar territórios de fronteira, fortalecer um exército nacional e, a partir de uma perspectiva eugenista dominante na época, substituir a mão de obra escravizada, eliminar as nações indígenas e branquear a população.
Ainda segundo Teichmann, apesar da imigração ter iniciado em 1824, em São Leopoldo, os alemães que se estabeleceram em Candelária vieram de forma mais organizada somente a partir de 1860 em diante. “A historiadora Marli Hintz fez um levantamento muito acurado das lápides e identificou a presença de alemães já antes desse período, mas estes casos seriam eventuais”, pontua.
A região de Candelária fez parte de um empreendimento de colonização privado liderado por João Kochenborger, Jacob Welsch, entre outros, que compraram uma sesmaria e a lotearam em colônias. “Segundo o historiador Roberto Radünz, a maioria dos imigrantes que se assentaram no local são da região da Pomerânia, com uma parte menor sendo da região da Renânia”, pontua Teichmann.
A celebração do bicentenário da imigração alemã reflete a rica herança cultural trazida pelos imigrantes. A palestra do pastor Eliseu Teichmann destacou os desafios enfrentados e o impacto significativo na formação de comunidades como Candelária. A inauguração da placa comemorativa reforça a importância de honrar essa história, perpetuando um legado de perseverança e influência cultural que continua a ser celebrado e reconhecido.
O legado da colonização germânica
Quando se pensa em traços culturais da imigração alemã, imagina-se a culinária, as festas típicas, as músicas tradicionais, entre outros. Ainda que sejam elementos importantes, estes já são vastamente reconhecidos por grande parte da população, especialmente através de atrações turísticas como, por exemplo, as Oktoberfests de Blumenau, Santa Cruz do Sul e Igrejinha.
Contudo, é possível pensar nos impactos positivos da imigração alemã para o Brasil em uma perspectiva mais ampla e não tão estereotipada. Para o pastor Eliseu Teichmann, os imigrantes exerceram um importante papel tanto na agricultura quanto na indústria. “O Brasil era baseado no latifúndio e na monocultura; com os alemães, as propriedades são pequenas e, nelas, se trabalha toda a família. É ali que surge a agricultura familiar”, enfatiza. Na indústria, Teichmann destaca o papel das iniciativas coureiro-calçadista, metalúrgica e têxtil.
Com a imigração alemã também ganha corpo o cooperativismo. O associativismo já se fazia presente nas comunidades através de clubes de canto, de ginástica e de tiro, mas são nas colônias teuto-brasileiras que surge a primeira cooperativa. “Diante das dificuldades enfrentadas pelos colonos e seus descendentes, havia senso maior de necessidade de cooperação entre a produção e o comércio”, pontua Teichmann.
Os alemães também trouxeram consigo o protestantismo e a diversidade dentro das igrejas cristãs. Até então, a única igreja permitida era a Católica. “A maioria dos imigrantes que vieram até aqui eram Luteranos”, explica o historiador e teólogo.
Por fim, há um importante legado na educação. Antes da vinda dos imigrantes alemães, a educação formal era restrita à uma pequena elite e exclusiva para meninos. Por sua vez, os colonos vinham de uma outra realidade, onde as crianças, inclusive as meninas, precisavam ter acesso à educação básica. “A educação brasileira, sem dúvida, deve um capítulo à esta história”, conclui Teichmann.
Por : Arthur Lersch Mallmann