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Geral 04/04/2024 16:30
Por: Odete Jochims

OUTONO COM ALTA FREQUÊNCIA DE TEMPORAIS

Vários episódios de tempo severo atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos 30 dias com temporais de chuva intensa e vendavais de até 140 km/h. O Rio Grande do Sul vem enfrentando uma sequência de temporais neste outono com danos em diversas localidades e grande impacto na rede elétrica por efeito de vendavais que acompanharam as tempestades, algumas fortes a severas. Praticamente todas as regiões gaúchas sofreram com os temporais.

Na Sexta-Feira Santa, em 29 de março, uma nova rodada de temporais no Rio Grande do Sul, causando falta de luz e danos. Houve registro de destelhamentos em cidades como Cruz Alta, Venâncio Aires e Porto Alegre. Na capital, três pessoas ficaram feridas em desabamento. Na noite de ontem, 3 de abril, mais uma rodada de temporais, que atingiram o Oeste e o Sul do estado. Bagé, que teve rajadas de vento de quase 100 km/h, foi o município mais castigado com destelhamentos, queda de árvores e falta de energia elétrica.

Mas por que tantos temporais neste primeiro mês do outono meteorológico? Conforme a análise da MetSul Meteorologia, a causa principal está no comportamento das massas de ar na América do Sul com temperatura muito acima da média no Brasil e na parte central do continente. Se analisado cada episódio de tempo severo, quase todos têm como coincidência ar muito quente atuando entre o Centro-Sul do Brasil e os países vizinhos, inclusive com recordes de temperatura de várias décadas a mais de um século em algumas cidades do Sul e do Sudeste, além da Argentina que teve vários recordes derrubados.

O mais importante evento de tempo severo de março, o do dia 21, se deu com uma frente fria encontrando uma massa de ar quente muito intensa, o que potencializou os vendavais no Rio Grande do Sul. Dias antes, a cidade de São Paulo igualou o seu recorde de calor para março de 34,3ºC por dois dias seguidos e no terceiro estabeleceu novo recorde com 34,7ºC, o maior valor da série histórica no mês desde o começo dos dados em 1943. A bolha de calor que precedeu a frente fria do dia 21 teve ainda recordes de mínimas e máximas para março em elevado número de cidades da Argentina, onde a temperatura chegou a 45ºC na onda de calor. Na véspera da frente, no dia 20, Porto Alegre registrou em pleno primeiro dia do outono a sua mais alta temperatura do ano com 37,1ºC na estação convencional. No evento de menor porte do dia 28 de março, novamente o ar quente estava presente. A temperatura máxima foi de 33,1ºC em Porto Alegre e Campo Bom anotou 35,2ºC, marcas muito elevadas para o final de março e que agravaram o risco de vendavais no estado. Ontem, outra vez o calor esteve presente. A linha de instabilidade que avançou na dianteira de uma frente fria encontrou a atmosfera aquecida no estado. Cidades do Norte e do Noroeste chegaram a anotar máximas de 35ºC a 36ºC. Passo Fundo anotou a sua maior máxima em abril desde o começo das medições em 1913, com 33,7ºC.
Muitos eventos de tempo severo, assim, acompanharam neste outono até agora muitos eventos de calor excessivo e até histórico. O El Niño, mesmo perto do fim, ainda estava forte em parte de março e certamente influenciou para a ocorrência de eventos de chuva extrema e temporais. Os reiterados eventos de calor excessivo e recordes, entretanto, podem ter influência de mudanças climáticas, mas a atribuição de eventos isolados de tempo severo a alterações do clima geradas por emissões de gases estufa é muito intricada. Estudos de atribuição já encontraram evidências de impacto das mudanças climáticas no recente histórico dos últimos meses de muitas ondas de calor no Brasil, e que coincidiram com temporais fortes frequentes no Rio Grande do Sul.

Fonte : conteúdo da MetSul