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25/08/2009 16:56
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Amendoim, o melhor amigo do melado

A série “Riquezas da Nossa Terra” descreve hoje, 14, o potencial das lavouras de amendoim no município. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - 2007), aproximadamente 19 hectares são cultivados com o grão. O rendimento é de 20 toneladas (1.052 quilos, por hectare, em média) e a produção está avaliada em R$ 69 mil. De modo geral, é uma planta de fácil cultivo e que se desenvolve em solos arenosos. Na edição da última terça, 7, a Folha destacou as peculiaridades da cana-de-açúcar. O leitor conferiu que os canaviais são mais utilizados na alimentação dos animais porque são poucos os agricultores que investem na produção de melado ou cachaça. Foi explicado ainda que as plantações de cana-de-açúcar existentes em Candelária são antigas. A fase de maturação varia de março a julho. Sobre as características, é uma planta perene e que exige poucos cuidados.
Já o amendoim pode ser cultivado entre os meses de setembro e janeiro. Conforme o técnico agrícola e extensionista da Emater, Sanderlei Pereira, o ciclo de produção ocorre entre 130 e 150 dias. Segundo ele, dados mais atuais apontam rendimento de duas a quatro toneladas por hectare (com casca) - se debulhado, números são 50% menores.  A estimativa é de que sejam plantados até 70 quilos de semente (equivalente a 100 mil pés) por hectare. Ao todo, são cultivadas pelo menos três variedades em Candelária.
O número de agricultores envolvidos na atividade é desconhecido. Sabe-se, no entanto, que a produção comercial é praticamente inexpressiva. Quem se dedica ao plantio de amendoim para obter uma fonte extra de renda também investe em outros produtos, como o melado, para a fabricação de rapadura. Neste caso, o grão é utilizado como matéria-prima. Uma das famílias que tem adotado esta prática é a de Mário Müller, da Linha do Rio. Em entrevista à Folha, ele conta que começou a investir no plantio há cerca de 10 anos, quando a produção das rapaduras expandiu. O hábito de preparar o doce já era antigo. A sogra dele, Holdina Otto, era quem preparava estas delícias para os parentes. “A minha mãe tinha fregueses que pediam as rapaduras e, aos poucos, aumentamos a produção”, conta Roseli, esposa de Mário.
Hoje o casal planta em torno de meio hectare com amendoim e tem um rendimento de 20 sacos (com casca). O plantio é feito no início de agosto. Müller diz que cultiva duas variedades - uma avermelhada e outra mais clara. “O claro é melhor para o consumo porque apresenta maior concentração de óleo. O vermelho é mais seco e não dá muita ‘liga’ para a rapadura”, explica. Esta diferença também é considerada na hora de torrar os grãos. “Tem que torrar separado porque senão um acaba queimando”, adianta Roseli.

PROCURA - As rapaduras produzidas por Müller são vendidas direto ao consumidor e em alguns pontos do varejo. De acordo com ele, a procura é mais evidente no inverno. “Na terça-feira passada (dia 7) vendi 110 rapaduras. A saída é maior nessa época”, diz. Por ano, ele calcula que sejam produzidas até cinco mil rapaduras. “Vendo duas vezes por semana e em alguns lugares, como no Restaurante Lago Azul, a encomenda é sempre grande. Tem gente de outras cidades que encomenda”, acrescenta.

Detalhes garantem o sabor da rapadura
Na família de Müller, a produção das rapaduras é feita de modo artesanal. Os truques para garantir o sabor típico foram repassados de geração para geração. Foi a sogra dele, Holdina Otto, quem repassou as dicas para torrar os grãos, misturar o melado e enrolar as rapaduras. O segredo, conforme ele, é torrar bem o amendoim - por até uns 20 minutos, em média. Depois que o melado ferve, é feita a mistura. As fôrmas são de madeira de cerne de louro, que não deixam gosto. São pequenos pedaços, semelhantes a réguas, que contêm encaixes e dão o formato das rapaduras.  O melado utilizado também é preparado pela família. O amendoim, por vezes, é que precisa ser comprado para atender à demanda.

OPÇÃO - Questionado sobre os motivos de ter optado pelo cultivo do grão, Mário Müller disse que foi a maneira encontrada para melhorar sua qualidade de vida. “Plantei fumo por durante 25 anos e parei faz uns três, mas o rendimento não era bom, tinha muita despesa para pagar”, destaca. Hoje, além do amendoim, cujo plantio é totalmente ecológico, a família também vende verduras para restaurantes, como vagem, pepino, beterraba, além de temperos e batata-doce. “A vida é mais tranquila e saudável hoje”, garante.    

DEBULHADOR - Na avaliação do técnico agrícola e extensionista da Emater, Sanderlei Pereira, um dos principais limitantes para expandir o cultivo é a dificuldade de debulhar o amendoim. Segundo ele, o mercado já oferece tecnologia para facilitar este processo. Trata-se de um debulhador, com motor de  0,5 HP, que descasca até 50 quilos de amendoim por hora. As pessoas interessadas em adquirir o equipamento devem procurar a Emater.