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25/08/2009 16:56
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Feijo, presente no prato de todo brasileiro

O plantio de feijão é típico em municípios que têm a economia impulsionada pela agricultura. Em Candelária, as estimativas mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - 2007), apontam que o grão é cultivado numa área de 1.020 hectares. A produção é calculada em 1.218 toneladas - o equivalente a 1.194 quilos por hectare. Dados atuais, de 2008/2009, fornecidos pela Emater, indicam elevação nos números. Conforme o chefe do escritório local, Eduardo de Souza, a produção da safra ficou em torno de 1.130 hectares e a da safrinha em 150 hectares. Hoje, 28, a série "Riquezas da nossa Terra" descreve as potencialidades do grão cultivado no município.
Na última edição, o leitor conferiu a produtividade da lavoura de amendoim. Foi relatado que o produto é utilizado basicamente para o consumo e que tem o excedente comercializado de forma direta ao consumidor ou então em feiras e supermercados. São poucos os agricultores que se dedicam de forma comercial à atividade. É, portanto, mais um exemplo de diversificação das propriedades e que incrementa a alimentação. Como fonte de renda ainda é uma alternativa pouco explorada, mas que pode expandir, já que a planta requer basicamente de solo arenoso para se desenvolver e boa distribuição de chuvas. Esta última também é condição favorável para o desempenho do feijão. 
Isto porque o grão precisa de umidade especialmente na fase de formação. Em entrevista à Folha, Souza disse que as cultivares tem dois ciclos - o precoce (de até 90 dias) e o médio (cerca de 100 dias) - e que a floração ocorre entre 32 e 40 dias após o plantio. De acordo com ele, as lavouras são preparadas a partir de setembro (safra normal). "A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) recomenda o plantio entre 1º e 10 de setembro e de 11 de novembro a 10 de dezembro para as lavouras da safra no ciclo precoce. Já no médio pode ser feito de 1º a 10 de setembro e de 1º de outubro a 10 de dezembro. O da safrinha deve ser feito de 11 de janeiro a 20 de fevereiro para qualquer tipo de ciclo e de solo", explica. Em Candelária, as principais cultivares plantadas são a Rio Tibagi, Guateian, Macanudo, Minuano e Nobre - todas do tipo preto.
Sobre as condições climáticas Souza destaca que na safrinha, em meados de janeiro, os produtores têm rendimento satisfatório. "Não é um período de frio e neste ano não teve muita seca; o clima ajudou bastante", resume. O que não tem agradado são os preços. A saca de 60 quilos, que já esteve cotada a R$ 150,00 no começo do ano, tem sido comercializada a, no máximo, R$ 80,00. O motivo desta desvalorização é o acréscimo da oferta. "É a lei da oferta e da procura. No momento está sobrando feijão no mercado, por isso que os preços decaem tanto", complementa.

PREFERÊNCIA - Maioria do feijão produzido em Candelária é do tipo preto. As cultivares coloridas, como o marrom ou o branco, estão na preferência dos consumidores de outras regiões, como a Sudeste (São Paulo) e a Norte. De acordo com o produtor Argeu Calheiro, do Arroio Lindo, a tradição de consumo na região Sul sempre foi o preto. Isto se explica também em função do preço. "O feijão marrom está mais caro no mercado e é mais procurado em restaurantes ou estabelecimentos de outros Estados, como São Paulo", diz.
Calheiro é um dos produtores que integra a Asprofal (Associação dos Produtores de Feijão de Arroio Lindo). Ele conta que a produção entregue para o beneficiamento é, basicamente, das variedades Guaco Brilhoso e Valente. Além dele, administram o negócio os agricultores Osvaldo Tavares da Silva, Roque Winter, Fábio Quoos, Elves Machado e Everton Calheiro. A família de Dari Winter (falecido) também fez parte da fundação da Asprofal.

Valor deveria ser sustentado
A queda nos preços é tida como um dos principais entraves da produção no momento. Em Candelária, isto já se reflete na Asprofal, que beneficia o feijão cultivado por dezenas de famílias das localidades do Arroio Lindo, Alto da Légua e Roncador. A associação foi criada no ano 2000 e desde 2007 vem registrando queda no volume comercializado. "Nos últimos dois anos a maioria dos produtores que nos fornecia o feijão parou de plantar. Dos 130 agricultores, só uns 15 ainda entregam a produção", revela Argeu Calheiro, produtor e tesoureiro da Asprofal.
Conforme ele, esta queda se deve à desvalorização do produto. "Os mercados estão comprando de outras cooperativas que tem feijão estocado de outros anos e que entregam o produto a um preço menor. Muitas vezes é um feijão velho e que não cozinha direito", explica. "Nós beneficiamos só o feijão novo e quem conhece a procedência tem comprado solto", revela. Esta, segundo ele, tem sido a alternativa encontrada para superar a crise. "No momento prestamos serviço de processamento, fizemos a separação do produto e vendemos solto para quem não busca no mercado", completa.
Nos primeiros anos da fundação da Asprofal, de acordo com Calheiro, chegavam a ser vendidos até 60 mil quilos do grão, por ano, em Candelária, Vale do Sol e Santa Cruz. "Atualmente não chegamos a vender nem quatro mil quilos por ano", assegura. Na sua avaliação, o preço deveria ser sustentado. "Se o preço se mantivesse baixo com margem de lucro não ficaria tão ruim, mas uma hora sobe e na outra já desce, não tem como cobrir a despesa desse jeito", lamenta. "Nem o mínimo, que é de R$ 92,00 a saca, estão pagando", finaliza.
A Asprofal compra o feijão dos produtores das localidades próximas, faz o beneficiamento (limpeza, separação e embalagem) e revende ao mercado local. No momento, esta venda está comprometida pela queda no valor pago.