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25/08/2009 16:56
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Au, au, au... Au, au, au!

Dia e noite, sem parar, esses latidos.
A que horas esse cão dorme? A que horas esse cão se alimenta? Eu não sei. Talvez altas horas da madrugada, quando está exausto demais de tanto latir.
Qual é a finalidade de um animal que late incessantemente? Cuidar da casa certamente não, pois ele está preso no pátio dos fundos. Os seus latidos fortes e constantes lembram os gritos do pastorzinho de uma história infantil: tantas vezes ele mentiu berrando “Lobo, lobo...” que no dia em que os lobos apareceram, ninguém mais acreditou nele.
Esse cão a que me refiro é um cachorro infeliz e desesperado. Só pode ser isso. Pessoas que têm um mínimo de sensibilidade não deixam um animal preso dia e noite, em corda curta ou num cercado minúsculo infernizando a vizinhança e a vida do próprio cão. Ou os donos estão ausentes ou se tornaram desumanos.
Pode-se fechar as janelas da casa. Pode-se puxar o cobertor sobre as orelhas. Pode-se ligar um aparelho de som em volume normal. Os latidos continuam sendo ouvidos. Então eu me lembro de Castro Alves: (...) “Senhor Deus dos desgraçados... Será mentira ou será verdade, tanto horror perante os céus?”.

Lúcia Hilda Steil
Professora e bibliotecária residente na rua Dr. Middendorf