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25/08/2009 16:56
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Riquezas do nosso futebol - captulo XX - o So Jorge, da cidade

Jorge era o nome de um soldado romano nascido na antiga Capadócia, região do sudeste da Anatólia, hoje República da Turquia.  Residindo na corte do Imperador e vendo a crueldade do império romano contra os cristãos, o imperador Diocleciano tinha planos de matar todos que possuiam a fé cristã e no dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião declarando-se espantado com aquela decisão e afirmou que os ídolos adorados nos templos pagãos eram falsos deuses. Todos ficaram atônitos ao ouvirem estas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande ousadia a fé em Jesus Cristo. Como Jorge mantinha-se fiel ao cristianismo, o imperador passou a realizar torturas contra o soldado. Jorge reafirmava sua fé, tendo seu martírio aos poucos ganhado notoriedade e muitos romanos tomado as dores daquele jovem soldado. Finalmente, Diocleciano não tendo êxito mandou degolá-lo no dia 23 de abril de 303, em Nicomédia. Após a sua morte, os cristãos santificaram o soldado como São Jorge, devido a sua luta em favor do cristianismo e dos mais humildes. No Brasil é o santo padroeiro dos escoteiros e no futebol, do Sport Club Corinthias Paulista.
Em 1981, surgia no antigo posto de gasolina Texaco, de propriedade de Vítor Porto dos Santos, no bairro Rincão Comprido, o Esporte Clube São Jorge. Um dos fundadores da equipe juntamente com Vitor foi João Correa, que na época, era funcionário do posto. “O Vitor teve a ideia de fazer um time com a gurizada que tinha no bairro e então decidimos dar o primeiro passo”, conta João. Sobre o nome São Jorge, ele diz que Vitor era devoto do santo e resolveu eleger este nome para a equipe. Os primeiros jogos foram disputados no Estádio Darcy Martin na categoria juvenil contra uma equipe montada pelo Delegado Morais. Correa recorda que o São Jorge venceu os dois jogos, o primeiro por 4x0 e o segundo por 8x0. Após, Walter Beskow cedeu por empréstimo um espaço ao lado de sua empresa e a equipe passou a ter o seu campo, às margens da RSC 287. Foi então formado o time adulto, que contou com os seguintes jogadores: Jarbas Braga, Pedro Oliveira, Valinho, Telminho, Roni Braga, Mauro Jordam, Chico Vargas, Clóvis Braga, Renato Machado, Daison Machado, Nilvo Machado, Gerson Souza, Ivanez Correa, Pingo, Bira, Levino, Nescafé, entre outros. João Correa era o treinador. A equipe disputou amistosos contra Tiradentes, São João (Cortado), São Cláudio (Cortado), Minuano, União, Camboim, entre outros. “No início, o Camboim era o nosso principal adversário, pois jogava no mesmo campo. Jogar contra eles era um clássico e dividia os torcedores aqui no Rincão”, lembra.   

SANTA CRUZ – O fundador lembra também de um amistoso do São Jorge contra a equipe profissional do Futebol Clube Santa Cruz.  Ele diz que na véspera da partida havia circulado uma informação em Santa Cruz de que os jogadores do São Jorge eram violentos. “Eles ligaram e queriam cancelar a partida. Dei a minha palavra que nada iria acontecer”, destaca. E de fato, o amistoso foi disputado no Estádio Darcy Martin de forma leal. O segundinho empatou em 3x3 com os reservas e juvenis e a equipe principal foi derrotada por 4x2 pelos profissionais do galo.

Após dois vices, a conquista do municipal de 86
João Correa, Jairo Gilberto Karnopp, Gerson Souza, Cláudio Gehres e Danilo Karnopp lembram que a equipe iniciou a sua trajetória em municipais em 1983. Neste ano, João, Gerson e Cláudio recordam de um fato inusitado antes da partida contra o Pinheiro. Havia chovido forte no sábado à noite. No domingo pela manhã, os membros do São Jorge fizeram uma vala e com vassouras, panos e baldes, conseguiram escoar a água do campo e dar condições para a realização da partida à tarde. O jogo terminou empatado em 1x1 e o São Jorge foi eliminado pelo Pinheiro. No segundinho, a equipe chegou na final, mas acabou  derrotada pelo União, do Capão do Valo. Em 1984, o São Jorge chegou à sua primeira final após eliminar o  o Cruzeiro, do Capão do Valo. Na partida de volta, disputada no Juventude,  depois  de um pênalti assinalado em favor do São Jorge, iniciou uma confusão  generalizada. O Cruzeiro se retirou de campo e a equipe do Rincão Comprido avançou para as finais contra o Olarias, que faturou o título ao vencer por 2x1. No segundinho, o São Jorge conquistou o título ao derrotar o Minuano por 1x0, gol de Alberto. A partir deste campeonato, começa a se consolidar uma rivalidade forte entre São Jorge, Minuano e Olarias. “Estes jogos eram os clássicos da cidade e era o principal assunto nas rodas de conversa durante a semana, tamanho era o fanatismo pelo futebol”, conta Cláudio. Em 1985, o São Jorge chegou novamente às finais após eliminar o Botucaraí nas semifinais. Na decisão, a equipe da cidade enfrentou o Minuano. Pelo segundo ano seguido, o verde e branco do Rincão Comprido ficou com o vice ao ser derrotado por 2x0.

VIRADA – Em 1986, o São Jorge reforçou o seu plantel com jogadores de outros municípios. A equipe buscou atletas de Rio Pardo, Pantano Grande, Santa Cruz do Sul e Restinga Seca. Jairo Karnopp salienta que esta equipe ficou marcada por ser o “time da virada” por buscar resultados adversos extremamente difíceis. Nas semifinais, disputadas no Estádio Darcy Martin, a equipe enfrentou o Minuano, algoz no ano anterior. No primeiro jogo, após estar perdendo por 3x1 no primeiro tempo, a equipe do Rincão buscou a virada e a vitória por 4x3. Na segunda partida, o São Jorge confirmou a vaga na final ao vencer a equipe da Vila Fátima por 4x1. Na decisão, disputada em jogo único, mais de duas mil pessoas assistiram no campo do Juventude, a final entre São Jorge x Olarias. No primeiro tempo, o Olarias abriu 2x0. Na etapa final, o alvi-verde do Rincão empatou com dois gols de Roberto. A decisão foi para a prorrogação e Luciano, na época profissional do Avenida, de Santa Cruz, fez o gol da vitória e do título para o São Jorge. A equipe campeã foi formada com Zeiro, Telminho (Gilson), Abacate, Bafú e Bentão (Careca). Jair, Chico Vargas e Roberto. Taxinha, Luciano e Renatinho. Após o título, o São Jorge não disputou os municipais de 87 e 88, voltando em 89, onde acabou eliminado na 1ª fase. Depois,  a equipe precisou devolver o campo a Walter Beskow e por falta de uma praça esportiva foi desativada. Ao analisarem o futebol da época com o futebol atual, os integrantes da equipe do São Jorge, salientam que hoje o futebol é mais organizado, mas que o de antigamente possuía mais vibração. “Naquela época, todos os times eram fortes e as comunidades ajudavam e participavam ativamente, pois o futebol era o único lazer de fim de semana. Hoje, existem muitas facilidades e opções de lazer, que acabaram contribuindo para o desinteresse dos jovens na prática da modalidade”.