Logo Folha de Candelária
18/09/2009 01:54
Por:

Meus tempos de atleta...

Como contei a vocs na semana retrasada, mais exatamente no dia 4 de setembro, ingressei no meio atltico, matriculando-me na academia para voltar a praticar exerccios fsicos, que at ento resumiam-se a buscar um garrafo de gua no outro lado da rua e segurar o fio da mquina de cortar grama para que minha mulher no passasse por cima e causasse um curto-circuito na casa. Agora, duas semanas depois, j estou me sentindo bem melhor e resolvi voltar a escrever, pois incrivelmente meu crebro parece que tambm ficou melhor - ou mais disposto, pelo menos - porque o lado bobagento continua praticamente o mesmo. Na minha poca de colgio, minhas atitudes esportivas no poderiam ser chamadas de exemplares, alis, quem poderia falar sobre isso so meus ex-professores e diretores, mas no sei se eles tm alguma saudade de lembrar daqueles tempos. No tempo que a gente usava sapato com sola de couro ou Conga, eu era o campeo de escorregao nos corredores do Concrdia; ia metros e metros deslizando, at que um dia levei um cachorro da rua para ver ele deslizar no corredor e topei com o diretor Lauro Petry, mas isso outra histria e a sala do diretor no tem nada a ver com esporte. Um pouco mais crescidinho, resolvi me dedicar s corridas. Lembro muito bem de uma corrida emocionante que fiz e bati o recorde dos 70 metros. Isso foi l pelos anos 80. Naquela primavera, o Inter tinha ganhado no sei o que, decerto um daqueles torneios caa-nqueis de que participam, e digo isso porque quem mandou nos anos 80 foi o glorioso Gremio. Por causa disso, meu amigo Celso Lawall, conhecido por Teixeirinha, tinha colocado uma bandeira enorme do Inter na frente da casa dele. A bandeira era enorme mesmo, tinha uns cinco metros de altura por trs de largura e foi amarrada num taquaro mais comprido do que o enterro do Michael Jackson que o Teixeirinha pegou do taquaral do vizinho ao lado, que no me lembro quem era. Bom, o que isso tem a ver com a corrida? Tudo. que aquela bandeira j tava enchendo meu saco quando eu passava por l. A casa do Teixeirinha era no incio da Honrio Porto e dava pra ver a bandeira desde o trevo da Vila Marilene. Ento, para dar emoo na tal corrida, resolvi tascar fogo na coisa, e a adrenalina tinha que estar altssima, por isso resolvi colocar o plano em ao numa noite em que o proprietrio da bandeira estivesse em casa. Para me apoiar na empreitada, convidei meu amigo Lutero Henker. Na poca, o Lutero tinha uma moto Agrale vermelha, a nica da cidade e com o ronco inconfundvel, parecido com as Yamaha, e fcil de identificar porque s tinha CG por aqui. O plano era bsico: ele ficaria com a moto estacionada na Getlio Vargas, em frente ao Sibica, e eu colocaria fogo na bandeira. Assim que ele visse o claro, ligaria a moto e sairamos rumo ao asfalto, daramos uma "conguinha" pela Gaspar Silveira Martins e voltaramos em seguida, nos fazendo de bobos, para ver o que tinha acontecido e, assim, como quem no queria nada, prestar solidariedade ao Teixeirinha. Eis que chega a data da epopeia. Plano na cabea, Teixeirinha dormindo, logstica preparada e l pela meia-noite peguei uma latinha de conserva - a qual enchi de gasolina -, uma caixa de fsforos e fui de carona na moto at a esquina da Getlio. Dali, fui p por p at o local do ataque, mais medroso do que cascudo atravessando o galinheiro. Bom, ensopar a bandeira com gasolina foi fcil, mas fazer pegar fogo que foi terrvel. Sabem aquela sensao de cachorro flagrado matando galinha? Pois eu tambm no. No sou cachorro e no mato galinha. Risquei o primeiro palito, atirei contra a bandeira e... nada. Risquei o segundo palito, atirei contra a bandeira e... nada. Risquei o terceiro palito, atirei contra a bandeira e... nada. Risquei o quarto palito, atirei contra a bandeira e... nada. Risquei o quinto palito, atirei contra a bandeira e... nada. A esta altura, vocs j devem ter notado que eu poderia ter riscado quantos palitos quisesse que vocs continuariam lendo, mas, ento, afinal, por que tanta enrolao? que j t ficando sem ideia e preciso preencher este espao porque no tem anncio pra colocar a embaixo. Foi ento que risquei o sexto palito, atirei contra a bandeira e... vigi Maria. Deu um claro que iluminou o Rinco inteirinho e que quase chamuscou meus cabelos. A corrida foi to grande, mas to grande, que quando cheguei na moto tive que xingar o piloto. - No vai ligar esta porra? Fui to rpido, mas to rpido que o Usain Bolt ficaria com vergonha daquele recordezinho dos 100 metros. Mudamos de plano durante a fuga porque lembramos que o Teixeirinha tinha umas duas armas de caa e um revlver em casa, e que se, por acaso, algum sorriso sarcstico escapasse, a situao poderia tomar contornos trgicos. Tomar uns "sambas" no boteco foi realmente uma tima deciso. O Teixeirinha bem que tentou dar queixa na delegacia, mas foi demovido da ideia pelo pessoal de l, que era todinho do Grmio. Se bem que acho que no fundo ele tinha certeza sobre a autoria da daninheza. E vou encerrar por aqui porque j vou alinhavar as prximas colunas, que ensinam como no se deve temperar coelho antes de ir ao baile e como deixar apodrecer cadaros de tnis na cerca e afofar a pau uma cadela que come sapatos. Realmente, exerccios so timos para o crebro.