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16/10/2009 12:24
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A profIsso que ensina para toda a vida

Do professor de verdade no se esquece com o tempo. Se boa ou ruim, sua imagem sempre fica associada a algum tipo de aprendizado. O que o diferencia dos demais e o torna especial o amor que dedica profisso, a pacincia de ensinar e o interesse em saber se o aluno realmente aprendeu. Este, com certeza, no "despeja" contedo para cumprir um plano de aula. Sua meta consiste em compartilhar o conhecimento e torn-lo acessvel aos estudantes. Por essas e outras que leva o nome de "mestre", pois est sempre pronto a ajudar, trocar ideias e estimular seus aprendizes. Foi assim que uma professora de matemtica cativou o acadmico Charles Bruno Melo, 20 anos, de Candelria. Cursando o terceiro semestre do curso na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Cachoeira, ele lembra a influncia que sua velha educadora teve na escolha da profisso e da rea de conhecimento. "O que me chamava ateno era a praticidade com que ela transmitia os contedos. Tambm sempre tive facilidade de explicar os exerccios para os meus colegas", diz. Isso aconteceu ainda no Ensino Fundamental, na oitava srie. Passados os trs anos do Ensino Mdio, Charles teve a oportunidade de ingressar na rea por meio do Pro Uni (programa do governo federal que permite o acesso gratuito ao Ensino Superior atravs da nota do Enem e da renda familiar, cujo limite de 1,5 salrio por cada pessoa da famlia). A motivao de apostar numa rea que no oferece ganhos significativos se explica, ainda, por seu otimismo. "Acredito que no futuro a rea das exatas - matemtica, qumica e fsica - ter grande falta de profissionais, o que poder resgatar o valor daqueles que esto no mercado", diz. Ele adianta que pretende concluir o Mestrado e lecionar em universidades. "Hoje gosto mais de repassar o contedo para os alunos que j tm o conhecimento construdo e esto mais preparados. No preciso esmiuar as lies", completa. PRTICA - Charles reconhece que no fcil ensinar matemtica, tendo em vista que muitos alunos no tm interesse pela rea. "Tem que colocar um exemplo prtico e ver de que modo o contedo pode ser aplicado no dia-a-dia", considera. Ao facilitar o aprendizado, o professor torna qualquer conhecimento acessvel e desperta a curiosidade do estudante. "Alguns, no entanto, no tm como exemplificar porque no h contextualizao. o caso dos polinmios e da raiz quadrada", afirma. MAIS - Atualmente, ele ministra aulas de reforo escolar na escola estadual Professor Penedo, s quartas-feiras, para alunos de quinta a oitava sries que apresentam dificuldade no aprendizado. Alm disso, presta atendimento particular. Segundo Charles, maioria dos alunos no tem pacincia de estudar. "Alguns do ateno s disciplinas de sua preferncia e esquecem as outras", garante. Misso valorosa Os futuros educadores, como Charles Bruno Melo, valorizam principalmente a misso da profisso. Importam-se mais com a contribuio que daro sociedade do que com o salrio que vo receber no fim do ms. A satisfao de transmitir conhecimento o que igualmente impulsiona a acadmica Aline Ellwanger, 20 anos, do sexto semestre. Ela conta que gostava de ensinar desde criana. "Durante as brincadeiras eu quem gostava de mandar e de explicar as lies para as minhas amigas", ressalta. "Ver que a pessoa aprendeu e que conseguiu a entender muito bom", avalia. No caso de Aline, o interesse pela matemtica surgiu pela exatido dos clculos. "Na stima srie eu j tinha decidido. Comecei a perceber que sempre se chegava a um resultado nico, que nunca era diferente", lembra. "Matemtica para a vida toda. Se exige em qualquer concurso pblico e se utiliza no cotidiano. Porcentagem e juros, por exemplo, sempre so utilizados", conclui. Ela tambm ministra aulas de reforo escolar na escola Penedo. A professora que semeia grandes sonhos A escola Batista Furlan, da Sesmaria do Cerro, a aproximadamente 15 quilmetros da cidade, pequena s no tamanho. A limitao do espao fsico e da estrutura um detalhe quase que insignificante se comparado ao dinamismo que se v em sala de aula. Os 23 alunos no dispem de muitos recursos, mas tm a ferramenta que abre as portas do mundo - a internet. So, at o momento, os nicos estudantes de escolas multisseriadas do interior a usufruir desta tecnologia. O pioneirismo mrito da professora Claudete Bock, 33 anos, que tem superado as dificuldades e revolucionado o ensino. Desde o ano 2000 ela leciona para as turmas de primeira a quarta srie, prepara a alimentao das crianas e cuida da escola. Sozinha, d conta de tudo. Determinada, tem empreendido inmeras aes para melhorar a aprendizagem e a qualidade de vida das crianas. O primeiro passo foi a implantao de uma horta, onde so produzidos os alimentos servidos na merenda escolar. "Tambm temos um minhocrio para a produo de hmus, que garante o desenvolvimento das plantas", acrescenta. O contato com a informtica comeou em meados de 2004, quando a prefeitura doou o primeiro computador. "O equipamento ficou guardado e foi instalado s em 2005. A partir da fiz uma campanha junto aos pais para conseguir recursos e comprar uma impressora. Agora, neste ano, tentamos um acordo com a secretaria de Educao. Se consegussemos mais computadores, o CPM (Crculo de Pais e Mestres) pagaria as despesas para manter a internet. Foi ento que ganhamos outras trs mquinas", explica. Conforme a professora, o CPM ativo e apoia todas as iniciativas desenvolvidas na escola. As crianas igualmente so prestativas. "So alunos que ajudam a cuidar das coisas, a aprendizagem excelente", acrescenta. Ela destaca que o processo de ensino melhorou muito depois do uso da internet. "Eles criam textos e depois digitam no computador, fazem pesquisas e acessam jogos educativos", adianta. Os planos de Claudete no param por a. "Agora eles esto criando e-mails para interagir com os amigos de outras escolas e, em breve, vo poder enviar os textos que fizeram para outros colegas", explica.