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Do limo, a limonada
A iluso o caminho florido que mascara a farsa e d uma aparncia enigmtica mentira. No se pode, quase nunca, revelar a verdade nua e crua porque ela machuca e di. Despida e rstica como se deve expressar a verdade, sem o disfarce ludibriador que abranda o seu impacto, ela fere e magoa. Da o artifcio da iluso como jeito conveniente para atenuar o abalo.
O "animal-homem", de modo geral, sente a imperiosa carncia da iluso para conviver pacificamente com seu mundo de fantasias. Para ele a verdade, que nica, mas que ofende e melindra, deve vir a conta-gotas, antecedida, mesclada e sucedida por termos fantasiosos que a simulam. Prefere um mundo de "faz-de-conta", extrado do cubculo mais remoto do seu imaginrio, a enfrentar a verdade.
A crise, esta mesma crise que j d sinais de arrefecimento, quando anunciada e esmiuada em causas e efeitos, no foi devidamente encarada. Quando foi dito e repetido que uma crise materializa um ponto de inflexo no desenvolvimento da curva simblica das nossas vidas e dos nossos empreendimentos e requer ateno para orientar o desvio no sentido positivo, muitos preferiram o rseo caminho da iluso. Mantiveram-se trilhando o fantasioso trajeto da bonana e da prosperidade, independente dos alertas recomendados. Ao final das contas, o barco haveria de continuar singrando guas serenas. As guas revoltas do mar agitado afetariam somente os barcos alheios.
Fantasia, devaneio, mentira. Quando os efeitos da conjuntura desfavorvel cristalizaram-se no contracheque ou, ainda pior, na ausncia do holerite mensal, a iluso foi pro ralo. A verdade nua ficou crua, difcil de digerir e quase impossvel de assimilar. A tormenta estava aqui, nas guas at ento serenas do nosso Rio Pardo. E agora, o que fazer?
Primeiro, calma, muita calma. No h bem que sempre dure nem mal que no acabe. Depois, reflexo, prudncia no agir e cautela no falar, para no criar falsos juzos. Por ltimo, contrio, olhar para dentro em meticuloso exame de conscincia. Os erros cometidos por humano, no podem jamais ocorrer por asneira. Pela regra, as melancias acomodam-se com o andar da carroa. Haver de brotar no intelecto dos diretamente atingidos a conscincia de que no se vive de iluso. a doce limonada feita do azedo limo.
Quando o sobressalto passar, e ele vai passar, nascero das cinzas indivduos reabilitados, experientes e capazes de entender que prefervel a verdade que machuca do que a iluso que disfara. E assim, calejados, mas reabilitados, estaro aptos a retomar o caminho da verdade e realizar o sonho de prosperidade coletiva, anseio de todos.
Edemar Mainardi - Engenheiro Civil