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06/11/2009 12:17
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Refazendo velhos conceitos

Num primeiro momento posicionei-me contra. Achava, no calor do entusiasmo e impulsionado pela minoria atuante, que o desmonte do Estado era prejudicial. Entendia que as grandes estatais eram mecanismos, no do governo de planto, mas instrumentos de Estado para aplicao de polticas pblicas do interesse da nao. Depois das privatizaes, e refletindo na presena dos resultados, acabei aceitando em parte os princpios que embasam uma economia de mercado. A ferrovia, por exemplo, ao arrepio do que eu propugnava, no era estratgica e, como conseqncia, poderia ser tocada pela iniciativa privada; a Companhia Siderrgica Nacional, outro exemplo, me pareceu no mais ser uma estatal bsica para nosso desenvolvimento. Aps a privatizao, as exportaes de ao aumentaram gerando emprego e renda; a Vale do Rio Doce, cuja desestatizao constituiu-se no maior absurdo mundial (foi entregue aos "amigos do rei" por minguados 3,5 bilhes de dlares sendo que, s as reservas de minrio de ferro at ento prospectadas estavam avaliadas em mais de trinta bilhes de dlares), pois a Vale tambm deixou de ser estratgica na minha reavaliao de conceitos da macro-economia. Diziam os novos detentores do poder e formadores de opinio ps era Collor que o Estado deve ser enxuto e somente preocupar-se com a Educao, a Sade e a Segurana. Como as empresas resultantes do desmonte comearam a mostrar sinais positivos, minhas antigas convices quanto ao tamanho do Estado passaram a sofrer mudanas. O telefone, por exemplo, que antes no se obtinha linha e, quando se conseguia pagava-se coisa de quatro mil dlares, passou a ser instalado em 24 horas e a preo de banana; a ferrovia, que antes no atendia a demanda por absoluta falta de locomotivas, teve sua frota motora renovada (com recursos do BNDES, claro, mas renovou a frota); a energia, mais um exemplo, que por vezes nos deixava sem luz e sem fora por at uma semana, a energia passou a ser abundante, apesar de carssima. Diante dessa nova realidade, no havia como postar-me fiel s antigas convices. Tudo levava a crer que os "neo-liberais" ou defensores da economia de mercado estavam com a razo. Se o Estado no sabe, no deve se intrometer em ferrovia, energia, siderurgia,... Tudo bem, mas e os encargos apregoados como basilares do novo sistema, como esto sendo conduzidos? Vejamos: Educao - est uma vergonha. A qualidade do ensino pblico caiu,a educao administrada pela iniciativa privada hoje um bom ramo de negcio, s perde em lucratividade para os bancos. As provas do ENEM esto sendo vendidas por meio milho. As faculdades despejam aos borbotes, no mercado, bacharis incapacitados, etc, etc...E a Constituio reza que educao dever de Estado e direito do cidado. Ah ? Ela reza isso, cara plida? Francamente... Sade - para saber como est a sade no Brasil basta perguntar ao brasileiro que depende exclusivamente do SUS, aquele brasileiro desprovido de "plano de sade". Seu relato impublicvel. S tm alguma garantia de pleno atendimento os conveniados, os que dispem de plano de sade. O resto o resto. E est l na Carta Magna "A sade direito de todos e dever do Estado". Verdade, eles escreveram isso mesmo na Constituio. Segurana - nunca antes este Pas esteve to inseguro. As casas esto cercadas com grades de ao, protegidas por cerca eltrica e guardadas por ces ferozes. As pessoas de bem no mais podem dispor de arma de fogo para assegurar seu bem patrimonial. A droga campeia solta nas metrpoles, nas cidades e at nos cafunds do Judas. Antes a Polcia ia prender os bandidos num jipe coberto de lona e era respeitada. Hoje o crime organizado fecha avenidas e abate helicpteros com armamento pesado. L no Iraque ou no Afeganisto quando os guerrilheiros derrubam um helicptero dos aliados, cai o General comandante da tropa. Aqui no cai o Secretrio da Segurana, no cai o Chefe de Polcia, no cai ningum. S cai mesmo o helicptero e morrem os hericos policiais. hora de repensar as minhas antigas convices. * Engenheiro Civil